Dentro daquele elevador, eu era completa expectativa. Por toda a minha vida, desejei ardentemente por conquistar tudo o que eu estava prestes a pôr as minhas mãos. Naquele momento, eu iria me tornar os meus sonhos.
Estava sozinha naquela caixa fechada de metal, e agradecia por tal fato. Dessa maneira, ninguém poderia ver o sorriso enorme que nascia em meu rosto. Era uma felicidade tão grande que nem parecia caber em meu rosto, transbordando por toda a minha pele, eriçando a finíssima camada de pelos claros em meus braços.
O elevador descia para o térreo, onde se encontrava o escritório da gerência do hotel. No visor digital, os números decresciam um a um. Era uma contagem regressiva para a virada de minha vida.
Ouvi o "plim" indicando-me que eu chegava ao meu destino. Sim, o destino que tracei com força de vontade e inteligência. Coloquei o primeiro pé para fora, depois o outro.
Desse modo, caminhei decidida pelo corredor do térreo. Meus passos, porém, não eram pesados. Na verdade, flutuava, como se estivesse sendo levada por um sopro daquela primavera.
Reto, fui na direção da porta da sala onde Fernão esperava-me com os seus advogados. Nas mãos do governador, um acordo que iria me sustentar pelo resto de minha vida em algum país da Europa.
Um atendente na entrada do escritório abriu as portas duplas para mim, avisando-me que Fernão chegariam em poucos minutos. Entrei no cômodo.
Bem ao centro, havia uma mesa com seis cadeiras confortáveis dispostas ao redor. Lá, ainda não havia ninguém. Sentei-me em uma das cadeiras, colocando a minha bolsa do lado dos meus pés.
Logo em seguida, olhei para trás. Sorri ao vislumbrar uma parede feita inteira de vidro escurecido a dar diretamente para o mar. Para minha surpresa, uma cortina começou a deslizar automaticamente, bloqueando a minha visão do oceano.
Quando aquele tecido grosso e negro terminou de correr pela parede, a sala imergiu-se numa total penumbra.
Chegando à sala, uma voz revelava-me quem era o homem que havia acabado de escurecer aquele local. A fala grave e macia emitiu:
- Boa tarde, minha menina.
Aquele som inconfundível absorveu totalmente a minha atenção. Era Fernão, vindo de uma outra porta na lateral da sala. Terno fechado, calça reta e camisa de botão, tudo negro e feito sob medida.
Seu rosto permanecia tão belo como sempre. Altivo. Imponente. Poderoso. Em nada lembrava aquele homem que, por ter perdido o próprio filho em uma suposta briga familiar, estava arrastando a face da tristeza para imprensa.
Sentou-se do outro lado da mesa, para poder encarar-me bem de frente. Finalmente acomodado, meu ex-amante cravou seus olhos de um azul tão claro que, naquele momento, àquela escuridão, chegava a ser agressivo. Ao perceber o meu estado de alerta, Fernão sorriu e questionou:
- Está com medo, meu amor? Por que uma virgem santa e imaculada como você teria razão pra ficar com medo?
Fernão pegou um tablet que trazia consigo e colocou-o de pé com o suporte da capa protetora, virando o dispositivo para mim. Na tela do aparelho, iniciava-se um vídeo qualquer.
Primeiro, vi uma cadeira encostada numa parede branca. Percebi que a câmera deu algumas tremidas, com pequenos barulhos. Pelo visto, alguém estava acertando o dispositivo de filmagem em um tripé. Logo em seguida, vi a cintura de um homem passar em primeiro plano. Esse indivíduo afastou-se, sentando-se na cadeira. Finalmente, aquela figura filmada se revelava.
Era Henrique.
- Estou filmando esse vídeo pra servir de testemunho - começou a falar o rapaz. - Eu não sei o que pode acontecer comigo, então preciso me prevenir. - Deu um meio sorriso. - E, se tudo der certo, a essa altura já vou estar bem longe daqui, aproveitando a vida com o dinheiro e as propriedades que consegui tirar do idiota do Fernão.
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Cobiça
Mystery / ThrillerUma vilã como protagonista. Jovem, bonita e de origem humilde, Pilar é a típica garota do interior que almeja tentar a vida na capital. Debaixo dessa máscara de moça sonhadora, porém, esconde-se uma psicopata totalmente desprovida de moral ou culpa...