Capítulo 42- Jurema

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                Acordo completamente desnorteado. Não sabia onde estava e o que estava fazendo naquele lugar... A ultima coisa que me lembrava, era de Kaléo. Ele me abraçava na cintura, enquanto voávamos em um pégaso... Não poderia ter sido levado até aqui.

                  Pisco algumas vezes, tentando reconhecer o local. Eu já havia estado naquele lugar antes. O teto e as paredes eram de madeira, assim como no Andurá, mas eu sabia que não estava no Andurá. O lugar tinha um clima diferente, pesado... Era como saber a diferença de sonho e pesadelo.

                   —Jonathan Eperua— diz uma voz masculina e adolescente, marcada pela oscilação de grave e fino— Estava esperando por sua chegada... Precisava conversar com você, estamos a ponto de tomar uma decisão muito importante e precisava de sua ajuda para decidir.

                   Me levanto, olhando para o dono da voz. Ele aparentava ter uns 14 anos, pela pose mais malandra, porém, ele era baixinho, muito baixinho. Seus cabelos e olhos eram negros. Sua pele, ao invés de apenas parda, parecia bronzeada... Talvez fosse a versão de palidez parda dele... Seus olhos eram marcados por olheiras fundas, assim como os meus. Eu não fazia a menor ideia de quem ele era.

                         —Me desculpe, se isso é ofensivo— disse, olhando para o garoto. Cruzo os braços, olhando para baixo para disfarçar a vergonha— Mas eu te conheço? Eu não me lembro de você não. Sério, eu me lembraria de conhecer um semideus da Jurema.

                        O garoto sorri, como se estivesse esperando por aquela pergunta. Ele anda até uma mesa de madeira, que estava na sala, se sentando sobre ela. Ele boceja algumas vezes, tranquilo. Não esperava que semideuses perversos fossem tão tranquilos... Pensei que teria medo deles.

                            —Me conhecer? Oh não— diz o garoto— Mas eu te conheço... Digamos que temos o mesmo sangue. Sou filho de Jurupari, o ultimo e único semideus existente de Jurupari. Nós dois somos os únicos descendentes de seus dons... Então sabia que seria atraído até mim em algum momento.

                              —Você é descendente de Jurupari?— pergunto, sentindo algo murchar em mim... Já não me sentia tão único, quanto havia me sentido antes—Se você é o semideus, quer dizer que você é mais forte e mais sábio do que eu... O que você poderia querer comigo?

                            —Oh, que bobeira é essa que está dizendo?— pergunta o garoto— Se tenho mais poderes e os controlo sem muitos desgastes? Claro. Se sou mais forte? Depende. Eu posso possuir dons que você nem sonha em ter... Mas eu não controlo meu destino. Ele foi escrito pelos deuses desde o meu nascimento. Qualquer escolha feita por mim me levará até a minha morte, pelas mãos de Jurupari.

                            Pisco algumas vezes. Confuso. Não estava entendendo muito bem o que o garoto queria dizer.

                            —Como você sabe isso? E se sabe que qualquer escolha te leva até a morte, por que quer me pedir um conselho?— pergunto.

                              —Você não está prestando atenção?— pergunta o garoto— Você altera o seu destino, pela sua ligação. Se meu destino estiver ligado ao seu, o meu destino poderá ser alterado também... Eu sei disso porque posso sonhar com o futuro, um dom muito raro e que só oferece probabilidades, não um futuro certo, não como as profecias de Elizabeth...

                              —O que você precisa saber?— pergunto, o cortando—O que pode ser tão decisivo a ponto de precisar mudar todo o futuro para não morrer? Tem a ver com Jurupari? O que ele quer de você?

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora