Capítulo 35

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Quase novo amanhecer. Eu estava sentada em minha cama, com o olhar caído para o aparelho celular em minhas mãos. Os primeiros raios de sol já se anunciavam por entre os prédios do bairro da Boa Vista.

Aos meus pés, uma mala com alguns pertences essenciais para aquele final de semana. De acordo com as instruções de Fernão, procurei levar roupas leves.

Breve, chegaria a hora de me levantar. E lá estava eu, parada, a considerar os prós e os contras do que eu estava prestes a fazer. Não refletia sobre a viagem propriamente dita, pois esta era uma decisão bastante acertada. Na verdade, aquele era um dos raros momentos que eu tentava bancar a advinha, tentando prever para onde rolariam os dados de minha aposta.

Por mais empenho e sorte que eu houvesse tido na minha história com Henrique, com Fernão seria diferente. Alguém com tanto dinheiro e poder não se renderia a uma mera chantagem. Precisava realmente de algo concreto antes de ensaiar uma jogada mais ousada.

O meu celular tocou. Era o meu sogro, esperando-me para a viagem que poderia mudar as nossas vidas.

***

Naquela manhã, Fernão estava de motorista. Provavelmente, o governador deveria pagar um bom salário ao trabalhador para garantir a lealdade e silêncio daquele homem.

Saímos das ilhas do Recife para adentrarmos parte da rodovia interestadual. De acordo com meu sogro, era caminho mais rápido para chegarmos ao nosso destino. Muitos minutos depois, o carro adentrou um edifício-garagem.

Após subirmos diversos níveis, o motorista estacionou num dos últimos. Ainda sorrindo, Fernão saiu do carro e foi ao porta-malas pegar nossas coisas.

Até então, eu estava um pouco retraída e alerta com todo aquele mistério sobre o destino de nossa viagem. Meu humor, no entanto, tornava-se mais espontâneo na medida em que a surpresa se tornava mais concreta.

Andamos pelo amplo estacionamento, até chegarmos numa plataforma de concreto onde muitos veículos estacionavam com a intenção de desembarcar passageiros. Atravessamos essa passagem até chegarmos a um pátio vasto coberto de piso polido de granito.

Passando pela porta-dupla automática de vidro, vislumbrei aquilo que mais parecia um shopping. Era amplo, com muitas lojas, e um vão de metros de largura a interligar os quatro níveis. Diferentemente de um centro comercial qualquer, no entanto, havia muitas pessoas, com os mais variados tipos de rostos e etnias, carregando as mesmas coisas que tínhamos em mãos; bagagens.

Sorri para meu sogro ao perceber onde estávamos. Aeroporto Internacional dos Guararapes. Ainda impressionada com a surpresa, questionei se iríamos pegar um avião. Com uma expressão de quem estava a adorar minha súbita alegria, ele respondeu que não.

Seguimos, portanto, até uma área de embarque especial. Lá, dois homens fardados nos saudaram. Em seguida, o governador guiou-nos por outra porta-dupla automática. À nossa frente, revelou-se a grande pista de pouso.

Lá, o vento agitou meus cabelos. Dois carregadores trataram de pegar nossas bagagens. Levavam-nas para nosso meio de transporte.

Prosseguimos, Fernão e eu, pela pista de pouso. Meus pés, que na minha infância correram por estradas de barro molhado no subúrbio de Garanhuns, àquele momento galgavam degraus para algo muito melhor. Embarcávamos em jatinho particular. Eu alçaria voo para uma vida de prosperidade até então impossível.

***

A viagem podia até ter se demorado um pouco, contudo para mim foi bem curta. Aliás, o excesso de luxo é pouco para mim. Preciso sempre de mais. Por esse motivo, tive a impressão de que o passeio não havia se estendido o suficiente.

Olhando da janelinha do jatinho particular, vi somente o oceano sobre nós. Tempos depois, um ou outro pedaço de área verde. Por fim, o piloto avisou-nos que pousaríamos. Sinal de que não fomos para muito longe.

Nos minutos seguintes, estávamos em terra firme, desembarcando num aeroporto rodeado por árvores e ar marinho sem igual. Quando questionei onde estávamos, Fernão abriu ligeiramente os braços e respondeu:

– Íris, seja bem-vinda ao arquipélago de Fernando de Noronha.

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