Uma casa maior

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A visão ficou turva e tudo começou a girar. Me senti fraca, tentei dizer algo mas não consegui, pois a voz simplesmente não saía.

  — Kate!

 E tudo ficou escuro e ao mesmo tempo CLARO.

  — Ela está acordando! Ela está acordando!   — Benjamin disse para acalmar Duda.

  — Ai! Minha cabeça  —  sussurrei.

Duda estava aos prantos no sofá repetindo "a culpa é minha". Tive vontade de levantar e abraçar ela, mas minha cabeça doía demais pra isso.

 — Você está bem?

— Sim. Eu acho...

A visão as vezes embaçava e as vezes voltava ao normal.
E eu não conseguia parar de olhar para a pequenina chorando ali no sofá. Eu estava tão certa de uma coisa, estava tão certa!

— Benjamin, eu lembrei! — sacudi seu braço.

Não sabia se lembrava de tudo, mas me lembrava de quase tudo pelo menos.
Percorri os olhos pelo quarto e encontrei um par de olhos fixos em meu rosto. Sua expressão era difícil de interpretar, não sabia ao certo o que queria me dizer.
Mas... espera! De quem era aquele par de olhos tão bonitos?

— Alissom, pergunte algo que só a Kate saberia responder, para termos certeza de que ela lembrou de tudo — Benjamin gritou para o par de olhos bonitos.

— Tá... haaam... Qual o doce preferido da Duda?

— Pudim — sorri ao me lembrar da primeira vez que apresentei o famoso pudim para ela.

Era novembro e ela tinha dois anos, ela havia acabado de almoçar e eu tinha feito o pudim para ela. Seus olhinhos  brilharam ao ver o doce, mas ao invés de come-lo ela espalhou por toda a casa. Acredito que ate hoje tenha vestígios de pudim pelas paredes.

— Você voltou! — o par de olhos me abraçou.

Seu perfume amadeirado preencheu meus pulmões e tive a sensação de estar segurando meu mundo nos braços. Estranha sensação.

— Você lembra de mim, não lembra? — ele perguntou e um silêncio se fez.

O sorriso que estava tanto nos olhos dele, quanto nos lábios, foi perdendo o brilho. Ele seria tão importante que eu precisaria de mais tempo pra lembrar quem era ele? Que ele não voltaria a minha cabeça a não ser que eu o deixasse entrar?

— É normal, não se preocupe. Ela vai lembrar de você, só precisa descansar um pouco — Benjamin disse e ele saiu.

Isso era totalmente ridículo, eu não tinha culpa disso e ele ficou bravo. AAAAAAAAAA quero bater nesse cara.

— Kate, você é complicada! — Benjamin gritou e pegou Duda no colo.

— Sério? Vocês vão ficar bravos comigo por causa que o meu cérebro não gosta desse desconhecido? — abracei Duda.

— Meu, esse desconhecido é o amor da sua vida. Desculpa te contar, mas é que isso já virou uma novela mexicana!

— Como assim? E-Eu não entendi... — gagueijei.

— O negócio é o seguinte, vocês dois se amam mas se fazem de desentendidos e ficam nessa novela de sentimentos. Você ama ele, e terminou com ele porque ele foi pra outro lugar pra conseguir dar tudo o que a Duda e você quisessem, mas você ficou ofendida e achou que ele quisesse se afastar e aí terminou com ele.

Conforme ele falava as imagens iam passando na minha cabeça, as coisas iam voltando devagar e eu ia querendo saber mais e mais.

— Mas aí ele voltou por vocês duas e conseguiu ser transferido para cá, onde o amor da vida dele mora. Só que daí você encontrou um tal menino idiota chamado Greg, que você achou que estava apaixonada só porque ele era perfeito, ou parecia ser e você cagou tudo de novo. Além disso ele tentou seguir em frente e você ficou brava, você largou ele e ainda ficou brava porque ele seguiu em frente, sinceramente você é doente! E pra finalizar com chave de ouro, você lembra de todo mundo, menos dele. Vê se não dá uma bela novela mexicana? — ele parou e sentou no sofá.

— Então, eu acho que eu sou bem idiota mesmo.

Como eu pude ser tão egoísta? Como pude deixar um homem como o Alissom escapar pelas minhas mãos? Como pude matar um  amor tão bonito, por causa de uma coisa tão idiota? Mas ainda não acabou! Eu ainda tô aqui e se for preciso, vou arrancar os olhos de quem se meter na minha frente.

Benjamin riu e levantou do sofá.

— Eu tenho certeza.

— Agora você vai me ajudar a reconquistar o amor da minha vida? Tipo uma fada madrinha?

— Sim, eu sou sua fada madrinha. A fada madrinha mais maravilhosa de todas — ele fez pose.

Eu ter recuperado a memória foi uma coisa boa, porém o meu querido médico ainda precisava me deixar observação por uns dias. E depois que esses dias passassem eu poderia voltar para casa e então bolar um jeito de reconquistar Alissom.

Os dias passaram rápido demais, pois eu fiquei horas na ala das crianças com câncer. Eu amava aquelas crianças, amava mais ainda quando Duda estava por perto, ajudando as crianças a guardarem os brinquedos.

— Aqui está a sua alta, senhorita — Bejamin me entregou e sentou-se ao meu lado.

— Obrigado, senhorito.

Me levantei e fui arrumar as minhas coisas e deixei Duda brincar mais um pouco com as crianças.

Antes de dizer adeus ao hospital que eu passei bastante tempo, peguei uma ficha e preenchi meus dados, eu sabia até meu CPF de cor.
Entreguei a uma das enfermeiras e fui até onde Benjamin e Duda estavam.

— Até mais, fada madrinha — falei e joguei meus braços em volta de seu pescoço em um abraço meio estranho.

— Até mais, maluca.

Peguei Duda pela mão e pus minha mochila nas costas, rumo a parada de ônibus.
Pegar ônibus de manhã é um inferno, todo mundo parece que resolve sair na mesma hora.

Entre chacoalhadas, pisadas no pé, cotoveladas, bundadas, tropeções e esbarradas, chegamos em casa.
Senti o cheiro da desordem logo da escada.

Quando entrei, Vitória estava jogada no sofá  comendo pipoca e Henri estava escalando a cortina da sala.

— Ai. Meu. Deus. — falei pausadamente.

— Kate! — ela caiu do sofá — Não era pra você estar no hospital?

Ignorei a pergunta entrando em casa e vendo a bagunça que tudo parecia estar. E com isso concluí:

— Preciso de uma casa maior.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora