Capítulo 38- Participo de uma batalha musical

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                        Lucas girou a maçaneta da Jurema, revendendo uma paisagem ainda mais bonita do que a anterior. Não parecia apenas um jardim, parecia o jardim de uma mansão ou coisa parecida. Flores de todos os tipos repousavam sob a terra, enquanto vários tipos de pássaros cantavam juntos. Pareciam entoar juntos algum tipo de música... Tão bela e atrativa.

                             —Isso é tão incrível!— digo, com os olhos arregalados e a boca aberta em um enorme "O". —Mas como... Como esses pássaros sabem a hora certa de cantar? Tem algo de especial neles?

                                  —Ah sim, pássaros mitológicos costumam cercar do deus da música— diz Lucas com um sorriso orgulhoso— Veja, aquele é uirapuru. Diz a lenda, que duas mulheres disputavam o chefe da tribo... Ao perder, uma delas implorou a Tupã para se tornar um pássaro. Seu canto é maravilhoso desde então. Os pássaros sempre param de cantar, quando ela começa com sua melodia. Eles param para ouvir... Ah e veja está— diz Lucas, com extrema excitação nos olhos— Estes, que se remexem sem parar, são os Tangarás, as aves dançarinas. Diz a lenda, que a bela dança, é o que fazem para encontrar o céu após a morte. Ah, veja, voando em volta dos pinheiros, estão as gralhas azuis. Elas são as defensoras místicas dos pinheiros... Caso um caçador tente atirar nelas, a arma explodirá imediatamente.

                             Imediatamente, vejo um pássaro a distância, antes de entrar na árvore. Seu ninho se escondia embaixo de um vespeiro. Ele observava os outros, sem dar nenhum pio. Ele parecia estar extremamente triste, enquanto as vespas voavam a sua volta, ignorando-o.

                               —E aquele passarinho sob o vespeiro?—pergunto. Ele parecia deslocado em meio aos outros pássaros, assim como eu me sentia no Andurá. Queria poder confortá-lo de algum modo— Ele parece triste... Enquanto todos cantam, ele não faz nada... Por que?

                                  —Aquele é o Japim.— disse Lucas— Ele é uma ave amaldiçoada... Ele veio do outro lado do véu, de onde se escondem os deuses. Dizem que seu canto era a coisa mais bela que já haviam visto... Mas ele imitava o canto dos outros pássaros, por zombaria. Por isso, Tupã o castigou, o obrigando a imitar o canto dos outros pássaros para sempre. Perdendo o seu canto para sempre. Os outros pássaros passaram a odiar o japim. Por isso, ele cria seu ninho sob o vespeiro, para que suas amigas, as vespas, o defendam da fúria dos outros pássaros... Ele é um sobrevivente.

                                     Olho para o Japim, com pesar, enquanto adentrava a Jurema ao lado de Lucas. Ao finalmente entrar no bosque, todo o sentimento desaparece. Era como se a alegria dos pássaros me contagiasse. Acabo por sorrir, maravilhado com o local. Lentamente, meu corpo começa a se mover, como que em uma estranha dança.

                               Podia ouvir o som de uma cachoeira próxima, enquanto via um riacho cruzar o jardim. O barulho da agua parecia completar algo que faltava na música dos pássaros. Aquela música era divina. Ninguém podia discordar disso.

                              Foi então que algo estranho aconteceu.

                             —Horrível— ressoa uma voz, por todo o bosque, condenando os pássaros por seu canto— Péssimo! Essa música é tão ano passado! Eu já lhes disse para entrar no ritmo de minha música. Andem, nós temos uma plateia.

                             Foi então que uma melodia conhecida começou a tocar. Franzo o cenho, ao reconhecer a música que tocava. Não era tão divina quanto a anterior. Na verdade, eu nem sequer gostava do estilo musical que tocava. O deus e os pássaros cantavam "Eu, Você, o mar e ela" do Luan Santana.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora