Capítulo 14- O Curumim

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         Acordo lentamente, me levantando aos poucos com os olhos fechados. Dessa vez, embora não fizesse a mínima ideia de onde estava é de como havia chego a aquele lugar, eu me lembrava de todo o resto. Lembrava do fato de que Lizzy era uma Xamã, lembrava da estadia no Andurá... Me lembrava até mesmo de Nin desacordada e a briga maluca na sala de treinamento. Porém... Aquilo não parecia ser verdade. Alguma coisa no meio de tudo aquilo me fazia duvidar. Não saber como havia chego ao local era uma das principais falhas.

           Belisco meu braço, mas não sinto nada. Minha sensação estava certa, aquilo não passava de um sonho. Precisava apenas descobrir o que precisava naquele lugar e cair fora, o quanto antes. Porém, antes disso, eu precisa descobrir onde estava... Não estava mais no Andurá, isso era certeza. A floresta a minha volta era completamente diferente.

             Me apoio em uma árvore ao levantar, segurando a cabeça. Minhas habilidades haviam evoluído de modo incrível! Tanto nos sonhos, quanto o controle da Aiba Aimirim. Porém, eu não sabia o motivo de terem se desenvolvido tão tarde. Afinal, se eu era parente de um deus, as coisas não deveriam acontecer antes? Pensamentos como esse, rondavam minha mente... Eu não sabia responder nenhum deles.

              Dou alguns passos em uma direção qualquer, sempre sabia inativamente para onde deveria andar em meus sonhos... Coisa que deveria ser atribuída ao "querido Jurupari". Após conhecer meus amiguinhos semideuses, até mesmo o Demônio dos Sonhos parecia Madre Teresa de Calcutá! Não tinham piedade ou qualquer sentimento por alguém que não fosse de seu pequeno ciclo indígena.

              Irritado, soco uma árvore enquanto andava. Queria ao menos poder voltar a controlar meus sonhos... Olho em volta, procurando por Aiba Aimirim, porém, enquanto estava em minha forma astral, parecia perder a habilidade de atrair a minha querida areia de Sandman. Esse era apenas mais um motivo para odiar ter aqueles sonhos.

                Volto a andar, logo em seguida, entediado, queria achar alguma coisa que se destacasse, mas era impossível. Continuo andando, sem rumo, até quase desistir... Foi só então que tropecei em uma raiz, caindo de boca, em frente a um enorme buraco em uma árvore esquisita... Aquilo não parecia ser uma coincidência. Era daquele modo que a entrada do Andurá se tornava acessível... Talvez aquele lugar fosse a entrada da tal Jurema, a árvore em que se escondiam os caras maus.

                 Meu coração dispara.

                Era agora ou nunca. Ninguém poderia me ferir em forma astral, pelo menos eu esperava que não... Era hora de ser corajoso. Entrei correndo, fosse o que fosse, era melhor descobrir de uma vez. Olho em volta, desesperado... Mas ninguém parecia me notar. Dezenas de índios passavam por mim, indiferentes, como se eu não estivesse lá.

                Certamente, aquilo era um era passado. Quando eu sonhava com algo que estava acontecendo, as pessoas podiam me ver em minha forma astral... Quando estava presenciando o passado, era como estar no cinema 6 D mais bem equipado do mundo. Podia andar e ver tudo... Mas não não podia interagir com ninguém. Estava apenas observando, não podia viajar no tempo.

                Caminho mais a fundo, vendo hordas de semideuses e curumins espalhados pelo local. O interior da árvore era como o Andurá, uma espécie de hotel semideus... Porém, com mais equipamentos e com galhos espalhados por todo o local, produtos para o alucinógeno por toda a parte... Aquela árvore era a Jurema, da história que Nin havia me contado.

                 Olho para todos os semideuses com atenção... Muitos dos Curumins eram brancos ou negros, existiam pouquíssimos curumins verdadeiramente indígenas, pelo que podia observar. Então, como aquela quantia enorme de semideuses havia sumido de uma hora para outra, com tanta facilidade.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora