Rumávamos para um bairro afastado da Região Metropolitana. Aldeia era uma região bastante arbórea e agradável. Por estar bem acima do nível do mar, contava com o vento constante vindo do Atlântico.
Por toda aquela região, vi apenas muros altos, cobertos com vegetação, portões bem guardados e muitas árvores. E o local parecia mais misterioso ainda à noite.
O táxi passou pelo último condomínio, e nos afastávamos de vez dos últimos resquícios de civilização. Seguimos por uma estrada de barro até chegar a um campo aberto e grande o suficiente para construir mais cinco propriedades.
Logo após Leona ter pagado ao taxista, descemos. No meio daquele quase deserto, havia três grandes tendas de circo. E muita gente. Após passarmos pela bilheteria, entramos em um desses locais.
Mais animada do que eu, a minha companheira desvairada arrastou-me para o centro da pista de dança. Enquanto atravessávamos a multidão, sentimos corpos roçarem aos nossos. Homens, mulheres, todos.
Já ao meio, acompanhamos os demais. Uma de frente para a outra, dançando como se não houvesse amanhã.
Só me desconcentrei da dança quando ouvi minha amiga me chamar ao pé do ouvido. Leona avisava-me que iria olhar algo logo ali, com um rapaz que havia acabado de conhecer. Compreendi a situação e não fiquei chateada por ter ficado só. Ao contrário; para o que eu queria fazer, era necessário ficar sozinha.
Sem minha loira-tempestade, resolvi vagar pelas demais tendas eletrônicas. Percebi olhares desejosos em minha direção. O filho de um dono de uma rede de supermercados, a filha do proprietário de uma transportadora de alimentos, um casal de filhos do senhor de uma rede famosa de concessionárias de carro do estado. Todos em frenesi, agarrando-se, beijando uns aos outros enquanto me viam, a única bela sozinha da festa.
Procurei ignorá-los, apesar de conhecer a posição social de uma boa parte deles. Ademais, eles estavam todos agarrando-se loucamente, dificilmente ouviriam sequer duas palavras minhas. E era tão-somente do que eu necessitava para atingir meu objetivo naquela noite. Um pouco de atenção. Se me dessem a chance, não escapariam.
Voltei para o local onde Leona havia me deixado. Minha ronda inicial foi concluída. Em breve, prosseguiria com minha caçada. Continuei a dançar de olhos fechados. Senti alguém encostar-se às minhas costas, tentando esfregar-se em mim.
Imediatamente, virei-me. Não era recato. Longe disso. Queria constatar apenas se aquele rosto teria a permissão financeira para me tocar.
Tinha por volta de um metro e noventa. Os cabelos loiro-escuro curtos estavam disformes e desordenados, num corte moderno. Um rosto mais largo, com maxilar marcado. Nariz adunco. Olhos cor de mel apertados, como de um tigre. Pele bronzeada a envolver um corpo forte, tão rígido que parecia ser de plástico. E, como muitos da festa, estava sem camisa.
Sorriu para mim. Dentes brancos e charmosos à altura dos meus olhos. Ainda, pelo que tinha visto em minhas pesquisas, o rapaz tinha vinte e quatro anos.
Encostou suas mãos na minha cintura. Logo em seguida, aproximou seus lábios ao meu e falou o nome que eu já conhecia muito bem:
– Olá, meu nome é Henrique. Como você se chama?
Desci os meus, sorrindo pela timidez. A primeira aproximação de um rapaz sempre me acanhava. Encarei-o novamente, com a mesma expressão envergonhada.
Pessoas como Henrique e Leona costumam frequentar locais onde encontram indivíduos do mesmo círculo restrito. Logo, não é difícil em festas como aquela ver sempre as mesmas pessoas; a não ser quando há turistas. Esse era um mal de viver nesse clube exclusivo no qual tão poucos brasileiros conseguem ter acesso.
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Cobiça
Mystery / ThrillerUma vilã como protagonista. Jovem, bonita e de origem humilde, Pilar é a típica garota do interior que almeja tentar a vida na capital. Debaixo dessa máscara de moça sonhadora, porém, esconde-se uma psicopata totalmente desprovida de moral ou culpa...