Capítulo 2- O Verdadeiro Culto do Pastor

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                       A porta da sala dos professores abre aos poucos, me fazendo cair de cara no chão da mesma. Bato a boca contra o piso, sentindo uma violenta dor no queixo. Poderia estar sangrando agora mesmo! Esperava que pelo menos não tivesse ninguém na sala para me dar uma bronca por isso, eu não aturaria me esborrachar todo e ser expulso por isso, seria no mínimo, extremamente humilhante. Coloco ambas as mãos sobre o queixo, fechando os olhos e praguejando baixinho.

                        Me levanto lentamente, com os olhos fechados, fazendo uma prece mental para que nenhum professor estivesse na sala dos professores. Por sorte, todos eles poderiam estar em aula ao mesmo tempo, o que me pouparia de explicações desnecessárias sobre a Lizzy ser uma vidente e eu ter de persegui-la pela escola toda. Logo, abro um dos olhos lentamente, esperando encontrar as feições irritadas de algum dos professores. Por isso, sorrio timidamente.

                     Isso! A sala estava vazia, eu não me encrencaria aquele dia... Pelo menos não até o Pastor dizer para a louca da diretora doppelganger que eu havia fugido da aula dele para correr atrás de Lizzy. Eu simplesmente havia feito um estardalhaço em toda a escola. Expulsão seria muito pouco para mim. E nem isso teria sentido se não encontrasse Lizzy de uma vez! Logo, respiro fundo, me preparando para sair da sala.

                   É então que noto algo acima da mesa, me fazendo parar bruscamente. Havia um livro em cima da mesa. Na capa de couro negra, estava esculpida uma pequena mascara indígena, semelhante as que mantinha em meu quarto. Eu sabia o que aquilo significava... Era misticismo e esoterismo! Eu podia farejar aquelas coisas de longe! Eu precisava pegar aquele livro... Mas a quem pertencia?

                      Me aproximo lentamente do livro, olhando a capa sem título. Coloco minhas mãos sobre ele, esperando abri-lo e encontrar o título dentro do mesmo. Porém, encontro ainda melhor do que um título. Eu encontro um nome, o nome de uma pessoa que eu nunca suspeitaria que investigava o esoterismo, Ricardo Campos Reis, mais conhecido como o Pastor. Meu nem tão querido professor, que me assombrava até em meus piores pesadelos. Aquele maldito! Nunca pareceu se interessar por nada disso.

                     Folheio o livro, notando que não havia sido impresso. Todas as notas do livro foram escritas a mão, assim como as ilustrações do livro, que eu tinha de admitir que eram muito boas. Olho para os lados freneticamente, esperando encontrar o Pastor parado atrás de mim, querendo o livro de volta... Mas ele não estava lá, provavelmente Rafael o havia segurado tempo suficiente para que eu pudesse trazer Lizzy de volta para a sala de aula.

                          Lentamente, coloco o livro dentro de meu casaco. Como as notas eram a mão, não havia possibilidade alguma de comprar aquele livro. Também sabia que o Pastor não me emprestaria aquele livro, o professor não gostava de mim e me deduraria se soubesse que eu havia invadido (mesmo que despropositalmente) a sala dos professores.

                           Me viro, saindo da sala professores o mais rápido que podia. Ainda precisaria encontrar Lizzy. O que quer que tivesse acontecido com ela... Eu me sentia imensamente responsável. Ela havia gritado ao me tocar! A minha ligação com o grito era muito óbvia. Só precisava descobrir o que eu havia feito. Será que havia apertado seu braço com muita força... Ou havia algum motivo oculto naquele grito, que parecia completamente sem motivo. Se o motivo fosse sobrenatural, poderia ter alguma ligação com o provável grimório do Pastor, que havia encontrado na sala dos professores. De uma maneira ou outra, eu ajudaria Lizzy, quer ela queira ou não.

                               Saio sorrateiramente da sala dos professores, fechando a porta lentamente, até que ficasse entreaberta, como estava antes. Queria deixar o mínimo possível de provas de que eu era o provável ladrão de livros. Não era capaz de imaginar o que o Pastor faria comigo, caso descobrisse que eu havia pego seu livro místico secreto. Mordo meu lábio, andando lentamente para longe da porta, ainda procurando por Lizzy, que deveria ter se escondido em algum canto, a essa altura do campeonato.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora