Capítulo 34-Até que ele é bonitinho

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                    Lizzy e eu pegamos outro taxi até a praia. Lizzy havia pego uma camisa preta na loja de Caipora, que jogou para mim, me obrigando a vesti-la no caminho. Afinal, a camisa que estava usando estava em pedaços desde a luta com Kurupi. Eu não podia salvar o mundo parecendo um mendigo, não é mesmo?

                      É, agora eu finalmente entendia a camiseta de Nin. "Eu fui para Belo Horizonte e gostei muito" era lucro, considerando todas as camisas usadas que deveriam ter sido reduzidas a picadinho. Pelo visto, roupas de Kara'iwas não haviam sido feitas para lutas com os deuses.

                     Estava ao lado de Lizzy no taxi, olhando para a janela, com a cara fechada. Já havia superado o lance da ligação... Mas ainda me sentia terrivelmente sozinho e esquecido. Como se minha vida não importasse... Como se alguma vida realmente importasse para os semideuses.

                     A morte de Beni foi superada com tanta velocidade que quase (eu disse quase) me senti mal por ele. Metade de seu corpo havia sido arrancada, mas as pessoas pareceram não se importar com isso... O único pesar, foi algo parecido com derrubar o sorvete na calçada.

                     Triste, mas não se para sua vida por isso.

                    —Nate— diz Lizzy, socando meu braço com mais força do que pretendia, me obrigando a esfregar o braço enquanto olhava para ele— No que você está pensando? Você está muito quieto.

                      —Eu só...— digo, respirando fundo. Volto a olhar pela janela, com os olhos marejados— Estava pensando no que aconteceu com Beni. Se eles nem sequer se importaram com a morte de um amigo deles... Aposto que vão ficar felizes quando eu acabar morto. Não consigo parar de pensar no que aconteceu... Ele está morto Lizzy.

                         Lizzy me olha com o cenho franzido, como se aquilo que eu havia dito fosse ridículo. Então ela arqueia as sobrancelhas e suspira copiosamente. Lizzy estava de transformando aos poucos, em uma grande Xamã. Em breve, ela poderia assumir o lugar de Ceci, sendo aclamada como a Xamã que salvou o mundo.

                           —Nate... Eles não encaram a morte como nós— disse Lizzy, pensando no que poderia dizer— 90% do treinamento Xamã se baseia na conversação com deuses e espíritos. Os semideuses acreditam que aqueles que morrem em missão, vão para a Terra Sem Males, não há nada mais glorioso do que isso. Não há motivo para chorar, se Beni se encontra melhor do que nós agora.

                          —E aqueles que não morrem em missão? Os filhos dos... Perversos?— pergunto, estremecendo

                          —Nate... Os perversos vem do Inferno guarani. Você tem sangue de demônio... Seu destino, assim como o dos outros, que não contribuíram com o bem, é apodrecer no inferno com todos os deuses maus. Se você morresse... Os que se importam com você chorariam por sua morte. Não existe redenção para você.

                             Engulo em seco, assentindo enquanto me encostava na cadeira. Aquilo foi o suficiente. Eu odiava o mundo dos semideuses, queria nunca ter nascido. Depois de tudo... Eu seria punido apenas pelo sangue que corre por minhas veias? Aquilo não parecia justo para mim.

§

                           Todos estávamos parados perto de Lizzy. Ela nos encarava seria, enquanto fazia um círculo humano. Todos dávamos as mãos, encarando-a, enquanto ela fazia os preparatórios. Nin estava parada em um círculo de areia, assim como Piá. Do outro lado, se encontrava o mar, como todo seu explendor.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora