Túnel

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Abri a porta com tanta força que acabei batendo com ela na cara de Alissom.

— Kate! — ele disse, colocando a mão na testa.

— Ah, meu Deus! Eu não sabia que você... o que você tava fazendo atrás da porta? A culpa foi sua! — gritei, vendo as malas no canto da sala.

— Eu estava indo te procurar! — ele disse, seus olhos demonstravam preocupação.

Odiava quando ele demonstrava o mínimo de cuidado comigo quando estávamos brigados. Era sempre assim: eu ficava brava com ele, querendo matá-lo, e ele vinha com voz doce, pedindo desculpas ou me beijando...

— Você... se machucou? — perguntei, tentando não demonstrar que ele havia me desmontado.

— Acho que só cortou um pouco. — ele tirou a mão da testa — Tá sangrando. — o pequeno corte se revelou.

— Bom, agora eu tenho muito medo da minha força. — falei, puxando a mão dele até a cozinha.

— Acho melhor eu não entrar na cozinha, Kate.

— Bom, os remédios e curativos estão lá. E eu não vou atacar você, a não ser que você me peça. — no minuto seguinte, quis engolir o que eu tinha dito, foi impensado.

— Não. Sei que está brava comigo, não pediria uma coisa dessa só pra satisfazer meus desejos e deixar você se sentindo culpada depois. — ele ajeitou uma mecha do meu cabelo.

— E se... — engoli seco.

— E se? — ele me encorajou.

— Se eu pedisse a você.

— Bom, quando eu voltar, a gente pode resolver essa situação. — Alissom segurou minha mão.

— Até você voltar, já inventaram a cura do câncer — resmunguei, e saí do cômodo pisando duro.

— Kate, por favor! — ele resmugou de volta.

Entrei em meu quarto e quis bater a porta, mas Duda e Henry estavam dormindo juntos na minha cama. E com certeza, isso os acordaria, e deixaria minha filha muito zangada.

No mesmo segundo, meu celular vibrou. Olhei imediatamente, torcendo desesperadamente para ser Alissom dizendo que não iria embora, e era apenas uma brincadeira. Mas havia apenas uma notificação: @Greg_ferreira começou a seguir você.

...

— Eu queria que você ficasse com a Duda, às 19h, mas agora não tenho mais certeza se devo realmente fazer isso. — gritei com Bruno, após ele ter dado um urso gigante para Duda.

— Eu não sabia que ela era alerg... espera! Onde você vai? — ele levantou a sobrancelha.

— Sair.

— Sair pra onde? E com quem? — ele cruzou os braços.

— Com um estranho, que talvez me sequestre e me mate logo depois. — dei de ombros.

— Eu devo me preocupar?

— Acho que não. Mas se eu morrer, a minha filha não vai ficar com você. — falei, saindo do cômodo.

Já fazia duas semanas que Alissom estava fora. Nem um telefonema, nem uma mensagem, nem mesmo um sinal de fumaça!
E eu que estava apenas enrolando Greg, resolvi, movida pela raiva, me dar essa chance de sair com alguém novo. Talvez não desse em nada, mas eu iria tentar, dar essa pequeno passo.

— Eu estou saindo, tá? E por favor, eu sei que você tá tentando conquistar a Vitória, mas será que dá pra prestar a atenção na minha filha?

— Eu vou prestar, Kate! Além do mais, sua amiga está deixando bem claro que não me quer por perto. — ele me empurrou até a porta.

Duvidava muito! Ela acordava cedo todos os dias apenas para arrumar o cabelo e se maquiar, o que não era típico da nova Vitória. Minha amiga não fazia mais esse tipo de coisa, aprendeu na marra a ser como eu, ganhando tempo e praticidade.

Peguei o elevador, Maicon, noivo de Vivian, estava nele.

— Dona Kate. — ele sorriu, me cumprimentando com um beijinho.

— Dono Maicon. — falei, ele deu risada.

— Toda arrumada. Vai sair, é?

— Às vezes é bom.  — sorri, mas pareceu um esforço.

— É com o cara que você acabou de conhecer?  — ele perguntou.

— Eu não acredito que a Vivian foi abrir aquela boca dela! Eu vou matar a sua noiva. — grunhi.

— Mas ela tem razão em uma coisa, Kate: seu coração bate pelo Alissom. — Maicon perguntou, o que fez meu estômago embrulhar.

— O Alissom... — respirei fundo, sentindo o aperto no estômago aumentar —  é passado.

Ele assentiu, um pouco sem jeito. Depois disso, não falou mais nada, apenas se despediu quando chegamos ao térreo. Greg estava na porta, me esperando com um buquê de flores, senti meu estômago se embrulhar novamente.

Argh! O que eu estava fazendo?

— Estou atrasada? — perguntei, assim que cheguei mais perto.

— Não, eu cheguei faz pouco tempo. — ele me estendeu o buquê — São pra você.

Fuck. Fuck. Fuck. Fuck!

— Então, vamos? — falei, tentando disfarçar minha vontade de vomitar.

Não, eu não queria mais ir. Eu quero voltar pra casa, eu queria encontrar e abraçar o Alissom.

— Vamos. — ele parou do meu lado.

Caminhamos um pouco, pensei que iríamos a algum restaurante, ou sei lá, mas ele me levou até uma praça, e bem atrás dela, havia uma grande passagem de árvores com flores roxas, era simplesmente... magnífico!

— Ai. Meu. Deus. — falei quase boquiaberta.

— Eu pensei que iria gostar. — ele deu de ombros.

— Gostar? Eu amei! —  falei, ainda boba.

— Que bom que gostou. É meu lugar favorito na cidade.

— Por que me trouxe aqui? Quer dizer, se eu tivesse achado um lugar desses, eu não contaria pra ninguém!

— Fiz isso pra impressionar você. Porque sinceramente, é a mulher mais bonita que eu já conheci. — ele segurou a minha mão.

Devagar, ele veio se aproximando, como se quisesse me beijar, mas eu olhei para o lado rapidamente, dizendo que estava com fome. Ele se ajeitou e apontou para a carroça de cachorro quente a alguns metros dali.

Começamos a conversar, ele era encantador. Tinha um jeito, sei lá, era tímido e ao mesmo tempo, tão solto. Ele era muito bonito, de fato, os olhos verdes, cabelos castanhos, maxilar definindo, boca... bom, não prestei muita atenção nesse detalhe.

Ele tentou dar algumas investidas,  tentando me beijar. Mas eu me esquivei de todas elas, ainda era cedo para outro homem me beijar. Ainda sabia o gosto de Alissom, não ousaria provar outra pessoa. Pelo menos não esta noite.

— Eu adorei o passeio, mas tá ficando tarde, e eu tenho que ir pra casa — falei, olhando no relógio.

— Claro, eu a acompanho. — ele disse, me oferecendo o braço.

Tudo bem, eu havia me decidido: me apaixonaria por Greg, seria melhor para meu coração. Já estava na hora, Alissom era passado.

Ou será que não?

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora