O desfile de cavalheirismo de Henrique não havia terminado com aquele vestido vermelho. No banheiro do quarto onde eu ficaria hospedada, ele preparou-me uma banheira com água morna e espuma abundante.
Deixou-me sozinha, dizendo que iria arrumar-se em outro quarto, a fim de não atrapalhar a minha privacidade.
A banheira estava embutida no piso do banheiro, estando elevada apenas por um degrau. Meu corpo estava imerso na água. Somente a cabeça estava do lado de fora. Com a nuca recostada em uma toalha dobrada, eu olhava para o janelão do meu lado que ia do solado até o teto.
Meus olhos perdiam-se naquele horizonte distante, com os vales e morros sempre verdes, porém naquele instante amarelados pelo pôr-do-sol.
A noite já chegava. Lentamente, levantei-me. Pisei sobre o tapete aderente e felpudo, deixando parte da água e da espuma escorrer por minhas curvas. Andei mais um pouco, rumando para o outro lado do banheiro. Abri a porta de vidro e adentrei o box da ducha. Poucos segundos depois, a água forte tirava de mim os excessos do banho de banheira.
Enrolei-me num maravilhoso roupão de banho e rumei para o closet. O cheiro de minha pele incensava todo o cômodo. Sobre o pufe no meio do piso, meu vestido vermelho.
Já enxuta, tomei-o em mão. Ergui os braços para cima, e a veste de tecido finíssimo deslizou por minhas formas. Para aquela noite mais do que especial, aquela seria a única peça sobre o meu corpo.
A parte superior sustentava-se por uma alça que envolvia meu pescoço por trás e descia até meus seios. A alça seguia pelo resto da roupa, formando uma frente única de costas nuas. O vestido prosseguia até acabar na altura de meus joelhos.
O vermelho profundo acendia-se ainda mais sobre a minha pele de leite. Com a ajuda do secador, sequei o cabelo, amassando as pontas. Para arrematar o meu visual, calcei um salto preto tamanho cinco.
Posicionei-me na frente do espelho. Mal podia acreditar no que estava vendo. Aquela garotinha do interior, acostumada a usar roupa da feira, vestindo alta-costura como uma verdadeira dama. E o melhor de tudo era que todo aquele visual havia ficado absolutamente natural em mim. Havia nascido para aquilo.
Enquanto me dirigia para a porta, controlava-me para não saltitar de empolgação. Ainda sozinha, andei pelo corredor do primeiro andar, dirigindo-me às escadas.
Chegando ao primeiro, percebi que apenas os abajures da sala de estar estavam ligados. Olhei para os lados, e vi uma luz fraca vinda da sala de jantar. Fui até lá, descobrindo que a iluminação provinha das velas acesas nos dois castiçais solitários sobre a mesa de madeira de lei. A chama amarela ressaltava ainda mais os tons amadeirados de todo o cômodo.
Dispostos ao longo da mesa, pratos belíssimos e bem elaborados. Do outro lado, ele me esperava. Calça jeans preta. Camisa de botão branca devidamente socada, com as mangas dobradas até os cotovelos. E o sorriso mais lindo que já me dera. Aproximei-me.
Olhamo-nos. Cada um a admirar a beleza do outro ressaltada pela meia-luz. Quase a sussurrar, Henrique avisava-me que havia dispensado o caseiro e a sua mulher, a cozinheira, como eu mesma tinha pedido. Teríamos, portanto, a casa toda só para nós.
Sorri-lhe. Beijei-lhe. Terno, demorado. Depois, intenso. Quase não jantávamos, tamanha era a vontade de realizar o que adiamos tanto tempo. A fome, porém, fez-se presente. Ademais, estávamos só reservando energia. Preparávamos para grande noite que já se anunciava nos céus.
***
Após a refeição, rumamos para a sala de estar. Lá, tomamos um pouco de vinho tinto. Enquanto apreciávamos a bebida, começamos a nos beijar. Ele sentado na poltrona da sala de estar, eu sobre seu colo. Como das outras vezes, aquilo que começara com carícias transformava-se rapidamente numa esfregação intensa e libidinosa.
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Cobiça
Misterio / SuspensoUma vilã como protagonista. Jovem, bonita e de origem humilde, Pilar é a típica garota do interior que almeja tentar a vida na capital. Debaixo dessa máscara de moça sonhadora, porém, esconde-se uma psicopata totalmente desprovida de moral ou culpa...