Capítulo 49

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Ao longe, podia ouvir ainda a orquestra tocando. Também pude escutar o burburinho constante, as fofocas, as risadas, a celebração de uma vida boa e próspera.

Meus pés velozes me faziam passear pelo tapete aderido ao piso de granito. Os passos apressados faziam minha roupa farfalhar, misturando-se ao som lá fora.

Todos os meus sentidos estavam ao máximo, fazendo-me perceber tudo ao meu redor. Estava em alertar total, pois havia deixado uma mulher enfartando no banheiro do escritório de Fernão. Caminhava para uma das escadarias da sala de estar, pois estava na hora de dar a minha cartada final naquela história.

Enquanto caminhava, olhei no meu celular. Na tela, vi duas notificações. A primeira era uma mensagem de Henrique, enviada para mim cinco minutos atrás. O texto do rapaz dizia-me:

"Onde você está? Cecília me ligou, mas eu não atendi. Depois, ela mandou mensagem dizendo que minha mãe queria falar comigo no banheiro do escritório de Fernão. Ciça disse que tem a ver com o velho. Será que elas descobriram alguma coisa?".

Parei no meio da sala, engolindo em seco antes de ler o resto da mensagem.

"Eu respondi e enrolei a minha irmã. Disse que tinha ido de carona até a casa de nossa amiga Maria Fernanda. Fica no outro lado da cidade. Pedi pra ela vir me buscar de carro. Vai demorar pra ela ir até lá e voltar. Já estou te esperando no local combinado".

Ao terminar de ler o recado do loiro, pude respirar um pouco mais aliviada, e continuei a caminhar. Em seguida, verifiquei a segunda notificação. Era uma mensagem de Fernão, enviada há três minutos. Avisava-me que em pouco tempo subiria para a suíte dele.

Meu coração disparou. Finalmente, o confronto.

Cheguei ao pé da escadaria. Lá, deparei-me com um segurança. O homem alto e forte colocou-se na minha frente, questionando para onde eu ia.

– Você é o Leandro, não é? – indaguei – Eu vou ter que subir, porque o governador tá me chamando.

– Qual o seu nome?

– Íris.

Sem mais nada falar, o homem olhou para os lados, e depois fez um sinal para que eu continuasse pela escadaria. Prossegui, galgando degrau por degrau daquela minha trajetória.

Rapidamente, alcancei a porta do quarto de meu ex-sogro e amante. Antes de entrar, olhei para os lados, ainda não havia sinal de mais ninguém.

Ergui a minha mão, tocando a maçaneta fria. Inspirei profunda e vagarosamente, preparando-me. Girei a maçaneta. Entrei.

As lâmpadas do quarto estavam desligadas. A iluminação a incidir naquele cômodo provinha das luzes da festa nos jardins dos fundos, atravessando as portas de vidro da varanda, fazendo o jogo de luz e sombra que eu conhecia tão bem.

Acostumada à pouca claridade, movimentei-me livremente. Após fazer os últimos preparativos para o pré-clímax da minha vida, sentei-me numa poltrona de courino bem de quina à enorme cama de casal. Cruzei as pernas. No meio daquele breu, eu apenas aguardava.

Ouvi passos. Fechei os olhos. Concentrava-me para deixar a tristeza voltar à minha face. Quando descerrei as pálpebras, percebi um vulto inconfundível no quarto.

Sem falar nada, aproximou-se, posicionando-se na minha frente. Levantei-me. Mesmo imersa na meia-luz, abaixei os olhos, pois não queria encarar sua face. Num sussurro fraco e tímido, confessei:

– Por favor, não faz mais isso, não me ignora como você fez nesses últimos dias. Eu tenho medo de perder você...

Mesmo sem ver seu rosto, podia sentir a impaciência em sua voz, enquanto Fernão dizia:

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