Capítulo 32

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Dez da noite. Estávamos em seu carro, parados à portaria do meu prédio. Não nos falávamos, nem nos beijávamos. Apenas o olhar. O dele, radiante. O meu, algo receoso.

Eternamente gentil, Fernão alisou meu rosto, e questionou se havia algo de errado comigo. Dei-lhe ligeiro risinho para aliviar-lhe. Ele, porém, já sabia o que eu pensava. Adiantando-se, o meu sogro declarou:

– Você não deve se sentir culpada por se livrar de um homem tão canalha quanto Henrique. Você é uma princesa, não merece um sapo.

– Talvez você tenha razão – concordei, com o olhar baixo. – Mas tem tanta coisa em jogo. Acho que devemos ir com calma. – Suspirei, apertando os lábios. – Sem falar que estamos praticamente presos. Eu não quero botar você em risco. Qualquer um no meu prédio pode te reconhecer. Tem também Henrique, se ele resolver vir atrás de mim na minha casa. Não sei se isso está muito certo...

Ele segurou firme a minha face para puxar meus olhos aos seus. Aproximou o seu rosto. Aquela voz macia e profunda voltou a deslizar em sua boca, chegando aos meus ouvidos com as palavras:

– Não se preocupe, mocinha. Eu não sou mais nenhum menino pra sair por aí atropelando tudo. Eu juro a você que nunca faria nada pra te prejudicar. – Segurou uma de minhas mãos entre as suas. – Primeiro, você vai se afastar de Henrique...

– Mas ele é muito ciumento, é muito violento. Ele pode me seguir, pode vir aqui em minha casa e encontrar a gente.

– Já disse que não se preocupe. Eu resolvo tudo pra você. – Olhou para o lado, como se tivesse se lembrado de algo. Logo em seguida, voltou-se para mim e falou: – Quer viajar comigo?

Verdadeiramente, não esperava por aquilo. Primeiro, arregalei os olhos, logo em seguida, dei um sorriso.

– Sim, eu quero. Pra onde?

– Bem, eu tenho que fazer uma viagem pra convenção do partido na próxima semana. A gente antes pode ir pra outro lugar, uma praia mais reservada, onde eu posso cuidar de você e te proteger e Henrique.

Continuei sorrindo, mal acreditando que aquilo poderia acontecer comigo. Concordei. Satisfeito, Fernão prosseguiu:

– Então arrume as malas que venho te buscar sexta à noite. Eu já tinha comentado lá em casa que viajaria semana que vem, só não especifiquei o dia. Logo, posso ir mais cedo pra aproveitamos um tempo juntos.

– Mas... e Henrique?

– Ele tem telefonado pra você, entrado em contato? – Balancei a cabeça, respondendo que não. – Viu? Aquele menino passou os últimos dias no quarto, bebendo sem querer ver ninguém. Imaginei que ele não queria ver você. Tem algo de muito estranho com ele, mas aquele irresponsável nunca deixou que eu me aproximasse dele. Já desisti daquele garoto.

Fernão aproximou seus lábios dos meus. Nossas bocas estavam na iminência de se tocarem. Ele parou a milímetros de distância e falou:

– Você devia fazer a mesma coisa. Desista dele, pois você fica muito melhor comigo.

Fechei os olhos, entregando-me à proximidade de nossas bocas. Mais uma vez, beijamo-nos. Ele segurava a minha cabeça por trás. Já eu entrelaçava seu pescoço com meus braços. Não sei quanto tempo passamos assim. Só sei que, para ele, nunca parecia ser o suficiente.

Procurei afastar-me um pouco. Ainda de rostos próximos, admiramos um ao outro. Ele alisou minha face. Apesar de nos desejarmos muito, era hora de nos separarmos. Dei-lhe boa noite, preparando-me para descer do veículo.

Quando abri a porta, a luz do carro acendeu-se rapidamente. Com o canto do olho, pude ver claramente a sua excitação sob o tecido da calça de alfaiataria. Mesmo que não fosse paixão, sabia que Fernão ao menos tinha interesse sexual em mim.

Fechei a porta da entrada do edifício atrás de mim, ouvindo seu carro dar a partida. Já no elevador, olhei para o meu aparelho celular. Na área de notificações do aparelho, vi três chamadas perdidas de Henrique.Ri comigo mesma daquela coincidência e coloquei o celular na bolsinha de mão. Meu riso, no entanto, desfez-se ao sentir uma nova vibração do dispositivo. Era uma mensagem. Cliquei na notificação e li o conteúdo, que tinha escrito:

"Acabei de ver você saindo de um carro. E eu sei que era do meu pai. Estou aqui embaixo. É melhor você me deixar subir".

Dizia a mensagem de Henrique.

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