Capítulo 16- Desmaio mais que o Jason Grace

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                   Acordo sobressaltado. Estava deitado novamente naquele mesmo quarto. Ainda vestia aquela ridícula roupa indígena, que me faz corar imediatamente. O que meu sonho quis dizer com confiar nos carvalhos? Como poderia confiar em árvores? Aquilo era extremamente ridículo. A cada dia, tinha mais certeza de que estava ficando completamente louco.

                 Tento me levantar, cambaleando um pouco, enquanto olhava para o lado, esfregando os olhos. Ao lado de minha cama, estava uma escrivaninha esquisita e extremamente rústica. Em cima dela, estava uma vasilha de madeira, com uma gosma verde repousando dentro da mesma. Olho para aquele negócio, torcendo o nariz.

                Aproximo meu rosto do recipiente, tentando cheirar o conteúdo. Quase vomito. Era a coisa mais fedorenta que já havia visto em minha vida. Era quase como ovo podre, dentro de umas meias fedidas de meu pai... Não aguentaria nem cinco minutos inalando aquela porcaria! Era assim que acordavam as pessoas que desmaiavam? Forçando-as a cheirar aquela coisa?

                Minhas mãos se voltam para meu rosto. Provavelmente estava repleta daquelas pinturas tribais ridículas, queria limpar aquela porcaria logo é zarpar daquela árvore, antes que descobrissem que eu era descendente de João Eperua. Tortura seria muito pouco para o que eles fariam comigo caso descobrissem.

                Afasto minhas mãos do rosto, com uma terrível ânsia de vomito. Eca! Tinham passado aquela gosma com cheiro de estrume na minha cara! Agora eu estava com a cara cheia de cocô verde! Era assim que eles tratavam os doentes? Ou apenas as pessoas que desmaiam lutando contra os semideuses? São tantas dúvidas...

                 —Argh— digo, esfregando meu rosto com força, tentando retirar cada resquício daquela porcaria de minha cara.—Como se já não bastasse essa roupa ridícula... Agora assim? Passaram dos limites!

                  Ando de um lado para outro na sala, pensando no que poderia fazer para fugir do Andurá levando meus amigos, sem ser morto pelos semideuses... Mas todas as minhas ideias se resumiam a queimar o Andurá... Que meio que era a prova de fogo. Não conseguia pensar em nada, o que era irritante, sempre fui tão criativo... Talvez o enigma de meus sonhos estivesse interferindo no meu raciocínio.

                  É então que a porta se abre bruscamente, me fazendo recuar, caindo na cama novamente. Atrás da porta estava uma mulher de aproximadamente uns 70 anos. Sua pele parda era marcada por rugas, principalmente em seu rosto, que provavelmente foram ocasionadas não só pela idade, mas também por seus sorrisos. A mulher tinha ares de quem havia sido muito bonita alguns anos atrás. Seus olhos eram cor de mel, que contrastavam com o cabelo branco ligeiramente enrolado. A mulher era extremamente magra, como se idade tivesse sugado todo resquício de vida... Por excessão de seus olhos, brilhantes, sábios e tranquilizantes. Ao contrário dos outros semideuses, ela vestia uma túnica negra, decorada com algumas penas, segurando um cajado semelhante ao de meu sonho com Ceuci. Ela era uma Xamã.

                   —Ora, acalme-se, meu jovem— diz a senhora, se aproximando de mim com um sorriso jovial no rosto. Ela batia em um canto da cama como delicadeza de uma avó, como se pedisse para que eu me sentasse mais perto dela— Aproxime-se.

                     Lentamente, me arrasto até o local indicado, com certa desconfiança no olhar. Depois de ser maltratado nos sonhos e de ter descoberto sobre meu parentesco, sabia que não era seguro confiar em nenhum deles. Embora eu soubesse que não tinha forças para usar o truque da areia novamente... Talvez pudesse dar uma dentada na mão da velha e correr para longe.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora