Capítulo 18

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Cantando pneu, o carro de Henrique lançou-se no asfalto. Ele dirigia veloz, com ira. Acelerava, ultrapassando a quilometragem permitida naquelas vias. Cortava os carros, passava direto pelo sinal vermelho. Não se preocupava com as multas, com seu veículo, sequer com sua segurança.

Pisava fundo no acelerador. Pude perceber que suas mãos estavam embranquecidas, tamanha era a força com a qual o rapaz segurava o volante. De dentes trincados, não falava uma palavra, enquanto os vasos de seu pescoço latejavam de ira.

Com habilidade, o rapaz fugiu do trânsito pesado do centro, avançando pelas avenidas como um raio. Em pouco tempo, já nos afastávamos completamente do centro da cidade. Com uma girada no volante, pegou um caminho para a rodovia.

Prossegui calada, pois de nada adiantaria questioná-lo naquele estado. Provavelmente, só ouviria grunhidos pouco compreensíveis de ódio. Com o canto do olho, observava-o. Cada pisada no freio ou acelerador, cada virada de volante era feita de forma bruta.

Desci o olhar, vendo o volume em seu baixo ventre. Obviamente, não era seu pênis excitado. Era uma pistola de verdade, armada para vingar a total humilhação a qual eu o submetera.

Olhei para os lados. Os últimos registros de civilização já desapareciam, e o sol começava a se aproximar da linha do horizonte. Não era muito difícil descobrir o que Henrique cogitava fazer comigo.

Tentei abrir a boca para falar algo, percebi a minha garganta seca. Engolindo um pouco de saliva, pigarreei e perguntei:

– Pra onde você vai me levar?

Nada. Nenhuma resposta. Ele apenas apertou com mais força o volante em suas mãos e acelerou. Na janela ao meu lado, vi as árvores, gramas e arbustos da rodovia tornar-se disformes, tamanha era a velocidade do veículo.

Minhas mãos estavam grudadas no banco, e eu apertava o assento. Virei minha cabeça para encará-lo. Aquele homem apenas olhava reto para a estrada, com face vermelha de profunda ira.

Inspirei fundo e despejei:

– Vai mesmo me matar? Você não quer saber o que aconteceu com você? Não quer saber porque tá doendo tanto ficar sentado?

Um freio.

Os pneus gritaram, arrastando-se pelo asfalto. Senti de imediato o cheiro de borracha queimada subir. Meu corpo foi jogado para a frente. O cinto de segurava conseguiu me segurar, contudo machucou-me bastante.

Quando o carro terminou de frear no acostamento, Henrique levantou sua camisa. Iria pegar a arma.

– Eu filmei tudo – falei, rapidamente.

Eu arfava, ainda ser ar pela pressão exercida pelo cinto de segurança em meu tórax. Henrique deteve-se com a mão sobre a arma. Sua face, naquele instante, era um misto de raiva e surpresa. Aproveitando aquela brecha, continuei:

– Se você me matar, todo mundo vai ver o vídeo do que aconteceu.

Henrique arregalou os olhos. Mostrando os dentes como um cão, o meu sequestrador questionou:

– Como assim, sua doida?

Inspirei fundo, tomando fôlego.

– Isso mesmo que você ouviu. Eu filmei tudo e salvei na internet.

Um tapa. Rápido. Sua mão pesada rodou o ar e chocou-se contra meu rosto. Por um instante, não havia compreendido o ocorrido, apesar de minha face queimar como fogo.

Nos segundos seguintes, a tontura deu lugar apenas à dor. Quando consegui abrir os olhos, vi o cano da arma apontado para o meu rosto.

– Sai do carro! – berrou o rapaz, com dentes expostos e a saliva caindo pela boca.

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