Capítulo 17- O Julgamento

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                 Ok, entrar chutando a porta foi algo exagerado, do qual eu poderia acabar me arrependendo muito mais tarde. Porém... Era um ótimo jeito de chamar atenção, principalmente quando se sabe que eles tinham certo medo de mim... A reação exagerada poderia acabar fazendo com que aceitassem minhas exigências.

                  Nem preciso dizer que não foi o que aconteceu.

                   O que realmente aconteceu foi o seguinte: Todos no local me olharam extremamente nervosos, apenas alguns se assustaram com o ato. Abaixo a cabeça, tomando coragem para encarar o tão temido conselho... Deveriam ser terríveis! Abomináveis, índios gigantes, brutamontes ou velhos intimidações... Meu deus, eu não deveria ter chutado aquela porta!

                   Porém, o que eu vejo quando olho para o Andurá é algo extremamente diferente. Ocupando cada um dos assentos, com nomes complicados, estava um garoto com uma média de 10 anos. Nenhum dos integrantes do conselho parecia ter entrado na maioridade. Precisei fazer todo esforço que podia para me manter sério. Não queria rir na cara daquelas criancinhas, não queria dar esse gosto a elas, para que me expulsassem.

                    —Mas é claro que tem— Diz o garotinho sentado no centro. Seu cabelo era dourado como o sol, embora o resto do corpo fosse tão indígena quanto poderia. Um grande cocar (que mal cabia em sua cabeça), servia para tentar dar-lhe um ar mais imponente, falhando miseravelmente. Em seu pescoço, estava um colar com um pingente de ouro, com o sol esculpido—Todos vocês devem ter, mas só poderá falar quando nós lhe dirigirmos a palavra. Agora, sente-se antes que seja expulso por mau comportamento.

                         Ando pelo local com a cabeça baixa. O salão se assemelhava a um tribunal comum, mas o clima era mais steampunk. Como se eles quisessem avançar e evoluir, mas não dessem o braço a torcer para os homens brancos, evoluindo por conta própria. De certo modo, eu os entendia. Depois de tudo o que os índios brasileiros haviam sofrido... Pelo menos pareciam estar bem agora.

                         Ao longe, avisto Lizzy sentada ao lado de Rafael e Ana, então me aproximo lentamente. Sentando ao lado de Rafael. Enquanto andava pelo salão, os índios me encaravam curiosos. Alguns deles queriam saber mais sobre mim, o curumim branco que ousou acertar vários semideuses na sala de treinamento. Outros, só me detestavam, como deveria ser na lei natural das coisas.

                           O garoto de cabelos dourados pigarreia, cessando o burburinho, enquanto Lizzy me dava um forte tapa na nuca. Nunca tinha visto seu rosto tão vermelho em toda minha vida. Ela apontou para meu rosto, depois fez um gesto, indicando que arrancaria minhas partes íntimas se não me comportasse durante o julgamento. Mantenho a cabeça baixa sem dizer nada, não duvidava das ameaças de Lizzy.

                           —Bem, continuando do ponto em que estávamos antes da interrupção de nosso hóspede... Gostaria que apresentassem um pedido formal, que incluíssem todos os motivos. Caso convençam o conselho ao fim dessa sessão, terão seus pedidos aceitos... Caso contrário, serão feitos prisioneiros.

                            Lizzy aperta meu braço, cravando as unhas com tanta força, que deixar marca era algo inevitável. Olho para o teto, mordendo o lábio para não reclamar. Odiava quando ela fazia aquilo! Mesmo que estivesse nervosa, não podia descontar em mim, mas que saco!

                            Ok, isso pode ter soado meio Playboy da minha parte.

                             Vamos voltar para a história. Todos olhavam para o conselho assombrados enquanto eu só conseguia me concentrar na falta de idade deles... Será que poderia suborná-los com balas? Com os dez anos que tinham, fariam de tudo por balas... Ou pelo menos eu faria na idade deles. Quem sabe usar um fantoche para pedir por favor? Eu também sempre atendia pedidos de fantoches!

Crônicas da Floresta- Livro 1- A Árvore FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora