Capítulo 23

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Eu parecia ter finalmente descoberto uma maneira de quebrar a casca do ódio de Henrique. Obviamente, ele estava longe de me suportar, porém já começava a articular palavras além dos grunhidos.

Nas duas semanas seguintes, saímos mais algumas vezes com garotas de programa. Como não poderia deixar de ser, meu namorado era quem bancava tudo, pois o meu investimento financeiro naquela minha trajetória já havia passado das minhas possibilidades.

A história passou a se repetir. Via o rapaz transar com uma garota de programa com brutalidade enquanto ele me encarava com raiva. Eu sempre tinha que tomar a iniciativa de beija-lo enquanto ele metia nas prostitutas.

Na quarta vez, entretanto, foi Henrique que se inclinou para beijar-me. Percebi, então, que o meu namorado começava a genuinamente gostar daquilo, parando de agredir as moças.

Dessa forma, nossos encontros à três deixaram de ser uma forma simbólica dele me punir, e tornaram-se a fonte habitual de prazer daquele homem.

Evoluímos, arrumando outras moças que não eram acompanhantes. Eu procurava em salas de bate papo, aplicativos de paquera. Escolhia a dedo e levava para meu loiro de estimação, e nos comportávamos como vampiros que levavam a caça para o nosso covil. Pelo visto, havia domado aquele rapaz até mesmo nas preferências sexuais.

Passamos, portanto, a sair para bares, boates e casas de suingue. À mesa, procurávamos a moça que parecia mais disposta a participar de nossos joguinhos. Achei até mesmo curioso quando Henrique começou a opinar nas minhas escolhas.

Passamos também a comentar o pós-sexo, classificando as performances das convidadas. Começamos até mesmo a rir juntos. Éramos cúmplices naquilo que os outros abriam a boca para chamar de perversidade. Pelo visto, estava na hora de passar para a próxima fase dos meus planos.

***

O clima voltou a esquentar entre Henrique e eu quando propus um novo programa. Comentei que meu sogro havia nos convidado para passear em seu iate. De modo firme, quase grosseiro, meu namorado se opôs à ideia.

Estávamos num restaurante discutindo esse assunto. Enquanto ele negava o convite, puxei o meu celular e balancei a sua frente, enquanto falava:

– Vídeo.

De súbito, Henrique deu um murro forte na mesa. Todos no restaurante olharam na nossa direção. Até mesmo os garçons detiveram-se, com as bandejas em mão. O meu namorado de chantagem permaneceu com o pulso cerrado sobre a mesa, com a face vermelha e bufando.

– Pode ser no próximo domingo pela manhã? – perguntei.

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