Capítulo 20- Fogo sagrado

59 3 1
                                    



           Todos olhamos para Nin sobressaltados, enquanto ela se apoiava a porta. Meus olhos estavam arregalados, não conseguia dizer nada... Eu poderia ter morrido de verdade! Aquela cobra flamejante poderia me queimar de verdade! Não acreditava que aquilo poderia estar acontecendo de verdade!

               —Você está dizendo que algo queimou Nate?— diz Lizzy, confusa— Mas que diabos? Acha que Jurupari iria tão longe? Acha que o demônio dos sonhos tentaria matar o próprio legado... Não acredito nisso. Acho que deve ter sido uma sobrecarga depois de tantos desmaios místicos.

              Nin olha para a Lizzy com os olhos em chamas. Podia sentir a tensão entre elas. O vermelho flamejante de Nin, imperativo e poderoso... Contra o verde e sábio de Lizzy, toda a magia e acontecimentos impossíveis na ponta de seus dedos. A rivalidade que poderia gerar muito problema para nós.

              —Me desculpe, garota, não sabia que a sua semaninha de treinamento te tornou especialista no mundo mitológico— disse ela, dando de ombros. Lizzy olha para ela, em choque e contendo sua fúria... Naquele momento, fico aliviado por Lizzy não conhecer nenhuma maldição de Xamã— Você o viu, não viu Nate? O demônio flamejante?

                Olhei para ela por alguns segundos. A princípio, não fazia ideia do que ela estava falando. Mas em instantes, a serpente surge em minha mente, se enrolando e exalando chamas, como se estivesse em seu inferno particular... Naquele momento, aquele ser me pareceu um demônio. Ao menos, o mais perto de um demônio que poderia.

               Assinto levemente sem dizer nada. Fecho meus olhos, tentando disfarçar meu completo pavor. Lentamente, a cor de meu rosto se esvai e começo a tremer levemente. Por que diabos tinha que ser uma cobra? Sinto braços me envolverem, mas não os afasto, deixo a que pessoa se aproxime de mim enquanto eu a abraço e soluço.

                   Escuto um barulho alto, um baque terrivelmente alto. Quando me levanto, sinto uma grande decepção apertar meu peito... A pessoa que me abraçava não era Lizzy, era Ana. Lizzy estava parada a frente de Nin, que esfregava a bochecha, que estava com o contorno avermelhado de uma mão... A mão de Lizzy. Ela havia dado um forte tapa no rosto de Nin.

                —Você deixou, sua vaca— disse Lizzy com lágrimas nos olhos— Você sabia o quanto era perigoso para ele desmaiar assim e deixou que ele se arriscasse sem nos avisar! Vocês todos são uns mentirosos e ridículos. Minha vontade é destruir galho por galho desse maldito Andurá.

                Algo me surpreende, antes que algo pudesse acontecer, Ana me solta, se jogando entre as duas. Meus sendo humana, a única em desvantagem no quesito poder, Ana decidiu intervir. A garota empurrou Lizzy para trás, que caiu de bunda no chão, devido a força. Ana levantou o dedo indicador na direção de Nin, como a advertisse que não seria seguro mexer com ela.

              —Parem! As duas! Parecem dois bebês— disse Ana, cerrando os dentes— Sentem-se, vamos conversar agora... Sem agressões físicas e sem omissões...— Ana se vira para Nin, com o semblante fechado— Não queremos mais saber de "Não posso contar, o conselho não permite...". Manda aqueles pirralhos a merda e diz o que sabe, antes que eu solte a Lizzy.

                Nin fica alguns segundos em choque. Ela havia sido agredida e ameaçada em menos de alguns segundos. Vi um misto de sentimentos pairar por seus olhos. Raiva, angústia, traição... Todos passando rapidamente até voltar a sua habitual expressão de tédio. Ela esfrega o rosto mais uma vez, então se vira para nós. Ela não tinha a obrigação de nos dizer nada.

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora