Capitulo 11- A Árvore flamejante

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            Mais uma vez, acordo em um sobressalto e extremamente confuso. Jurupari estava tentando me proteger, me alertar, aquilo não fazia o menor sentido. Até então, tudo o que o deus havia feito comigo era para me assustar. Primeiro, aquele terrível pesadelo com meu professor antropofágico, depois, teve aquele abuso em minha cama, durante a paralisia do sono... Nada se conectava. Minha cabeça estava doendo demais para pensar. O que quer que tivesse visto, eu não contaria para ninguém.

              É então que algo se acende em minha mente, algo que não havia percebido até então. Todas as vezes que Jurupari apareceu para mim em sonho, foi para me alertar de algo ou para me assustar e manter longe do mundo mitológico... Era quase como ele se importasse comigo de verdade. Sinto uma dor crescente no peito. Certa culpa, arrependimento por gritar com o deus... Mas quem poderia confiar em alguém conhecido como demônio dos sonhos?

             Não! Era isso que Jurupari queria! Ele queria me confundir, me fazer pensar que os deuses eram maus e ele era bom. Mas eu não estava disposto a trocar de lado para ser um dos vilões. Não queria ser conhecido como o deus de todo o mau. Não seria eu a espalhar pesadelos, eu não era a pessoa que seria facilmente manipulada sem saber o que era certo e errado!

               Olho em volta, colocando minha mão em minha cabeça. Não fazia a menor ideia de onde estava, mas o lugar parecia um hotel. As paredes eram de madeira, decoradas com lindos quadros, que representavam índios de variados tipos, que não conseguia reconhecer. Estava deitado em uma cama confortável, com um enorme colchão e lençóis de seda negros. O quarto não possuía muitas decorações, sendo muito carente nesse aspecto, mas tinha um banheiro! Nunca tive um quarto com banheiro na vida.

                  Tento me levantar, puxando as cobertas para liberar meu corpo... Então tomo um susto. Minhas lindas roupas haviam sido substituídas por uma porcaria de roupa indígena. Sinto meu rosto corar ao ver meu peito desnudo. Sempre me achei um pouco gordo, embora estivesse na média de peso, por esse motivo, nunca tirava a camisa em público. Quase entro em desespero, colocando a mão sobre a testa. Logo, sinto algo manchar a minha mão.

                   Meu rosto estava inteiramente pintado, com imagens tribais, assim como meus braços e peito. Em meu pescoço, estava uma pedra negra, com uma mascara entalhada... Mascara era um dos símbolos de Jurupari, era exatamente isso que aquilo deveria dizer. O colar me marcava como parente de Jurupari.

              Olho para minhas pernas aliviado. Ao menos estavam cobertos por uma espécie de shorts, enrolados em um tipo de couro animal. Tateio meu corpo, constatando que estava coberto com tiras de couro, decoradas com penas coloridas. Era como se estivesse pronto para uma festa de carnaval. Qual é? Nin se vestia como uma não Índia, por que eu tinha que usar aquela fantasia ridícula? Para não chamar ainda mais atenção talvez...

               Só então me lembro do ferimento em meu ombro. Meu professor havia me esfaqueado fundo... Mas não estava sentindo dor alguma, o que era muito estranho. Tateio meu ombro, em busca de algum curativo ou qualquer tipo de medicamento... Mas não havia nada lá. Era como se eu nunca tivesse sido ferido por nada. Franzo o cenho, depois sorrio agradecido.

                  Queria sair daquele quarto e encontrar meus amigos logo. Estava impaciente. A ultima vez que havia visto Ana, ela estava inconsciente, só queria saber se ela estava bem. Também estava receoso com o comentário de Jurupari sobre minha irmã estar correndo perigo. Queria trazê-la para perto de mim, onde quer que ela estivesse.

                    Caminho lentamente até a porta, esfregando os olhos. Bocejava o mais alto que podia, quanto colocava a mão sobre a maçaneta. Giro a maçaneta lentamente, passando para fora do quarto. É então que levo o maior susto. Bem, não era exatamente o hotel que eu estava esperando. O lugar, tinha estrutura e parecia funcionar como um hotel, mas suas paredes eram feitas de madeira e seus moradores, todos, vestiam roupas como as minhas. Estava em meio ao maior (e talvez único) hotel indígena do Brasil. Talvez até de todo o mundo.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora