—Lobizón— digo, respirando fundo enquanto olhava para Rafael. Sentia algo estranho, semelhante a uma traição... E inveja. Meu amigo humano sabia mais de meu mundo do que eu. Isso era humilhante!— Acho que eu perdi alguns capítulos, pode recapitular para nós.
—Que dia é hoje?— pergunta Rafael, encarando a lua cheia no céu, estremecendo enquanto me ignorava. Seus olhos tinham um estranho brilho... Ele parecia estar muito impaciente.
—Não importa que dia é hoje!—disse, olhando irritado para ele. Se não responderia minhas perguntas, eu também não estava nem um pouco a fim de responder as dele!
—Sexta— disse Ana, depois de um tempo, talvez tenha notado algo no tom de voz de Rafael. Ana sabia o que ele estava sentindo... Algo que a colocava em vantagem sobre mim na situação— Sexta-feira. Dia 22 de Abril. Por que?
—Merda, merda merda— disse Rafael, olhando para o fogo e procurando um jeito de voltar para o Andurá— Lobizon ou Luison, é o deus da morte, da nossa mitologia. Ele é o sétimo filho de Tau e Keraná, sendo amaldiçoado por ambos. Todas as noites de lua cheia de Terça e Sexta-feira, ele é obrigado a se transformar. O mito dele deu origens aos lobisomens por motivos óbvios. Ele se transforma em lobo. Agora, sua maldição é hereditária, todo sétimo filho de sua linhagem terá a maldição de ser um lobisomem... Já perceberam que o mito do sétimo filho ser um lobisomem é mais frequente no Brasil que no resto dos países?
—Existe um deus Lobisomem?— pergunto com os olhos brilhando. Pela primeira vez em muito tempo, meu fanatismo por coisas esotéricas serviria para alguma coisa... As horas incontáveis que passei tentando provar a existência de lobisomens não seria em vão— Que m-a-n-e-i-r-o.
Ana troca olhares confusos com Rafael, enquanto ele abaixa a cabeça. Obviamente, ele tinha alguma ligação com o deus. Porém, não era semideus, muito menos Curumim, ou os outros semideuses teriam notado, qual seria a ligação?
—Não é nada maneiro Nate— disse Ana, me encarando com severidade— Você passou as férias inteiras repetindo que um lobisomem seria capaz de arrancar uma cabeça com uma mordida... Que eram mais fortes, mais rápidos e que só podiam ser mortos com prata...
—Tecnicamente, esse lobisomem é um deus— disse, a interrompendo— Prata não funcionaria mais do que qualquer outra coisa. Seria como usar uma tesourinha de cortar papel para combater uns traficantes.
—Ah, muito obrigado por nos tranquilizar, Jonathan— disse Ana, batendo a mão na testa— Eu deveria ter trazido aquele arco. Mas agora não temos mais tempo... O que vamos fazer.
Os dois olham diretamente para mim, então sinto um aperto no coração. Eu sempre fui o cara das ideias, mas sem Lizzy, isso havia mudado. Estava costumado a lidar com ela, não sabia o que fazer sem o seu apoio. Maldita ligação!
—Fiquem vivos, não saiam de perto do Andurá e tentem não fazer barulho— disse. Precisei de todo o meu autocontrole para não terminar a frase com "e pareçam o mínimo possível com um filé de carne". Aquele não era o momento ideal para piadinhas.
O som se aproxima, então escutamos um grito cortante vindo do meio da floresta, seguidos por sons de ataque lupinos. Ceci! Esquecemos completamente da Xamã! Ela não deveria estar protegida na floresta? Por que diabos ela havia sido atacada.
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Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore Flamejante
FantasyNate não é o herói da profecia. Nate não está destinado a grandes feitos, ele apenas estava na hora errada e no lugar errado, isso mudou a sua vida para sempre. Jonathan Eperua Carvalho sempre foi um garoto esquisito, mas não do tipo clichê, que sof...