Capítulo 1- Lizzy brinca de esconde esconde

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                      Acordo bruscamente, com a respiração ofegante. Me sento na cama, puxando a coberta, para mais perto de mim. O estado de choque, de ter sido bruscamente assassinado, sem conseguir controlar o sonho ainda me deixava completamente desesperado. Eu sou o que as pessoas costumam chamar de Orionalta, o que significa que posso controlar meus sonhos a meu Bel prazer. Obviamente, só posso fazer isso caso descubra que aquilo se trata realmente de um sonho... Mas eu havia descoberto desta vez! Não fazia sentido algum ficar preso no sonho! E que diabos era aquele índio?

                      Me levanto da cama devagar, deixando a coberta cair sobre o chão, enquanto me espreguiçava. O que quer que aquele sonho significasse, não poderia tentar descobrir nada sobre ele agora. Eu tinha prova de física naquele mesmo dia, então não podia gastar meu precioso tempo de estudar para fazer uma pesquisa sem sentido na internet que não daria em nada... Sempre que eu procurava algo sobre sonhos, a pesquisa se resumia a ganhar na loteria e um demônio que te perturbava.

                       Acabei de perceber, que mesmo depois de tanto tempo lhes contando minha história, acabei esquecendo de falar um pouco sobre mim... Mas não se preocupe, não há nada demais para se saber. Me chamo Jonathan Eperua Carvalho, sou um adolescente absolutamente anormal, viciado em misticismo e esoterismo. Isso me torna de longe, uma das pessoas mais esquisitas da sala, não que isso importe muito. Ser o temido da sala, por ser "o bruxo", não é algo que as pessoas gostem de usar para se gabar por aí.

                         Meus amigos me chamam de Nate (todos os três!), o melhor apelido que um brasileiro poderia ter... A propósito, Nate se pronuncia Neite, não Náte, como muita gente costuma dizer, ao ler meu nome em algum lugar. Enfim, como sou uma pessoa incomum, nada melhor do que um apelido incomum para mim.

                            Ao me levantar, para me trocar, sinto um frio percorrer minha espinha, me fazendo olhar em volta loucamente. Depois de um sonho doido daqueles, a ultima coisa que eu queria era virar e dar de cara com aquele índio estuprador telecinético. Olho para meu quarto, analisando cada detalhe do local. As paredes brancas, as máscaras indígenas e símbolos esotéricos de proteção espalhados pelo quarto... Tão eu.

                               A sensação de que havia algo estranho passou tão rápido quanto o frio que percorreu minha espinha, me fazendo dar de ombros. O que quer que estivesse me seguindo, havia desistido e me deixado em paz, talvez se tocando que eu não tinha absolutamente nada de legal e que me matar era perda de tempo (Ouviu isso Samara? Seus sete dias comigo seriam desperdício de efeito especial, não venha)

                                                                                            §

                              O segundo sinal toca, dando início a segunda aula do dia, logo após a tão temida prova de física. Eu estava em minha carteira, cobrindo os olhos com as mãos, respirando fundo e tremendo lentamente. A prova era bem mais difícil do que eu esperava, o que me fez ter quase certeza de que eu iria mal nela. Havia feito a prova praticamente de olhos fechados, temendo a consequência de ter estudado muito pouco para ela. Agora estava roendo as unhas muito nervoso.

                            Olhava freneticamente a minha volta, depois de tirar as mãos do rosto, a semelhança com a cena de meu sonho quase me fez levantar e sair correndo. Cada um estava disposto em seu lugar, exatamente como deveria, enquanto o professor deixava a sala com as provas em mãos, dando lugar ao Pastor, o professor que daria a próxima aula.

                              Ao vê-lo passar pela porta, com a exata roupa que havia visto em meu sonho, bato o joelho bruscamente contra minha carteira, nervoso. O ato acaba por derrubar meu estojo, junto com tudo que estava dentro dele, se espalhando pelo chão da sala. Coloco a mão trêmula sobre a testa, com uma expressão doentia no rosto. Olho em volta, mas ninguém ousou de aproximar de mim para me ajudar... Talvez fosse pelo boato de que eu estava envolvido em bruxaria, que havia se espalhado pela escola.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora