Capítulo 6

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Henrique telefonou para mim ainda no mesmo domingo. Procurou saber como estava minha indisposição. Falei que estava melhor. Um breve silêncio. Ele acabou por questionar se eu queria repetir o encontro.

A demora em exprimir tal indagação, provavelmente, seria porque o rapaz esperava que eu fizesse primeiro tal proposta. Criança tola.

Ainda assim, no entanto, ele parecia estar bastante empolgado para a diversão. Numa conversa curta, praticamente me intimou a ir a um sítio dos pais dele, argumentando:

– Vai ser um sábado bastante agradável. Vamos ficar na piscina, o espaço é grande, vai ser muito confortável. Aquele lugar é muito bom, renova a gente.

"Deve ter ensaiado bastante esses argumentos", imaginei, pois as suas palavras durante a nossa conversa ao telefone não tinham nenhuma alusão a sexo diretamente.

Talvez, ele deva ter percebido a garota tímida e resguardada que eu era e resolveu usar uma estratégia mais sutil, como se me convidasse para um bate papo numa tarde de sábado. Demonstrando empolgação, concordei:

– Então tá bom... acho que vou gostar. Afinal, a gente tem que continuar a nossa conversa de onde parou.

Henrique deu uma risada baixinha. Ainda curtindo uma piada que só ele entendia, falou-me:

– Ótimo! Foi um prazer negociar com você, minha gata – despediu-se e desligou.

Negociar?

Se aquele loiro não fosse tão atento só ao próprio pênis, jurava que ele poderia ter captado algo mais em minhas intenções. Balancei a cabeça para os lados, tentando desanuviar aquela impressão.

Ademais, um herdeiro rico como ele já deveria estar acostumado a investidas de moças ambiciosas. Cabia apenas a mim provar-lhe o quão valorosa e desprendida dos bens materiais sou.

Caso houvesse uma suspeita assim, só os meus talentos poderiam reverter a situação. E eu conseguiria. Sempre.

***

Passei outra semana de espera, já havia desistido de procurar meu emprego imaginário, dizendo a Leona que planejava fazer um curso qualquer para incrementar o meu currículo.

A minha amiga sugeriu-me uma faculdade, respondi-lhe dizendo que procurava emprego justamente para manter meus estudos e minhas necessidades. A minha formação, porém, era a da vida. Curso superior nenhum formaria alguém com meus talentos.

O dia de sair com Henrique aproximava-se. Minha loira de estimação alertou-me algumas vezes sobre o comportamento imprevisível do filho do governador. Por mais que eu aparentasse ser independente e madura, Leona parecia ainda me ver como a moça inexperiente do interior. Alguém capaz de se apaixonar por um rapaz bonito e rico que só me ofereceu um passeio no sítio dos pais para conseguir me levar para a cama.

Não me importava que ela me visse assim. Ainda, eu preferia que Henrique me visse exatamente desse modo; inocente, tapada, bem acessível. Sou a minha própria isca, contudo também sou a minha armadilha.

Finalmente, o dia do bote chegou. Leona havia ido viajar com mais um namorado de final de semana, enquanto eu rumava com Henrique para outro município fora da Região Metropolitana. Adentramos a rodovia federal, e meu companheiro acelerava.

Durante a viagem, o dono do carro retomou a conversa de cunho sedutor. Começou a falar, colocando uma de suas mãos em minha coxa:

– Aquele sábado passado não deveria ter acabado. Pelo menos não daquele jeito.

Resolvi embarcar no seu jogo. Dar-lhe corda e saber até onde planejava chegar.

– E como você acha que terminou aquela noite? – questionei, com um sorriso tímido.

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