Capítulo 19- Tem uma cobra na minha bota!

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            Mais uma vez, o desgaste, graças ao uso de meus poderes, me lançou para o fundo do meu sub consciente. Assim como da ultima vez, acordei sem me lembrar de como havia chego lá, embora dessa vez, tivesse algumas ideais do que poderia ser. Tudo graças as minhas memórias incríveis sobre o Andurá! Sabia que não poderiam ter me jogado para fora depois do julgamento.

              Dou alguns passos, tentando identificar o cenário a minha volta. Estava de frente para um precipício, no meio do nada. Montanhas de areia e terra lá embaixo me acaravam, como se me desafiassem a pular. Recuo alguns passos, colocando a mão sobre a testa, enjoado. Aquela altura toda estava me dando vertigem.

               Me viro para o outro, lado, caminhando lentamente enquanto respirava fundo. Sabia que tinha alguma coisa importante para ver naquele lugar. Meus sonhos nunca eram completamente inúteis, me mostravam coisas importantes sobre o passado ( como o caso do J, ou Ceuci), presente (Como as lutas de Nin) e futuro (Como o professor Ricardo tentando me matar).

                    —Juruzinho, tem como mostrar isso logo, tio? Estou a fim de acordar— digo para o nada, demonstrando impaciência— Sabe, não quero acordar com 60 anos de idade, sabendo que perdi quase toda a minha vida com sonhos...

                      Como que em resposta, tropecei em algo. Talvez em uma maldita pedra. Aquele lugar era tão cheio delas, que era quase impossível não esbarrar em algo. Então, apenas dou de ombros... Possivelmente, era algo irrelevante... Se bem que nenhum detalhe de meus sonhos era irrelevante.

                  Nervoso, olho para o lugar em que havia tropeçado. Havia uma pequena fenda no chão... Uma fenda que revelava um pouco de claridade. Aquilo não podia ser uma coincidência! Talvez algo estivesse ocorrendo do outro lado da fenda, eu precisava observar com muito cuidado... Embora estivesse com medo do que pudesse ver, caso olhasse para o buraco.

                    Sinto o chão tremer aos meus pés, como se me alertasse de algo. O que quer que estivesse outro lado da fenda, estava causando aquela alteração no chão. Era quase como um convite sedutor, uma piada de Jurupari: "Venha ver o presentinho que eu tenho para você!" Embora não costuma ser do tipo que recusava presentes, aquele me parecia de muito mal grado.

                       Me abaixo, me ajoelhando sobre a terra, enquanto apoiava minhas mãos no chão. Uma ultima vez, tomo coragem para me abaixar e olhar para a fenda, com os dentes cerrados e cenho franzido. Eu tinha de enfrentar meus medos de frente, sem bancar o covarde. É então que me aproximo bruscamente da fenda, olhando para dentro.

                           O que vejo dentro do buraco me deixa perplexo. Se o inferno existia mesmo, era muito parecido com aquilo. Havia fogo por toda parte, só de estar próximo da fenda, podia sentir o bafo quente do fogo, que lambia todo o interior da montanha... Mas esse nem era o pior. O pior era algo que me assombraria pelo resto de minha vida.

                          Dormindo sobre o fogo, estava a maior serpente que já havia visto em toda minha vida. Ela estava enrolada sobre o fogo, dormindo, como se ele não a afetasse. Suas escamas variavam do verde para o laranja e vermelho em instantes, ela fazia um barulho estranho, mesmo dormindo, algo como raspar algo de metal em uma pedra. Um som metálico e terrível.

                       Fecho os olhos imediatamente, com medo de me tornar pedra ao olhar para aquela criatura... Já que a associação óbvia que havia feito, era com o basilisco. Um enorme réptil, que conseguia te matar apenas com o olhar... Não queria ter de encarar um basilisco! Mas algo naquela afirmação não parecia correto.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora