Capítulo 37- O culto da Jurema

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                           Assim que Lizzy e eu passamos pela parede de arbustos, uma incrível paisagem se abriu diante de nós. Era como um jardim secreto dentro do parque... Um lugar que não podia ser visto por ninguém, a menos que chegasse perto o suficiente para entrar pelo portal.

                          Diante de nós, havia um gramado verde, cheio de vida... Também havia uma linda árvore, enorme e forte, de aparência antiga e poderosa. Me calei diante da árvore, sentindo sua aura sobrenatural, apenas pela nossa proximidade com o local. Nunca tinha visto algo como aquilo antes! Era muito legal.

                             —Bem vindos ao jardim da Jurema do Beto Carrero World— disse Lucas, com um sorriso triunfante— Além de mim é de Kaléo, vocês são os dois únicos que confiei o bastante para trazer aqui... Nate é Aquariano e eu sou leonino, nós damos bem por natureza... Já você, senhorita Elizabeth. Os astros me disseram que um grande futuro te aguarda... Um futuro bom. Em nome do bem.

                           Enquanto ele falava, olho para cima, cruzando os braços. O céu estava azul, quase sem nuvens, mas o clima era bem mais frio que no Estado de São Paulo. Fortes correntes de vento me mostravam o que um curumim do deus do vento fazia no sul de nosso pais, não em qualquer outro ligar.

                             Lizzy olhava para a árvore, quase que em transe. O livro em sua mão sacudia, atraído pela árvore sobrenatural... Assim como atraiu Aiba Aimirim aquele dia na escola. Esse pensamento me faz abrir um largo sorriso, enquanto mesclava o meu olhar, de Lizzy para o chão e depois para o céu. Lucas não parecia entender exatamente o motivo de meu sorriso.

                               Eu estava rindo, por me lembrar da escola. Havíamos matado nosso professor a menos de um mês. Ele estava desaparecido, assim como todos nós. Tudo isso parecia ter acontecido a tanto tempo... Em uma vida remota. Algo que eu havia simplesmente visto em um filme.

                               —Devo alertá-los o quanto antes para se afastarem da árvore— disse Lucas, com uma expressão medonha no rosto— Apenas os Guardiões da Jurema podem extrair o alucinógeno... Mesmo eles, precisam da permissão de um deus, me entenderam? Caso toquem na árvore, vocês serão mortos.

                                  Balanço a cabeça afirmativamente enquanto tentava interpretar seu aviso. Ele havia dito que seriamos mortos, mas não por quem, especificamente. Pelo que eu havia entendido, tocar na árvore era mesmo mortal e... Eu fiz de novo não é? Dei uma de Nate? Bancando o detetive em horas desnecessárias? Qual a diferença de ser morto por ele ou pela árvore? Eu acabaria morto dos dois modos.

                                  Lucas estende a mão para Lizzy, enquanto olha no fundo de seus olhos. Lizzy parecia ter entendido o recado. Ela tira de suas roupas, uma adaga. A mesma que havia usado para cortar a palma de sua mão no primeiro feitiço. Suas mais ainda estavam enfaixadas, pelos frequentes cortes.

                                   Lentamente, vejo minha melhor amiga desenfaixar uma de suas mãos. Uma cicatriz marcava a palma de sua mão, mas não escorria sangue, como precisaríamos. Ela apenas estava lá, para lembrar a Lizzy de que sua magia sempre lhe custaria algo. Não gostava muito de vê-la usar seus poderes.

                                   Observo Lizzy pressionar a faca contra a feria aberta. Ela usava força, fazendo uma careta de dor no processo. Não aguentava vê-la daquele modo, deveria ser muito doloroso reabrir uma ferida como aquela... Sem contar que as feridas poderiam infeccionar e matar Lizzy.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora