Capítulo 32- Quase sou filtrado por uma Hippie maluca

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               Assim como havíamos combinado, todos os semideuses foram até a praia, pegando alguns táxis. Não sabia como pagariam pelos táxis, já que não haviam levado dinheiro. Porém, não estava no clima de discutir com eles a necessidade de usar papel ou plástico como moeda de troca... Sendo que eles estavam acostumados a serviços comunitários. Ana e Rafael conversariam com eles a respeito disso. Rafael pegou Kaléo de meu colo, o levando com eles.

                   Lizzy e eu fizemos o mesmo, pegando um taxi. Não queria falar com ela também. Só queria saber uma coisa: Se Kaléo estava bem. Não, não é o que vocês estão pensando. Não é aquele lance meloso... É apenas culpa. Ele havia feito tanto para nos ajudar, agora estava desmaiado por minha culpa.

                 A propósito, eu não acredito no amor. Não acredito que Kaléo e eu possamos viver uma linda vida juntos pelo resto da vida. Eu não sou iludido. Eu não sou bi! E mesmo que fosse, quem foi que falou que ele estava a fim de mim? Ele só me salvou, como salvaria qualquer um!

               Quer saber? Vamos para a história. Falar da minha sexualidade direto já está me irritando. Estou começando a ficar confuso! Vamos falar sobre a Lizzy...

                  Ela me encarava, do outro lado do taxi, com a cara fechada. Não havíamos conversado desde que descobrimos que somos ligados... Sabia que precisávamos conversar sobre aquilo. Porém, não queria que fosse aquela hora. Eu não estava emocionalmente capaz de discutir com ela.

                         —Jonathan... Nós teríamos muito a conversar mas eu sei que você é orgulhoso e não vai querer falar de nada— resmunga Lizzy— Então eu vou focar no mais importante, a sua felicidade. Se você continuar bancando o fingido comigo, vou dar na sua cara. Se você é ou não é alguma coisa, não importa, se é o que te faz feliz. Deixa de ser trouxa, entendeu?

                     Abro a boca para responder, mas decido ficar em silêncio. Se Lizzy, que nunca foi o gênio empático que Ana era, havia dito que aquilo me faria feliz... Talvez eu devesse considerar. Eu disse CONSIDERAR a possibilidade. Ela podia ter dito qualquer coisa... Mas decidiu falar sobre a minha sexualidade. Não sobre a nossa ligação. Me senti completamente ridículo naquele momento.

                   Resultado: Passamos toda a viagem em silêncio. Lizzy entrava emburrada, olhando para uma janela, enquanto eu olhava para outra. Foi só quando quando descemos do taxi que Lizzy e eu desgrudamos da janela.Por sorte, Lizzy retira do bolso do casaco algumas notas enroladas, pagando o taxista e descendo no lugar ando ele havia parado.

                    Desço do taxi fechando ainda mais o casaco. Minha camisa havia sido feita em pedaços por Kurupi no dia anterior... Sem contar a batalha com o deus Cão. Por isso, precisei fechar o casaco para não ser julgado... Embora tivesse gente bem mais estranha andando pelas ruas do Rio de Janeiro.

                   —Eu sempre soube que havia algo místico no Rio— murmura Lizzy— Só não sabia que os deuses passeavam livremente pela rua. Agora que sou uma Xamã, começo a entender essa quantidade de gente esquisita que rondava pelas praias.

                      Ah, um fato importante. Embora Lizzy seja paulista, assim como eu, seu pai é carioca, o que tornava suas visitas ao Rio frequentes. Olho para ela por alguns instantes, imóvel. Lizzy quase nunca falava de seu pai. A simples menção a seu pai ou ao Rio de Janeiro era dolorosa... Eu nem mesmo havia me tocado disso até instantes atrás.

                        —Lizzy, eu...— Tendo dizer alguma coisa, olhando para ela. Nunca havia me sentido tão desconfortável perto dela. Poxa, ela era uma de minhas melhores amigas! Será que eu estava sendo ridículo? Não. É a ligação falando por mim... Não posso dar ouvidos, o destino depende de mim.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora