Henrique telefonou para mim ainda no mesmo domingo. Procurou saber como estava minha indisposição. Falei que estava melhor. Um breve silêncio. Ele acabou por questionar se eu queria repetir o encontro.
A demora em exprimir tal indagação, provavelmente, seria porque o rapaz esperava que eu fizesse primeiro tal proposta. Criança tola.
Ainda assim, no entanto, ele parecia estar bastante empolgado para a diversão. Numa conversa curta, praticamente me intimou a ir a um sítio dos pais dele, argumentando:
– Vai ser um sábado bastante agradável. Vamos ficar na piscina, o espaço é grande, vai ser muito confortável. Aquele lugar é muito bom, renova a gente.
"Deve ter ensaiado bastante esses argumentos", imaginei, pois as suas palavras durante a nossa conversa ao telefone não tinham nenhuma alusão a sexo diretamente.
Talvez, ele deva ter percebido a garota tímida e resguardada que eu era e resolveu usar uma estratégia mais sutil, como se me convidasse para um bate papo numa tarde de sábado. Demonstrando empolgação, concordei:
– Então tá bom... acho que vou gostar. Afinal, a gente tem que continuar a nossa conversa de onde parou.
Henrique deu uma risada baixinha. Ainda curtindo uma piada que só ele entendia, falou-me:
– Ótimo! Foi um prazer negociar com você, minha gata – despediu-se e desligou.
Negociar?
Se aquele loiro não fosse tão atento só ao próprio pênis, jurava que ele poderia ter captado algo mais em minhas intenções. Balancei a cabeça para os lados, tentando desanuviar aquela impressão.
Ademais, um herdeiro rico como ele já deveria estar acostumado a investidas de moças ambiciosas. Cabia apenas a mim provar-lhe o quão valorosa e desprendida dos bens materiais sou.
Caso houvesse uma suspeita assim, só os meus talentos poderiam reverter a situação. E eu conseguiria. Sempre.
***
Passei outra semana de espera, já havia desistido de procurar meu emprego imaginário, dizendo a Leona que planejava fazer um curso qualquer para incrementar o meu currículo.
A minha amiga sugeriu-me uma faculdade, respondi-lhe dizendo que procurava emprego justamente para manter meus estudos e minhas necessidades. A minha formação, porém, era a da vida. Curso superior nenhum formaria alguém com meus talentos.
O dia de sair com Henrique aproximava-se. Minha loira de estimação alertou-me algumas vezes sobre o comportamento imprevisível do filho do governador. Por mais que eu aparentasse ser independente e madura, Leona parecia ainda me ver como a moça inexperiente do interior. Alguém capaz de se apaixonar por um rapaz bonito e rico que só me ofereceu um passeio no sítio dos pais para conseguir me levar para a cama.
Não me importava que ela me visse assim. Ainda, eu preferia que Henrique me visse exatamente desse modo; inocente, tapada, bem acessível. Sou a minha própria isca, contudo também sou a minha armadilha.
Finalmente, o dia do bote chegou. Leona havia ido viajar com mais um namorado de final de semana, enquanto eu rumava com Henrique para outro município fora da Região Metropolitana. Adentramos a rodovia federal, e meu companheiro acelerava.
Durante a viagem, o dono do carro retomou a conversa de cunho sedutor. Começou a falar, colocando uma de suas mãos em minha coxa:
– Aquele sábado passado não deveria ter acabado. Pelo menos não daquele jeito.
Resolvi embarcar no seu jogo. Dar-lhe corda e saber até onde planejava chegar.
– E como você acha que terminou aquela noite? – questionei, com um sorriso tímido.
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Cobiça
Mystery / ThrillerUma vilã como protagonista. Jovem, bonita e de origem humilde, Pilar é a típica garota do interior que almeja tentar a vida na capital. Debaixo dessa máscara de moça sonhadora, porém, esconde-se uma psicopata totalmente desprovida de moral ou culpa...