Capítulo 26

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Os olhos vermelhos encaravam-me fixamente. Não sabia se aquela vermelhidão era de raiva ou pela bebedeira. No seu rosto, contudo, não havia sinal de ira. Parado na entrada da sala de estar daquele iate, Henrique via seu pai e sua namorada tendo um momento inapropriadamente íntimo.

Tão surpreendente quanto havia sido a sua chegada, porém, foi a sua partida. Sem manifestar nenhuma reação, Henrique nos deu as costas e voltou para a cozinha. Abaixei a cabeça, tensa, pensando em como poderia contornar aquelas circunstâncias.

Apesar de ser ótima no improviso, não havia como enganar meu namorado. Mesmo com toda a bebedeira do mundo, estava claro para qualquer um que meu sogro e eu estávamos mais próximos do que nosso tipo de relação deveria permitir.

Levantei-me, pedindo licença a Fernão, e fui atrás de Henrique. Talvez querendo nos dar o espaço necessário, meu sogro não se levantou do sofá.

Quando cheguei à cozinha, Henrique estava com a porta do armário aberta. Dessa vez, ele pegou uma garrafa fechada do uísque do pai. Pensei em dissuadi-lo da ideia, pois não sabia se ele conseguiria guardar nossos segredos com tanto álcool na cabeça. Resolvi, contudo, apenas observá-lo. Ser precipitada e agir por impulso não estava entre os meus defeitos.

Em matéria de bebedeira, aquele rapaz realmente não me decepcionava. Não sei como ele aguentou, porém começou a beber o uísque diretamente da garrafa. Dessa vez, obviamente, ele não conseguiu entornar o conteúdo inteiro, contudo já havia bebido uma boa parte.

Ainda sem se voltar para mim, ele saiu da cozinha, voltando para a parte de trás do iate.

Caminhava cambaleante, e o balanço do mar piorava tudo. Fui atrás dele. Quando estávamos do lado de fora e bem longe do pai dele, aproximei-me de meu namorado. Toquei-lhe as costas para lhe chamar a atenção.

Henrique agarrou o meu pescoço. Em um bote, com apenas uma mão. Mal tive como reagir, pois não esperava que alguém tão bêbado conseguisse se mover tão rápido.

O rosto do rapaz já voltava à sua raiva habitual. Levei minhas duas mãos à mão dele, porém meus dedos finos não conseguiram vencer o seu punho forte. Bruto, puxou minha face para perto da dele, forçando-me a ficar na ponta dos pés.

Henrique arreganhou os dentes, com a saliva escorrendo pela boca, enquanto grunhia baixo para mim:

– Porque você tava tão perto do meu pai?

– Não acredito que você tá com ciúmes. Eu só...

Não consegui falar mais nada, pois ele apertava com mais força o meu pescoço.

– Eu vou contar tudo! – Ameaçou Henrique. – Vou dizer que você me drogou e fez um cara abusar de mim.

Já começava a perder o ar. Ainda feroz, o meu agressor continuava com suas ameaças:

– Vou dizer que você tá me chantageando, e que agora tá se oferecendo pra ele pra poder pegar o dinheiro daquele idiota...

De modo certeiro, chutei a lateral da rótula de um dos joelhos de Henrique. Queria ter lhe acertado os testículos, contudo não consegui ângulo favorável. Felizmente, meu golpe foi o suficiente para desestabilizar aquele rapaz alcoolizado.

Após ter me soltado, ele cambaleou para trás, quase caindo. Já eu tossia, recuperando o ar.

Um puxão de cabelo. Mal havia recuperado o fôlego e aquele bêbado já me tinha em suas mãos, novamente. Henrique havia enfiado seus dedos na minha nuca, segurando-me pelos cabelos da parte de trás da cabeça.

Com mais raiva do que antes, o rapaz voltou o seu rosto para mim. Não gemi, não demonstrei a dor que, com certeza, eu estava sentindo. Ainda com a garganta afetada por seu estrangulamento, despejei com certa dificuldade na voz:

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