Afilhados

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— Você teve contrações a noite inteira? Agnes, pelo amor de Deus! — ralhei, ela estava deitada na cama com o médico monitorando as contrações.

— Mas elas não estavam ritmadas, eu não sabia!

— Vocês duas podem parar de brigar? A sua pressão tá subindo. — ele olhou para Agnes.

— Eu vou me acalmar, eu vou me acalmar. — ela disse.

Agnes espremeu os olhos, lá vinha outra contração. Eu estava em pânico, talvez repensando a ideia ter um filho desse jeito, eu gostava do jeito como tinha ganhado Duda, acho que não precisava de outro bebê.

Gabriel e Alissom bateram freneticamente na porta, uma enfermeira os xingou. Pobres crianças, não sabem nem se portar em um hospital.

— Você está bem, meu amor? — Gabriel perguntou, e segurou sua mão.

— Eu tô morrendo de dor! — Agnes gritou, ainda não havia acabado a contração — Como acha que eu estou?! — socou o braço dele.

— Eu já tentei conversar com ela, mas não funciona quando tá tendo contrações. — falei.

— Por que não me avisou antes?

— Queria ver você levar um soco.

— Não tem como aliviar essa dor? — ele perguntou, parecia desesperado.

— Claro que tem, mas só se ela parar de ser teimosa e aceitar a epidural. — Agnes me olhou com fúria.

— Eu não vou tomar anestesia! Meus bebês vão nascer como eu quiser. — ela esbravejou.

— Tudo bem, amor. Você vai ter eles como você quiser, calma.

— Gabriel, cala boca! — Agnes gritou novamente.

— Eu vou dar uma volta. — Alissom disse, saindo da sala ligeiro.

— Eu vou junto. — falei e saí antes q Agnes me matasse junto.

Alissom deslisou as costas na parede até sentar no chão.

— Partos demoram muito? — Alissom perguntou.

— Bom, pelo que eu me lembre, quando ela for pra sala de parto não vai demorar. O que demora mesmo, é o tempo que ela leva pra chegar na sala, porque tem um monte de coisa pra acontecer ainda, sabe? — dei de ombros.

— Não entendo essas coisas. — ele esfregou os olhos — Eu estaria nervoso se fosse com você, sabe? Não saberia como agir.

— Muito menos eu. — dei risada.

— Um dia a gente vai aprender. Afinal, já somos ótimos pais, não é?

— Óbvio!

Ficamos ali, esperando algum sinal dos meus afilhados. A porta se abria de vez em quando, e nós ouviamos os gritos. E também quando estava com uma contração longa, batia na parede, gritava com Gabriel, xingava seu corpo, entre outras coisas piores.

— Se você gritar comigo que nem ela, eu vou te jogar pela janela. — Alissom disse.

— Eu estou sempre gritando com você. Ou seja, estou te treinado pra quando isso acontecer, viu? Sou uma ótima esposa.

— Ah, sim,"treinando". Então você deve estat treinando desde que nós éramos pequenos, porque você era uma ogra comigo.

Sorri. Não há nenhuma lembrança nossa de criança em que eu não estivesse brigando com ele. Só da vez que eu caí do balanço e ele fez um curativo em mim.

— Talvez eu já soubesse que ia casar com você. — falei.

— É, eu tinha certeza.

— Tinha nada, eu era muito difícil.

— Era? — ele arqueou a sobrancelha.

— Ei, não me xinga. Eu era mais difícil do que agora.

— Realmente. Você até aceitou meu pedido de casamento.

— Viu? Eu não sou tão difícil.

Ele sorriu e me deu um beijo na testa, eu adorava quando fazia isso.

A cama de Agnes saiu rapidamente pela porta. Agora sim o trabalho de partl começaria, e os gritos aumentariam.

Joguei seis partidas de uno com Alissom, não ganhei nenhuma, pra variar. Eu era péssima em jogos.

— Não aguento mais esperar! Eu tô com fome. — Alissom disse.

— Calma, só mais uns minutos.

— Nasceu! — Gabriel gritou no corredor.

Alissom derrubou as cartas no chão. Assim não dá!

— Já dá pra ver? — Alissom perguntou. De onde que surgiu aquela empolgação toda?

— Ainda não, só no horário de visita. Daqui umas duas horas.

— Ótimo, mais duas horas! — ele bufou.

— Calma, você nasceu de sete meses? — falei.

— Kate, sem piadinhas de recém nascido, eu estou bravo. — Alissom cruzou os braços.

Elas eram lindas, pareciam com Agnes, ainda bem.

— Elas tem cara de joelho. — Alissom disse, dei com meu cotovelo em sua costela.

— Daqui a pouco o meu joelho que vai acertar acidentalmente a sua cara. — falei.

— Eu vou achar uma sala de raio-x  pra ver se a minha costela não está quebrada. — ele disse, estava com os braços em volta da barriga.

— Você vai se perder, fica aqui, eu posso ser sua médica particular.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Ah tá, médica particular. Não sabe nem colocar um curativo direito.

— Você que acha.

— Vamos logo ver a Agnes, antes que eu te interne aqui mesmo.

Andamos até a sala onde Agnes estava, haviam mais duas mulheres com seus bebês no mesmo quarto. Ela estava radiante, nem parecia a mesma mulher de antes.

— Não são lindas, Kate? — ela perguntou.

— Sim, são muito lindas. E os nomes? Já decidiu?

— Sim, eu já decidi. Essa, vai se chamar Sol. Minha pequena Sol.

— E essa, Laila. — Gabriel disse.

— Que nomes estranhos. — Alissom sussurrou no meu ouvido.

— Se você falar mais alguma coisa, vai realmente precisar de um raio-x da costela. — falei.

— Eu tô brincando, elas são lindas. — ele sorriu — Mas a Duda é mais.

Sorri, ele estava certo.

De repente, comecei a pensar no dia em que fosse eu nessa sala. Com minha filha ou filho nos braços, tentando escolher o nome, tentando não derrubá-la.

— Aaaah, por favor Agnes! — Alissom me despertou do devaneio.

— Alissom, amamentar faz parte de se ter um bebê! — Agnes o xingou.

— Mas eu não queria ver isso, ah, meus olhos! — ele os esfregou.

— Alissom, vamos dar uma volta? — Gabriel disse, me entregando Laila.

— Por favor! — ele disse.

— Homens! — Agnes bufou.

Laila tinha feições parecidas com a de sua mãe, tão calma, parecia estar em um sonho bom. Já Sol, era mais espavitada, se mexendo e chorando.

Era uma sensação única, segurar aquelas pequeninas tinha um grande valor.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora