O irmão da minha melhor amiga 2

Livro Azul

Alissom

Olhei para o quarto bagunçado de Kate, não sabia como ele conseguia sobreviver naquele furacão. Tínhamos combinado de ir à praia, estava tentando achar as roupas de Duda que não estava sujas, mas parecia que elas eram inexistentes.

Acabei derrubando uma caixa de papelão cheia de livros azuis. Por que Kate teria tantos livros iguais?

"Diário das mágoas"

Ela não iria se importar se eu desse uma olhadinha, não é?

[...]

03 de novembro, 2014

"Alissom disse que me ama, e meu corpo estremeceu. Era estranho que, como até meu nome pronunciado em seus lábios, me arrepiava "

[...]

23 de julho, 2016.

"Hoje faz 84 dias que Alissom foi para São Paulo, estou com muitas saudades. O que me conforta é que isso é apenas temporário, até ele achar um emprego melhor"

[...]

02 de maio, 2017.

"Convenci meu coração de que, Alissom não voltará. Todas as minhas poesias e cada palavra foi em vão; ele refez sua vida em outro lugar e eu não sou mais prioridade"

[...]

15 de março, 2020.

"Greg me beijou, e foi estranho. Mas já está mais do que na hora de superar o Alissom e encontrar uma nova paixão. Ele é passado"

Reconquistar Kate era meu objetivo maior desde que voltei, mas ver ela escrevendo sobre esse Greg... me deu um nó no estômago.
E

ra tudo tão difícil! Ter que mentir para minha filha e para a mulher da minha vida, e ainda perdê-las... era demais para mim.

Eu a amava, mais do que minha própria vida... mas estava na hora de deixá-la ir.

...

- Onde você vai? Acabamos de voltar da praia. - Kate perguntou.

- Eu vou buscar algumas coisas para o café da tarde, não vou demorar. - era mentira.

- Tudo bem, mas não demore, preciso conversar com você. - ela estava séria, provavelmente queria falar sobre Greg.

- Tá bem. - saí, sem rumo, pois não fazia ideia de onde ficava o mercado mais próximo.

Caminhei pela beira do mar, com o vento batendo em meu rosto. Estava silencioso, ninguém estava mais na praia naquele horário.

- Alissom? - ouvi me chamarem.

Me virei para trás, na esperança de que fosse Kate, mas não. Era apenas uma amiga de São Paulo.

- Anna! - tentei demonstrar felicidade.

- O que tá fazendo aqui? - ela perguntou.

- Eu estou passeando. Vim com a minha filha. - falei.

- Ah, quer dizer que eu finalmente vou ter a oportunidade de conhecer sua filha? - ela sorriu.

- Err... claro. Vá até lá em casa almoçar amanhã, e eu apresento as duas. - disse, sabia que era uma péssima ideia.

- Claro! Me passa o endereço depois.- ela se animou.

Tentei me desvencilhar dela, mas quando disse que estava indo ao mercado ela me seguiu. Puxando assunto, rindo de tudo que eu falava.

Anna Júlia era minha única amiga de São Paulo, por incrível que pareça, ela era a única que parecia me entender. Mas tudo acabou ficando estranho entre nós, quando ela tentou me beijar.

Ela era bonita. Loira, com os olhos verdes, alta e independente. Mas não era Kate, e eu nunca conseguiria beijar outra mulher que não fosse ela.

- Bom, e você? O que está fazendo aqui? - perguntei.

- Meu irmão me mandou pra cá, disse que precisava de mim na empresa dele. Eu não entendi, eu odeio serviços administrativos.

- Ah, eu sei bem. - respirei fundo.

- É, você sabe. - ela falou me dando um tapinha nó braço - Ainda está solteiro? - ela perguntou, sempre foi muito direta.

- Sim. - queria poder dizer o contrário.

- Então não deu certo o seu plano com a Kate?

Assenti, tentando não demonstrar que queria chorar.

- Ela gosta de outro? - Anna perguntou, incapaz de esconder sua felicidade.

- Não, mas quer. - disse, por fim.

- Então eu finalmente tenho uma chance? Ótimo. - ela brincou, mas sabia de suas intenções.

- Tenho que voltar. - falei, após terminar as compras.

- Tudo bem, dessa vez você escapou. Mas da próxima...

- Claro. - sorri.

...

- Papai! - Duda gritou ao me ver.

Ela pulou em meu colo como se não me visse há muito tempo.

- Que tanta saudade é essa? - perguntei colocando-a no chão.

- Você demorô, pensei que tinha ido embora.

- Não vou mais embora.

Nunca mais.