Kate
A delegacia estava lotada. Muita gente falando ao mesmo tempo, barulho de telefone, papéis sendo grampeados, gritos... um verdadeiro caos!
Em meio a toda aquela bagunça, meus olhos encontraram os do meu tio Ben; finalmente alguém conhecido.
Um sorriso de orelha a orelha tomou seu rosto, e ele caminhou até mim.— Kate! Que bom revê-la, minha sobrinha — ele me abraçou, dando tapinhas em minhas costas.
— Oi tio, também senti saudades — minha voz quase não saiu, pois eles estava me esmagando.
— Mas... o que faz por aqui? Algum problema com a família? — ele pareceu preocupado.
— Podemos conversar em um lugar mais reservado?
— Claro!
Ele nos conduziu até sua sala, onde haviam muitas pilhas de papéis sobre a mesa, café e uma foto das minhas primas.
— E então? — ele sentou -se na cadeira giratória.
— Duda, a minha filha, ela foi... — engoli seco — sequestrada.
— Como aconteceu?
— É uma longa história, sério! Não temos muito tempo... Eu sei quem são os sequestradores, só preciso da sua ajuda pra encontrá -los — supliquei com os olhos.
— Você está ciente de que isso é muito perigoso, não está? — ele bebericou o café.
— Digamos que eu tenho uma grande bagagem no quesito "perigo" e "catástrofes".
— Pois bem, eu vou ajudá-los.
— Eu sabia que podia contar com o senhor! — o abracei forte.
Fiquei ali por algumas horas, falando sobre os sequestradores e de como tudo aconteceu. Meu tio se espantou, mas também, quem não se espantaria?
Quando consegui voltar para casa, o sol já estava se pondo.— Vai ficar tudo bem, tá? — Alissom me abraçou, e eu senti um nó na minha garganta.
Ele tinha o poder de me acalmar com seu abraço, só que dessa vez eu sabia que nem ele e nem nada do que ele fizesse, iria me acalmar.
Tudo que eu queria agora, era abraçar a minha pequena e não soltá-la nunca mais. Nunca mais inventar de deixar ela sozinha, nunca mais me envolver em sequestros, tiroteios e prisões.
Com a minha mania de querer ser "normal", acabei estragando a vida da minha filha, e se algo acontecer eu nunca vou me perdoar.Quando chegamos em casa, o silêncio se instalou. Vitória estava jogada, aos pés das roupas de Henri e Bruno tentava consolá-la.
Bruno acabou desenvolvendo um carinho muito grande por ela, eu diria que mais do que só um "carinho", mas ele com certeza iria negar.— Eu sei que você está abalada, mas você precisa comer alguma coisa! — Alissom ralhou, quando neguei a sua comida.
Não é que eu não gostasse da comida dele, porque até que ela era boa, mas o problema era que eu não conseguia comer quando estava ansiosa.
— Eu não estou com fome! — cruzei os braços — Já falei pra você que eu vou comer depois, mas agora eu não quero!
— Você é muito teimosa, sabia? — ele jogou o prato na pia — Não, você não é teimosa; você só acha que os outros não podem cuidar de você! — ele bufou.
Espera, ele estava brigando comigo? Sem eu ter feito nada?
— Ei! Eu nunca falei isso!
— É! Nunca falou, mas também nunca deixou de demonstrar o quanto você odeia isso!
Tá, isso é meio que verdade. Não gosto que os outros cuidem de mim, é o meu jeito. Agora eu vou ter que mudar só porquê o querido quer? Ata né!
— Se você não gosta do meu jeito, a porta tá ali — indiquei com o dedo — é só sair!
— Você sabe que eu não vou sair... — ele murmurou, parecendo magoado.
— E por quê?
— Porque eu te amo, Kate! Eu te amo, caramba! — ele gritou e socou a pia.
— Eu também te amo, caramba! — gritei, sem me dar conta.
Ele finalmente se virou, me encarando. Havia uma sombra em seu rosto, algo que não conseguia decifrar.
Dor, mágoa, talvez raiva, ou... medo?Fui até a cozinha, de onde ele me encarava. Segurei sua mão, que estava fria, como nunca esteve.
Sim, ele estava com medo! E eu, com meu egoísmo só pensei na minha dor e nos meus motivos...
Burra!Nunca fui muito boa em consolar as pessoas, pelo menos não com palavras, e naquele momento eu sabia o valor delas. Entretanto, por eu conhecer Alissom como a palma da minha mão, eu sabia que ele não queria palavras naquele momento; ele queria gestos.
Afundei meu rosto em seus pescoço o abraçando da melhor maneira que eu podia. Seus peito se agitou, subindo e descendo rápido, e agora ele começava a soluçar.
Não que eu já não tivesse visto ele chorar, mas daquela maneira? Naquela intensidade? Nunca! E isso me espantou.
— Eu... sempre... quis ser pai! — ele dizia entre os soluços — E quando... finalmente eu... consegui... — ele desabou.
— Não foi culpa sua! — me desvenciliei de seu abraço molhado e segurei a ponta de seu queixo — Por favor, não se culpe por algo que não dependia de nós.
Ele me olhou com aquelas íris claras, um tanto vermelhas e borradas agora, e encontrou um caminho para acabar com a choradeira. O problema de quando ele me olhava assim, era que geralmente, eu não conseguia não pensar em beijá-lo.
Então foi o que eu fiz... grudei a minha boca na dele, tentando transpor toda a minha coragem para o seu coração.Mas fomos interrompidos pelo barulho do meu celular tocando.
— Alô?
— Alô, Kate? É o Ben! Eu sei onde tá a Duda e o Henri!
— Você sabe?! — arregalei os olhos, colocando a mão no peito.
— Eles estão na empresa do pai do Caio; no sótão. Uma vizinha denunciou!
— Eu tô indo aí, me espera tio, não faça nada ainda! Eu tenho um plano!
Eu tinha vários planos, quase todos envolviam a morte do Caio, mas de que adiantaria eu matá-lo e ficar anos na prisão, perdendo toda a infância da minha pequena? Nada!
Então eu tinha um plano muito bom, e ele iria funcionar, ele tinha que funcionar!
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O irmão da minha melhor amiga 2
Teen FictionDepois de quase 6 anos, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Uma filha e muitas descobertas. Novas paixões, novas surpresas; novos sentimentos. A baixinha marrenta que achava que a vida adulta era mais fácil; descobriu que estava errada... Não é...