Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore Flamejante

Capítulo 28- Kaléo

                    Olho para o garoto, sem saber o que dizer. Eu havia pensado que os curumins brancos eram caçados... Que a essa altura, estavam todos mortos. Mas Kaléo era a prova viva de que eu estava errado. Talvez houvessem alguns... E se estavam dispostos a fazer um acordo conosco... Talvez a luta contra o Boitatá não fosse tão difícil.

—Outro Kara'iwa surgiu

O mundo não está como antigamente

Cadê o povo que sumiu?

                                                                Onde se meteu aquela gente?—Recita Tilico, dando alguns pulinhos ao ver Kaléo— Olha, nós não mandamos naqueles lá não... Não que eu não tenha tentado ser o líder, mas acho que não estão preparados para a minha grande ascensão.

                      —Hum... Me desculpe pela falta de educação dele. Eu sou Jonathan, mas pode me chamar de Nate, sou curumim de Jurupari, esse é Tilico, filho de Picê— disse, encarando o curumim... Nunca gostei de falar com as pessoas, mas precisava ao menos agradecer Kaléo por salvar nossas vidas—Muito obrigado, por nos ajudar com aquele traficante... Podemos conversar enquanto procuramos pelos outros?

                        —Ei! Não se desculpe por mim, mortal— disse Tilico, fazendo bico e olhando para mim— Eu sou um semideus! Estou a cima de vocês, não me desculpo com alguém com o grau de visão tão pobre a respeito de nosso universo.

                      —Ah sim— disse Kaléo, tomando a frente e ignorando as palavras de Tilico— Eu sei quem vocês são. Meu chefe e eu viemos observando vocês desde que chegaram a estação de teletransporte. Uma dica, não anunciem que estão prestes a ir contra deuses importantes em uma estação pública... Chega fácil nos ouvidos dos deuses.

                     Sinto meu rosto corar imediatamente. Tilico não parecia envergonhado, só deu de ombros. Sério, eu não entendendo esse garoto maluco! Por que diabos a Ceci enviou essa coisa para nos seguir pelo mundo? Até a Ana, grávida, tinha mais utilidade.

                    —É... An— tento dizer, andando pela favela, frazindo o cenho. Sabia, que para não sofrer abuso, em qualquer lugar, era importante parecer poderoso e destemido... Depois é só deixar que sua aparência e a imaginação das pessoas façam o seu trabalho. —Você sabe dizer onde nossos amigos estão? Já que estavam nos rastreando?

                   —Uhum— disse Kaléo, tirando uma folha de papel do bolso. Kaléo amassa a folha, até que se torne uma pequena bolinha de papel. Ele a joga para cima, então ela começa a flutuar—Polo é o mensageiro dos deuses, então, eu consigo mandar mensagens de vários modos que vocês nem imaginam... Mas usando o ar gasta pouca energia.

                    Em pouco tempo, a bolinha começa a voar, descendo pela favela e parando bem longe de onde estávamos. Não demoramos muito para seguir a bolinha e encontrar nossos amigos, enquanto Kaléo limpava o seu nariz, que possuía um fino filete de sangue.

                    Nossos amigos olham para mim e para Tilico com indiferença, como se nem tivéssemos saído de perto deles. Isso me causa certa irritação. Como eles podiam esquecer da gente? Bando de ingratos! Tilico olha para eles com a mesma indiferença que usaram para nos ignorar, mas no fundo, estava aliviado por não ter de ficar preso tanto tempo em um lugar cheio de desconhecidos.

                 —UUUUI— disse Caimana, finalmente notando Kaléo, que estava ao meu lado. Caimana puxa ainda mais a sua saia, deixando seu sutiã ainda mais visível— Quem é esse? Huum, até que é bonitinho para um Kara'iwa, não vai nos apresentar para seu amigo, Tilico?