Capítulo 27- Saindo Pela Privada

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                   Fui o ultimo a tomar coragem para me atirar pelo poço artesiano. Não sabia como aquilo funciona e também não estava muito curioso para descobrir. Era só pular e esperar para descobrir o que estava prestes a acontecer... Isso se eu tivesse coragem para me me jogar, algo que, de certo, eu não tinha. Estava tremendo loucamente enquanto o resto da fila me encarava impaciente. Por fim, acabei cedendo a pressão. Corri na direção do poço e pulei, de olhos fechados.

                    Eu pensava que aquilo era ruim... Mas a realidade superou minhas expectativas. Era como estar dentro de um cano de esgoto, escuro e cheio de agua... A correnteza era forte e me puxava para algum lugar. Pensei em me debater, mas não tinha espaço para isso.

                      Em seguida, pensei em gritar, mas decidi guardar o fôlego. O tempo que passei em baixo d'água foi longo para mim, pareceram horas de terror puro. Porém, na realidade, não devia ter nem chego a um minuto exato. Pensei em jurar para mim mesmo que nunca mais usaria a via expressa aquática... Enquanto estava nos tubos.

                       Ok, se você, meu caro leitor, pensa que o terror de não poder ver ou respirar já é o suficiente... Imagine a surpresa ao descobrir que fui lançado de uma caixa d'água, alguns metros a cima do chão. Era como se a vida me dissesse "Reclama desgraçado, se continuar vou trazer uma cobra e jogar nesse telhado para fechar com chave de ouro".

                          Balanço os braços loucamente, ao sair da caixa d'água, andando pelo telhado com as pernas bambas. Lizzy caminha até mim, revirando os olhos. Dessa vez, eu não podia negar sua ajuda, ficar preso naquele telhado era algo extremamente humilhante. Nunca pensei que podia tremer tanto e gostar tanto de estar em um lugar alto... Desde que tivesse chão diante de meus pés.

                          —Se você morrer, eu morro também— disse Lizzy, respirando fundo— Não vou deixar que você banque a Jade Barbosa nas Olimpíadas de Pequim e trema loucamente até cair... Ouviu? Tenha amor a minha vida!

                             Assinto levemente, então ela segura meu braço com mais força e olha em volta. Mantenho a cabeça baixa, sabia que não podia olhar... Eu passaria mal se estivéssemos muito longe do chão... Não tanto quanto passei descendo pela privada mística da Vitória Régia, que dava descarga em nós.

                         —Onde estamos?— pergunto curioso, conseguia ouvir exclamações de surpresa dos outros semideuses. Porém, aquilo não significava nada. Eles eram tão desligados da nossa sociedade que ficariam surpresos até se estivéssemos em um território pobre e quase ser recursos.

                          —Por que não levanta a cabeça e você com seus próprios olhos?— pergunta Nin, com forte sarcasmo na voz—Você é um folgado ein Jonathan? Acha que vamos facilitar para você? Ninguém mandou se voluntariar para essa missão. Ninguém disse que seria fácil.

                            Lentamente, levanto a minha cabeça, estremecendo um pouco... Fico feliz por ter olhado... Ou teria perdido a vista mais bela de toda a minha vida. O Cristo Redentor estava parado a minha frente, com os braços estendidos, parado a todo o seu esplendor acima do Corcovado. Abro minha boca dramaticamente. Estávamos no Rio de Janeiro.

                               O céu pintado de um tom claro de azul e as praias afrodisíacas próximas a nós deixavam tudo ainda mais surpreendente. Só havia um problema, estávamos na favela, no conjunto habitacional da Dona Marta. Como eu poderia atravessar a favela preso a aquele monte de esquisitões?

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora