Capítulo 4

4.2K 404 43
                                    

As duas semanas seguintes correram bem. Leona, devido os seus últimos compromissos antes de sua formatura, não podia apresentar-me a cidade.

Para compensar o contratempo da minha chegada à Recife, a minha amiga deu-me um celular antigo, usado apenas como aparelho reserva para emergências eventuais. Mesmo com uma recusa inicial, acabei aceitando.

Falei com ela sobre emprego. Minha companheira de apartamento argumentou que seu dinheiro seria o suficiente para nós. Eu lhe lembrei, no entanto, que em breve ela se formaria em Direito e faria sua pós-graduação na Europa. Já eu, ficaria sozinha, pagando as contas daquele apartamento.

O tempo para mim seria, portanto, crucial. Naquelas duas semanas, porém, não fiz muita coisa. Já estava na hora de começar a agir.

Deveria procurar saber mais como era o tipo de pessoas com as quais queria me envolver. Descobrir quais locais frequentam, o que vestem, como se comportam, qualquer informação relevante.

Era madrugada de um sábado. Passei a noite inteira deitada na cama, com meu novo-velho celular, vasculhando na internet alguma informação útil.

Além dos pontos mais badalados, acabei encontrando alguns eventos relevantes que aconteceriam nas próximas semanas. Um deles era chamado de Aldeia Beats, uma festa anual de música eletrônica.

Procurei comentários sobre essa balada nas redes sociais e acabei encontrando uma quantidade considerável de pessoas confirmando a presença no evento. Na tela de meu telefone, vi praticamente um cardápio vasto de indivíduos bonitos e aparentemente com boa situação econômica. Todos dispostos para mim como pratos num bufê.

Levantei-me e liguei a luz do abajur na mesa de cabeceira. Logo em seguida, tirei de debaixo de meu colchão um caderno de capa dura. Naquelas folhas de papel, estavam recortadas e coladas as notícias de colunas sociais que mais me interessavam.

Obviamente, todo esse conteúdo estava disponível na internet. Colocá-lo naquelas páginas, no entanto, dava-me um senso maior de organização e planejamento.

Sem falar que aquele mundo de glamour parecia mais concreto para mim, daquele jeito, como se um dia pudesse estar ao alcance de minhas mãos.

Com o celular, conferia as colagens e anotações feitas por mim naquele caderno, comparando tudo com as pessoas marcadas na festa. Parei ao encontrar um indivíduo bem interessante que também havia confirmado a presença no evento. Tratava-se apenas do filho mais velho de Fernão Alencar, o governador do estado.

Sorri para mim mesma. Sim, poderia ser uma aposta alta demais, um devaneio de uma moça caipira, inexperiente e sonhadora, deslumbrada com a cidade grande.

Durante toda a minha vida, contudo, nunca tive medo de jogar com o impossível, com o inalcançável. Não havia o que perder, pois eu já era uma perdedora. Afinal, nasci com nada. Talvez, precisasse apenas tentar.

Abri o perfil do belo filho do governador no celular. Como ele era figura pública, não tinha nenhuma informação oculta. Vi muitas fotos de festas, participações em alguns eventos políticos com a família. Também encontrei detalhes mais pessoais.

Ele tinha vinte e quatro anos e cursava administração na mesma universidade pública que Leona. Tal coincidência não era tão surpreendente, pois uma instituição de alto nível como aquela geralmente era frequentada por pessoas com boa formação proporcionada por colégios caros.

Escrevi as informações adicionais no meu caderninho, na página separada da família Alencar. Bem no início dessa parte, tinha uma foto com todos eles.

Um marido, uma esposa, um rapaz e uma moça caçula. Dei um meio-sorriso, encarando aquelas quatro pessoas. Por enquanto, eram apenas uma aposta. Talvez, o destino os transformasse em meus alvos.

CobiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora