Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore Flamejante

Capítulo 49- A batalha final

Xandoré grita, caindo no chão, enquanto a corrente elétrica percorria seu corpo. Lentamente, o deus conseguiu se recuperar, absorvendo a eletricidade e arrancando a lança, que ele joga a vários metros de distância. Um forte cheiro de ozônio era sentido no ar, enquanto os deuses nos encaravam, em silêncio.

O deus olha freneticamente de Tilico para Totó, com faíscas saindo pelos olhos. Ele parecia explodir de ódio, queria destruir aqueles que estavam prestes a acabar com a sua única chance de viver sobre a Terra. Naquele momento, entendi porque ele é deus do ódio.

—Teju... O mais velho dos monstros lendários... O que conhece esse mundo melhor do que qualquer um de seus irmãos.— disse o deus com ódio— Você se tornou um mandado. Está ajudando essas crianças tolas nessa missão perdida... Para que? Para suprir a familinha feliz que almeja ter? Cachorrinho de estimação!

—Não, você está errado— disse o deus, com sua monstruosa voz animal— Eu já lutei contra essas crianças, eles são fortes. Juntos, podem fazer o que ninguém conseguiu fazer sozinho... O que nós, deuses, só fazemos graças as cerimônias e adoração que acabamos por receber...

—Você ficou fraco— diz o deus, olhando fixamente para o grande cão, cerrando os dentes. Ele estende as mãos para o céu, invocando um grande raio, que cai sobre ele, carregando seu corpo com uma poderosa corrente elétrica— Minha tarefa é eliminar aqueles que são fracos.

O cão late, fazendo com que o chão trema violentamente. O latido se repete por cada uma de suas cabeças, até que Xandoré caia no chão, atordoado pelo poderoso latido do deus. Foi então que ele se lançou contra Xandoré, arreganhando os dentes enquanto pulava. Pronto para dar um fim a tudo aquilo.

Lucas e Tilico pulam de suas costas, encarando os outros deuses. Os outros deuses permaneciam em seus devidos lugares, quietos, enquanto observavam Tilico. Todos pareciam impressionados e escandalizados pela escolha... E eu tinha ideia do porque.

O conselho, como Nin me disse certa vez, representa os Poderosos, os deuses mais fortes de toda a mitologia... Uma elite da qual a mãe de Tilico não pertence. Tilico deveria ser o primeiro filho de uma deusa menor a ocupar um cargo tão grande dentro do Andurá... Embora não parecesse entender bem isso.

Algo se remexe no bolso da calça de Tilico... Então algo sai de lá em uma velocidade incrível. Era Ricardo, meu japim, que voa até meu ombro, dando cabeçadas afetivas em meu pescoço enquanto imitava o canto de um sabiá, como se quisesse demonstrar o quanto havia feito falta para ele.

—Nate, estou com o elixir— diz Lucas, estendendo a mão direita—Precisamos fazer com que isso entre em contato com o icor prateado, o sangue dos deuses. Pode ser por ingestão. Não temos muito tempo. Podemos usar isso em Anhangá para atordoá-lo, enquanto tentamos fechar o véu... Alguém tem uma ideia de como ele pode ser fechado?

—Suas crianças burras e incompetentes— grita Jaci Jaterê, balançando os braços, parecendo estar muito próximo de um colapso nervoso. Ele não estava gostando nem um pouco de ser mantido longe de seu cajado— Não tem como fechar! Não é como uma roupa, para ser costurado! Imaginem uma taça de vidro... Agora joguem essa taça de vidro em uma parede e passem com o rolo compressor por cima... Tem conserto?

—Tenha mais respeito—diz Lizzy, dando uma cajadada na cabeça do deus, que a esfrega repetidas vezes— Nossa melhor chance é esperar que o deus apareça e fazê-lo tomar esse todinho envenenado...quando ele acabar, o Nate toca a flauta de novo e a gente coloca ele para dormir...

—Fazê-lo dormir? Você quer resolver o problema ou varrer tudo para debaixo do tapete?— pergunta Rafael, com o olhar confuso—Se ele dormir, só vai acordar mais tarde e mais furioso... Aí não vai ter flautinha magica e suquinho com boa noite Cinderela que o segure... Temos que matá-lo.