Capítulo 5- Indiofobia

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                    Olho para Lizzy, fixamente, com uma expressão ansiosa no rosto. Lizzy me olhava torto, enquanto varria a linha perfeita de pó negro. Sabia que provavelmente, ela não me deixaria nem começar a explicar, caso a explicação fosse muito ridícula. Bem, no caso, eu acabaria tendo de explicar algo sobrenatural que faria Lizzy apenas revirar os olhos.

                   —Eu sei que você não acredita nessas coisas, mas não vai nem ao menos me deixar tentar explicar?— pergunto, encarando-a fixamente, enquanto ela continuava seu trabalho.

                     Lizzy olha para mim, pensativa, parando de varrer por um tempo. Ela parecia um pouco confusa e indecisa, mas prestes a me deixar ao menos tentar explicar a ela o que estava acontecendo. Ela então se apoia na parede, segurando a vassoura com a mão direita, dando de ombros. Ela balança a mão direita como se dissesse "prossiga". Era a primeira vez que havia parado de varrer desde que chegamos.

                 —Ontem, quando eu fui te buscar... Eu achei uma coisa — digo, encarando-a. Meu coração palpitava loucamente, era como se estivesse prestes a sair por minha boca. Eu não sabia se deveria ou não mostrar o livro roubado para Lizzy, não tinha a menor ideia de qual seria a sua reação para o que eu havia feito— É um livro, acho que vi uma pagina que falava sobre isso... É chamado de Aiba Aimirim pelos índios, significa "Formiguinha má". O nome atual disso é Areia de Sandman ou Pesadelo, por lembrar a Areia de Sandman, das lendas.

                   Lizzy abre o sorriso mais falso que já vi na vida, enquanto se vira, andando até o monte de areia e o varrendo vorazmente. Sabia que ela não havia acreditado em uma só virgula do que eu havia dito a ela. Penso em puxa-la de volta, para explicar a ela, mas hesito. Da ultima vez que havia tentado aquilo, Lizzy havia gritado e estávamos em detenção por isso.

                  Respiro fundo, ao ver que Lizzy não acreditaria em nada que eu disse. Ao notar que teria que apagar minha segunda chance de seguir aquela trilha, para saber onde aquilo poderia dar. Emburrado, ando até a trilha de pó, a varrendo com voracidade e raiva, por ter sido ignorado por Lizzy. Odiava ser ignorado pelas pessoas, era muito irritante. Só então, percebo que talvez, se pudesse varrer a areia até o fim, pudesse saber onde ela daria. Então poderia esfregar na cara de Lizzy que eu estava certo e ela estava errada.

                   —Nate— diz Lizzy, depois de um tempo— Porque os índios chamavam essa porcaria de Aiaiaiba mirim, "Formiguinha má". Essa joça não parece nem pouco com formiga para mim. É só uma areia preta sem graça, não tem nada de formiga e nem de Sandman nela.

                      Sorrio triunfante, devido a curiosidade de Lizzy, a respeito da Aiba Aimirim. Geralmente, era difícil tirar alguma coisa da cabeça de Lizzy, então se ela tivesse acreditado que a história que eu havia contado, não era interessante ela não tem teria nem ao menos me perguntado, só tentado me fazer calar a boca o quanto antes.

                     —Recebe esse nome, por se acumular em volta dos índios que sonhavam. Ela andava, como uma formiga— disse, encarando-a— Sempre que ela se acumulava perto de algum dos índios da tribo, ele tinha terríveis pesadelos, que acreditavam ter ligação com algum deus.... Mas não faço a menor ideia do nome dele, talvez eu posso pegar o livro e dar uma olhada nisso.

                       Tiro minha mochila das costas, Lizzy continuava parada enquanto me observava. Geralmente, essa era a parte que ela me mandava parar de falar, ou dizia para não pegar o livro. Mas algo me dizia que ela queria saber aquilo. Quem sabe ela não tivesse alguma relação com isso tudo?

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora