Depois do que havia acontecido com Caimana, me aproximei do corpo caído de Kaléo, me abraçando a ele e pegando no sono. Tudo o que eu mais queria, era que tudo aquilo passasse. Malditos deuses! Maldito Jaci Jaterê! Maldito Anhangá! Queria que todos eles fossem aniquilados.
Por alguns instantes, fico em silêncio, repassando todos os acontecimentos fantásticos de minha vida... Até que lentamente, lágrimas começam a escorrer por meus olhos. Quando me dei conta, já estava chorando exageradamente, de raiva e frustração. Odiava ser impotente.
Torcia para que Tilico e Ricardo tivessem fugido para bem longe, para que ambos estivessem muito longe de toda essa loucura. Não precisava que mais gente que me importava acabasse no mesmo barco que eu.aquele deveria ser meu fim. Apenas meu, de mais ninguém.
Penso no tempo perdido, renegando minha sexualidade... Tudo isso por nada. Não deveria ter renegado Kaléo, não devia ter desconfiado que minha amizade com Lizzy era falsa... Não deveria ter feito tantas coisas, que cheguei a pensar que se eu tivesse que refazer tudo, teria feito completamente diferente.
Kaléo se remexe lentamente, como se estivesse acordando. Ele vira a cabeça para o lado, confuso, sem lembrar do que havíamos passado. Deixo que ele desfrute alguns segundos de sua ignorância. Sorrio para ele, observando seu olhar se cruzar com o meu, como uma espécie de alívio, por ver que eu era real. Seguro seu rosto com ambas as mãos, tremendo levemente, enquanto ele se aproximava, me beijando delicadamente. Me fazendo esquecer dos problemas que enfrentávamos.
§
Acordo com a cabeça apoiada no peitoral de Kaléo. Caimana e Lizzy já haviam acordado e se levantado. Ambas estavam diante das grades da cela, tentando destrói-la, sem muito sucesso. Talvez Jaci Jaterê tenha reforçado as barras para que nenhum de nós fugisse durante a noite.
—...Acertar o chão, vamos ser esmigalhados— diz Caimana— não podemos fazer nada! Maldito Jaci Jaterê, juro que se eu o encontrar novamente, sem essas barras para me impedir, eu o destruirei com minhas próprias mãos. Estou cansada desse jogo todo! Para que lançar a caverna para longe.
—Tenha fé— diz Lizzy, virando as páginas de seu livro, freneticamente, como fazia enquanto estávamos em batalha— Alguma coisa nesse livro pode nos ajudar... Talvez se eu encontrar o feitiço certo, eu possa fazer essa coisa parar de voar... Vamos pensar positivo, Caimana, seu nervosismo não nos ajuda em nada.
—O que está acontecendo aqui?— pergunto, me levantando lentamente. Bocejava, me espreguiçando largamente com um sorriso no rosto. Mesmo que tenha sido um pequeno feixe de luz em um mar de escuridão, a noite com Kaléo foi o suficiente para subir meu humor— Por que estão tão nervosas afinal?
Lizzy me olha com uma cara de puro desespero, então fecha os olhos respirando fundo. Lizzy não gostava de sentir emoções extremas, tinha um problema sério com isso, emoções extremas a faziam tomar medidas piores do que a maioria tomaria... Por isso, ela precisa sempre buscar por manter a calma em horas como essa.
—Até que enfim, Bela Adormecida— diz Caimana, revirando os olhos— Cada um de nós está tentando abrir a própria cela... Você conseguiu abrir todas ontem, durante a noite, mas eu não me lembro muito bem do que você fez... Será que você pode abrir para gente? Tipo, agora mesmo?
Olho para elas com uma expressão confusa. Se eu, um curumim, havia conseguido abrir tudo com facilidade, deveria ser muito simples para elas... Talvez ele tivesse reforçado as celas, mas não custava nada tentar. Assim eu poderia acalmar um pouco os nervos das garotas. Pareciam dispostas a gritar comigo para refazer se precisasse.
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Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore Flamejante
FantasyNate não é o herói da profecia. Nate não está destinado a grandes feitos, ele apenas estava na hora errada e no lugar errado, isso mudou a sua vida para sempre. Jonathan Eperua Carvalho sempre foi um garoto esquisito, mas não do tipo clichê, que sof...