Capítulo 24

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O sol de agosto erguia-se com poucas nuvens nos céus, enquanto os ventos fortes afastavam as chuvas do fim de inverno. Dentro do carro de Henrique, eu estava com a janela aberta para observar melhor a beleza daquele domingo de manhã.

Finalmente, chegamos à avenida que dava acesso ao antigo Cais José Estelita. Era uma linha reta rente ao oceano. De um lado, condomínios novos em folha. Do outro lado, apenas o mar azul e calmo. As ondulações formadas em sua superfície faziam cintilar os raios do sol nascente, como um chão de estrelas.

Mais à frente, ainda no oceano, via-se a uns duzentos metros de distância uma faixa estreita e comprida a cercar quase todo o litoral. Eram os onipresentes arrecifes da cidade.

Ao término da avenida, chegamos ao Clube de Iates do Cabanga. À entrada do local, Henrique forneceu o seu nome. O guarda conferira o cadastro na tela de seu tablet. Após nossa entrada ser aprovada, seguimos até o estacionamento.

Descemos, finalmente, do veículo. O cheiro do oceano era onipresente. Nos meus pés, simpáticas sandálias de palha revestida de couro branco. Vestia roupas leves e claras, como camiseta e shorts. Para arrematar meu visual, óculos escuros de lentes gigantes estilo megera rica.

Passamos por diversos barcos ancorados. Henrique estava mudo e emburrado, como antes do início das nossas aventuras à três. Ele andou reto, sem me chamar. Resolvi segui-lo. Passando por uma prancha de madeira, entramos num iate. Ao ouvir o barulho de nossos passos, o dono do iate subiu ao convés.

Fernão estava inteiramente vestido de branco. Uma bermuda larga e uma camiseta sem estampa, porém justa o suficiente para exibir seu porte atlético. Toda aquela composição dava-lhe um ar jovem bastante natural. Com pés descalços, caminhou até nós. Segurou minha mão, beijando-a. Com o seu mais belo sorriso, ele me falava:

– Que bom você ter vindo.

Após ter agradecido o convite, envolvi a cintura de Henrique com um braço. Meu namorado permanecia quieto. Com o canto dos olhos, procurei identificar a expressão em seu rosto. Eu estava em dúvida se a raiva daquele loiro bronzeado era dirigia ao pai ou a mim.

Antes de virar-se totalmente, Fernão saudou o filho com um oi ligeiro. Henrique o retribuíra da mesma forma. No rosto daquele belo rapaz, não identifiquei raiva, nem tristeza, muito menos alegria. Apenas uma misteriosa confusão de emoções.

***

Corpo belo deitado em luxo esplêndido. Aquela era a frase a me definir naquela manhã dominical de sol. O iate partiu às oito. Fernão contornou a longa faixa de arrecifes para nos levar ao alto-mar.

Já eu, estava na área de trás da embarcação, a popa. Encontrava-me estirada num confortável sofá, com o estofado preso ao próprio material do iate. Estava protegida por um toldo branco de lona sobre mim.

Em meu corpo, um maiô negro de frente única, que cobria meus seios, virilha e nádegas, deixando completamente de fora as minhas costas.

Ouvi passos. Ainda deitada de barriga para cima, virei apenas a minha cabeça para verificar quem chegava. Era Henrique, trazendo em mãos nossas bebidas que eu havia pedido. Naquele momento, ele usava apenas seu sungão de listras horizontais largas, alternando as cores cinza e branco.

Meu namorado sentou-se ao meu lado. Já eu, acomodei-me em suas coxas. Tomei meu drinque em mão. Era uma caipirinha nevada. Já ele, preferira sua vodca pura. Tomei o primeiro gole daquela bebida. Quem visse aquela cena poderia até crer que éramos jovens apaixonados.

O iate parou. Pelo visto, Fernão havia encontrado um ponto do mar propício para ancorar. Ergui a cabeça. Podíamos ver boa parte do litoral de toda a Região Metropolitana. Cores e formas do horizonte urbano fundiam-se, brilhando pelos raios do sol.

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