Capítulo 39- A velha gulosa

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                         Assim que Lucas fechou a porta, a maçaneta desapareceu. Foi como se a porta nunca estivesse lá. Como se a árvore sempre tivesse sido lisa. Coloquei minhas mãos sobre o bolso, queria saber se o sacro Taré e o Japim eram apenas obras de minha imaginação. O meu coração parecia querer sair por minha boca.

                          O Japim cantou como um sabiá, ao sentir o toque de minha mão. Ele abriu suas asinhas e voou na direção de meu ombro, pousando lá, enquanto deixava o sacro Taré em meu bolso. Eu estava tão agradecido a aquele pássaro, que queria adotá-lo para sempre.

                            —Parece que ele gostou de você— Diz Lucas— Uma pena que ele voltará para o domínio dos deuses. É uma ave tão boa, ficaria muito feliz em ter sua companhia no parque... Jonathan, Elizabeth, encontrem os outros do lado de fora e levem o sacro Taré. Eu vou esperar Caipora aqui, para receber o elixir.

                               O Japim emite o som parecido com o de uma arara, enquanto voa até meu outro ombro. Ele se aconchega no local, enquanto Lizzy e eu andávamos para fora, determinados. Queria encontrar Kaléo e os outros para mostrar nossa conquista...

                                Atravessamos a passagem magica para fora do jardim da Jurema, prontos para encarar novamente toda a magia do Beto Carrero. Porém, não foi exatamente isso o que vimos ao sair. Foi algo extremamente pior, algo que me chocou infinitamente.

                               O lugar estava um pandemônio. Hordas de insetos voavam pelo parque, atacando a todos que passavam por perto. Olho para o Japim. Pensando em algo muito fúnebre. Eu perderia meu amiguinho voador sem nem mesmo ter a chance de dar um nome para ele, aquilo não parecia justo...

                              Porém, surpreendentemente, o Japim bate as asas repetidas vezes, imitando o canto de uma araponga. Ele parecia pedir para que os insetos se mantivessem longe de Lizzy e eu, como havia feito ao pedir para suas amigas vespas atacarem os deuses e os pássaros durante a batalha musical. Nem preciso dizer que ele obteve sucesso.

                                 Lizzy levantou uma de suas mãos, me pedindo calma, enquanto buscava por algo em seu livro que pudesse nos ajudar. Eu realmente odiava ter de esperar Lizzy procurar uma palavra nova toda vez que tínhamos algum problema. Tudo o que eu queria, era gritar e voltar para dentro do labirinto.

                                 É então que vejo algo em meio a horda de insetos. Era uma mulher muito velha. Ela era horrível. Tinha nariz torto, cabelos espetados, duros e brancos. Ela carregava uma espécie de saco, também sendo evitada pelos insetos. Assim como o Japim, ela parecia ter o poder de controla-los

                               Ao longe, avisto a velha se aproximar de nós, chacoalhando Lizzy sem parar, tentando alerta-lá do perigo. O Japim, querendo me apoiar, voa em volta de Lizzy, imitando o som de uma águia, tentando chamar a atenção de Lizxy para o que estava acontecendo, mas ela parecia focada em seu livro.

                                 —Ora vejam— diz a velha, sacudindo o saco—Jaci Jaterê me prometeu entregar você como janta, se eu o ajudasse a atacar esse lugar... A carne dos legados de Jurupari são as melhores. Vai ser um imenso prazer decorar você e entregar sua amiguinha para Jaci Jaterê.

                                Lizzy finalmente encontrou a utilidade certa para seu livro. Quando a velha se aproximou o suficiente, vi minha melhor amiga golpear o rosto da velha com o livro repetidas vezes, o suficiente para que a mulher ficasse atordoada... Mas bem o suficiente para revidar.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora