Recomeço

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Ser criança talvez seja uma das melhores partes da vida, e por incrível que pareça, você insiste em querer crescer. Quer logo ter idade pra fazer tudo o que quiser, sem ninguém pra te dizer o que vestir, o que não falar, e o que não fazer. Até que um dia, você se dá conta que ficou tanto tempo querendo crescer, que quando finalmente conseguiu, percebeu que não era isso que você precisava.

Ter responsabilidades é uma droga, é quando você percebe que se você não fizer sozinha, ninguém mais vai fazer por você. É quando tem tanta coisa acumulada, que dá vontade de ligar pra sua mãe e dizer : "Por que me deixou crescer?". É quando você mais se decepciona com as pessoas, principalmente as que mais ama.

Decepção, essa é a palavra que define a minha vida adulta, e todos os dias eu penso se ela vai ser assim pra sempre. Todo o meu esforço pra crescer resultou em uma reação cósmica, que acabou estragando meu futuro brilhante, segundo os meus pais.

Eles não queriam que a filha deles, criasse um bebê que não era da família, principalmente com dezessete anos. Mas eu me pergunto agora, com vinte e dois, o que seria do meu futuro sem ela?

Duda me ensinou que a vida pode ter um lado bom, e que chegar do trabalho e receber um abraço apertado, ou economizar o ano todo só pra comprar o presente de natal, e receber aquele sorriso junto com aquela euforia. Ela não estragou meu "futuro brilhante", foi ela que me deu um, quando tudo o que eu construí foi destruído.

Aquele pedaço de gente se tornou a minha vida, e é pra ela que eu dedico isso.

Para Duda, a menina que me ensinou o que é o amor.

...

Eu sei que deveria ter levantado há meia hora atrás, mas eu estava exausta. Uma noite antes, tive que acalmar dois pequenos bagunceiros, estavam elétricos.

- Deu chocolates pra eles antes de dormir? - segurei o pacote no ar, olhando incrédula para Vitória.

- Kate, é sério, eu vi na internet que faz bem pra saúde.

- Vitória, são 23h. Em que momento você achou que seria uma boa ideia entupir os nossos filhos de açúcar? - ralhei.

- Eu li a matéria, Kate!

- Vitória... - me preparei pra gritar mais ainda com ela, porém sabia que ela também estava sobrecarregada. Ser mãe solteira já era difícil o suficiente. - pega um copo de água.

- Tá bem.

E assim se foi aquela bobagem de oito horas de sono, que eu nem sabia mais o que era. Normalmente eu dormia umas quatro, no máximo cinco, e era isso. Nunca disseram que ser mãe seria fácil, muito menos se você não tem um diploma.

- Mamãe, você disse que eu ia pra escola quando o relógio estivesse no oito e no zero. - Duda tocou a ponta de meu nariz.

- É verdade, meu amor. O que diz aí no seu relógio? - falei, ainda sonolenta.

- Tá no sete e no nove. Que horas são? - ela disse devagar, já eu, dei um pulo da cama.

- 7h45? Estamos atrasadas! - peguei ela no colo, junto com Henry, que estava na cama junto comigo.

- Ah olha, ela está atrasada que novidade - Vitória disse - Me deve dez reais.

Eu tinha cinco minutos pra arrumar a minha filha e dar café pra ela. CINCO MINUTOS.

- Escova os dentes antes de tomar café, assim economizamos tempo e você come no carro - falei enquanto esquentava o leite no microondas.

Eu estou de pijama! Eu não posso ir com o pijama do Capitão América, no primeiro dia de aula da minha filha.
Troquei de roupa, entrei no carro.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora