Razão de viver

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Kate

Quando eu vi ele com a arma, a única coisa que eu consegui fazer, foi me jogar por cima das crianças, a fim de protegê-las.
Mas Greg não apontou a arma para mim, pois ele estava ao meu lado; ele apontou a arma para frente.

Greg tinha mirado em Caio, mas meu alívio durou poucos segundos, após perceber que Anna Júlia que estava caída  no chão.
Ela havia se jogado na frente, para proteger o irmão. Quem diria que alguém realmente amava aquele monstro.

— Anna? Não, por favor, não! — Caio gritou, desesperado.

Caio serrou os punhos e pulou em cima de Greg, distribuindo socos até deixá-lo inconsciente.

— Já chega! — Ben gritou.

Ninguém sabia o que fazer, ninguém sabia o que dizer, ninguém nem entendeu como Anna Júlia  foi parar na frente da arma.

— Ai meu Deus mamãe, ela tá sangrando! — Duda falou.

—  Vai ficar tudo bem, tá? Eu vou ajudar ela.

Respirei fundo e agradeci pelas noites de insônia, em que eu perdia meu tempo vendo Grey's Anatomy.

— Tá. Eu preciso do seu cinto, Caio!

Ele desafivelou o cinto da calça e me entregou. Pude perceber que o ferimento estava na coxa, pois Greg estava de joelhos quando atirou.

A bala não tinha saído, e isso era preocupante, mas considerando o fato de que não acertou nenhum órgão vital, já era um alívio.
Ela estava desacordada, acredito que pelo choque.

Enrolei o cinto na perna dela e apertei bem, depois coloquei minha camisa xadrez por cima.
Caio a pegou no colo e corremos até o estacionamento; em pelo menos vinte minutos estávamos no hospital.

— Eu vou doar sangue, caso ela precise — falei para Alissom.

— Tudo bem, eu te espero aqui.

Fiz alguns exames e depois tiraram meu sangue. Caio também tirou sangue, e estava bem abalado.

— Ela vai ficar bem. — falei, tocando seu ombro — Você sobreviveu, por que ela não sobreviveria?

— Porque ela é frágil, ela parece forte, mas ela é frágil. E a culpa é minha! Eu deixei o papai levar ela pra Europa, eu deixei ele nos afastar... — a voz dele embargou.

— Não é sua culpa! — tirando o fato de que ele meio que sequestrou a minha filha, me forçando usar a irmã dele como arma, aquilo ali não era, mesmo, culpa dele.

— Se eu não tivesse tido essa ideia idiota, de sequestrar sua filha e me vingar de você, Anna Júlia não estaria aqui — ele levantou os olhos para mim.

— Eu já fiz muitas merdas na vida. Quando se tem uma criança envolvida na sua vida, as suas ações refletem nela, por isso que eu virei essa pessoa acomodada ,com a vida pacata e contínua; por amar tanto ela, a ponto de não querer respirar,  com medo de ferir ou causar mal a ela.

— Me sinto assim em relação à Anna. Ou sentia, até meu pai levar ela pra Europa, querendo que ela estudasse. — ele riu — Como se ela fosse aceitar isso.

— Ela não aceitou?

— Não. Ela deu um jeito de fugir e realizar seus planos mirabolantes.

Dei risada, eu fiz exatamente isso no colégio interno.

— Você não faz ideia de quantas vezes eu estive nesse hospital — falei, me jogando na cadeira.

— Sua vida é meio trágica.

— Meio? Eu diria que é um completo desastre! A Duda não é minha filha de sangue, sabe por quê? Porque os pais dela morreram num acidente trágico, assim como os pais do Alissom. E a Agnes, veio parar no hospital após isso. Depois, fui colocada num colégio interno, e também fugi, e aí conheci a Vitória, que ficou grávida e foi abandonada. Logo depois, fui sequestrada por engano, e meu namorado perdeu a memória. E então ele me deixou e voltou, e eu conheci o Greg, que te ajudou a sequestrar a minha filha, e ainda fez eu perder a memória também. Então, minha vida é completamente virada do avesso.

— Uau. Enquanto isso, eu procuro o sentido da minha. Pensava que Callie era a razão do meu viver, e quando ela me deixou, eu não conseguia enxergar um futuro. Aí rolou o sequestro, e minha razão de viver, foi essa vingança que se virou contra mim. — ele suspirou — Mas, e agora? Qual a minha razão pra viver?

— Sei lá, vai viajar com a sua irmã. Vai aproveitar a vida! Corra pelado pelas ruas de Londres, beije um cachorro, abrace uma árvore. Tem tanta coisa maluca pra se fazer!

— Se eu correr pelado em Londres, eu morro de hipotermia; e sou preso.

— Mas vai poder contar pros seus netos, que correu pelado em Londres!

Rimos e ficamos ali conversando, com as horas passando rápido; e finalmente uma notícia.

— Ela está bem, o ferimento não danificou nenhuma função motora. Seguindo as indicações médicas, ela terá uma boa recuperação  — o médio disse, depois saiu.

Caio me abraçou, e começou a chorar e pedir desculpas. Eu não havia perdoado ele, mas para confortá-lo, eu aceitei as desculpas.

— Eu vou ver ela, avisa pro Alissom que ela tá bem!

Ele correu, como se Anna Júlia tivesse acabado de nascer.

— Ela tá bem... — falei, assim que encontrei Alissom.

— Ah, graças a Deus! — ele me abraçou.

— Onde estão as crianças?

— Levei elas para casa. — fiz uma careta — Elas estavam cansadas!

Fiquei em silêncio por alguns minutos, mas sem que eu pudesse perceber, Alissom estava me compreendendo com o olhar. Ele entendeu que eu estava psicologicamente abalada, mas quem não estaria?
Foram fortes emoções, que no final, acabam dando certo.

Menos para o Greg, que estava preso, e Caio, que logo seria preso também. Ou não.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora