Capítulo 4- Lizzy pega latinhas com um palito

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                              Passei toda a madrugada acordado. Após ser praticamente molestado por alguma coisa, cheguei a conclusão de que não deveria abaixar a minha guarda tão cedo. O que quer que fosse aquilo, não havia parado por não ter forças para completar o ato, mas pelo simples fato de que não queria fazer aquilo aquela hora... Mas deixou claro que se eu me intrometesse de novo, aquilo o faria.

                              Levanto quando o sol começa a aparecer, andando até o livro que havia roubado de meu professor. O livro estava dentro de minha mochila, preta, um tanto gasta e um pouco rasgada. O livro estava muito bem escondido, em um compartimento secreto da mochila, que eu mesmo tinha dificuldade de encontrar, vez ou outra. Pego o livro com ambas as mãos, pronto para ler.

                                Abro o livro lentamente, encarando-o, inexpressivo. Muitos fragmentos estavam escritos em Tupi Guarani, completamente inintendíveis para mim. Frustrado, jogo o livro sobre a cama, encarando a caligrafia perfeita de meu professor... Mesmo o Tupi, escrito com a letra dele, parecia algo quase familiar. O que era muito irritante, pois eu não entendia bulhufas.

                              Encaro o livro de longe, vendo as ilustrações convidativas, que me faziam parecer entender a história... Bem, talvez eu pudesse entedê-lá. Uma ideia surge em minha mente tão rápido que um sorriso maligno se forma em meu rosto. Era como se uma lâmpada se acendesse acima de minha cabeça, como nos desenhos infantis, quando algum personagem tem uma ideia brilhante.

                             Corro até meu computador, o ligando imediatamente. Enquanto a tela inicial rodava, sorrio triunfante para o livro que estava prestes a traduzir. Virava as paginas, lendo as notas que não precisavam de tradução. A maior parte, falava apenas de botânica, que não era nada interessante para mim. Paginas e paginas sobre tipos de ervas que eram relacionados a diferentes deuses da mitologia pagã brasileira.

                            Olho desconfiado para o livro, ao ler sobre deuses cujo nome nunca havia ouvido falar antes, deuses com nomes difíceis de pronunciar e estranhos, que poderiam ser confundidos facilmente por alguém que não conhecia sua história... Mas a parte que mais me chamou atenção foram as palavras "deuses brasileiros". O Brasil tinha muitas coisas, traficantes, trombadinhas, prostitutas, funkeiros, jogadores de futebol e churrasqueiros, mas eu não fazia ideia de que deuses brasileiros existiam.

                          Sem grandes intenções, pesquiso sobre essa mitologia na internet, lendo somente o básico, para saber que eram indígenas, criando relação com meus sonhos anteriores e que era uma mitologia muito boa. Quando estava prestes a ler sobre cada deus individualmente, a tela do computador apaga imediatamente.

                           Vejo minha mãe parada na porta do quarto, com a tomada do computador em mãos. Sua expressão era furiosa, o que me deixou assustado e envergonhado. Bem, eu ainda estava de castigo por "passar o maior mico conhecido em toda rede escolar de todos os tempos". Provavelmente, só voltaria a usar um computador em 2037.

                            Minha mãe era uma mulher morena de uns 40 e poucos anos, sua pele era tão clara quanto a minha, tendo olheiras ainda mais sombrias, ampliadas pelo excesso de trabalho e cansaço. Sua pele era clara, não tanto quanto a minha, ela possuía um leve bronzeado, por passar grande parte de sua vida tomando sol, até conhecer meu pai. Seus cabelos negros estavam bagunçados, enquanto seus olhos estavam apertados, me encarando com um olhar mortal. Ela vestia uma camisola colorida do Piu Piu, que seria muito cômica, com sua expressão maligna, se o alvo de fúria dela não fosse eu.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora