Capítulo 24- Entre mortos e feridos

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                  Depois de muito tempo, finalmente amanheceu. Lentamente, as chamas do Andurá começaram a apagar, enquanto eu focava meu olhar no lobisomem, que mesmo morto, voltava para sua forma humana... Com o crânio perfurado pela lança.

                    Abro e fecho minha boca, sem o que dizer. Outro cadáver. Estávamos começando a colecionar cadáveres. Estremeço, abraçando minhas pernas, nunca pensei que teria de me aliar aos vilões se quisesse que meus amigos ficassem seguros... Aquilo era terrível.

                     Lentamente, Ceci se aproxima de mim, sentando ao meu lado, enquanto Rafael e Ana permaneciam grudados, chorando dramaticamente. Desvio o olhar quando a Xamã senta ao meu lado. Não queria passar por seu olhar de repressão. Sabia que a culpa de tudo aquilo recairia sobre mim.

                       —Não precisa dizer— disse, com certo rancor no tom de voz— você me avisou. Não preciso que me lembre que tudo isso que aconteceu aqui foi minha culpa.

                        —Jonathan... Sua ignorância me espanta— disse a Xamã. Franzo o cenho. Minha vontade era dar um tapa no rosto daquela mulher... Mas não achava que isso seria algo inteligente a se fazer— Você só serviu de estopim, para o que ocorreu hoje... O seu destino está ligado ao de Rafael, Ana e Elizabeth. Porém, a culpa do que ocorreu hoje, não foi sua, isso acabaria acontecendo... Estava escrito nas estrelas.

                          —Olha, não entendi porcaria nenhuma— disse, olhando para ela— Eu burlei o que você disse, fiquei com meus amigos para fora do Andurá... Sou um curumim branco que colocou a vida de meus amigos em risco! Por que você não...?— a palavra fica entalada em minha garganta, enquanto a encarava.

                           —Por que não te odeio?— pergunta a Xamã, com os olhos brilhantes— As profecias não são o único modo de vislumbrar o futuro. Xamãs conseguem... Sentir coisas, quando estão em um alto estágio de treinamento, depois de anos de experiência. Nós conseguimos sentir o sobrenatural.

                        —O que isso tem a ver com o que aconteceu hoje?— pergunto, impaciente— Nós não fizemos nada sobrenatural hoje... Apenas algo sobrenaturalmente burro, se me permite dizer.

                      —Me deixe terminar— disse a Xamã, me repreendendo com delicadeza—A paciência é uma virtude, Jonathan Eperua Carvalho. Eu havia alertado Rafael sobre a possibilidade de que ontem chegaria mais cedo... Diga me, o que Rafael falou sobre Lobizon?

                        —Rafael disse que ele é o deus dos mortos, que iniciou a maldição dos licantropos e que todos os seus descendentes que são sétimos filhos são transformados em lobisomens também— repito as palavras de meu amigo— Mas Rafael não é descendente desse deus não. Ele não tem nada de indígena, eu o conheço desde que nasci, ele é normal.

                           —Você não sabe de nada... Não sabia nem mesmo que era um Curumim... Mas dessa vez está certo. Rafael não é descendente de Luison, mas esse não é o único modo de ativar a maldição— disse a Xamã com paciência— Todo aquele, que for um sétimo filho e matar algum ser mitológico, ativará a maldição e se tornará um ser híbrido de lobo e homem.

                               Vocês provavelmente não se lembram... Mas lembra do motivo para Rafael aprender a lutar? Eu disse que Rafael possuía seis irmãos mais velhos... Isso faz dele o sétimo filho, propicio a ativar sua maldição. Agora as coisas começavam a fazer sentido.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora