Não merecia

980 79 4
                                    

— Eu tenho que ir pra casa. —-
falei, assim que percebi que ele tentaria me beijar de novo.

— Hãn... tá bom. — ele pareceu desconcertado — Eu te levo.

Mais meia hora num carro fechado com ele? Não, por favor, não!

— Na verdade, não precisa. Eu vou pegar um táxi, não se preocupe. — falei, colocando meus tênis de volta e entregando o casaco para ele.

— Eu fiz algo? — ele perguntou.

Sim, você me beijou.

— Não, Greg. É que eu combinei com a minha amiga que iria ajudar ela com... um trabalho da faculdade! — menti — E ela acabou de mandar mensagem que está vindo me buscar.

Ele me estudou por um segundo, depois pegou minha mão e me beijou novamente. Pronto, agora eu estava duplamente ferrada.
Forcei um sorriso após o beijo, ele parecia ter ganhado na loteria, me senti mais culpada ainda. Greg era legal, merecia alguém que o quisesse, e eu... não sabia o que queria.

Saí de lá quase que voando, parei ao lado de uma árvore, disquei alguns números e liguei.

— Vivian, será que você poderia vir me buscar?

...

O silêncio daquele carro estava ainda mais contrangedor do que eu imaginava. Vivian estava obviamente magoada comigo, e não queria falar ou olhar para minha cara, mas eu sabia que não aguentaria por muito tempo.

— Por que ele não te levou? — ele perguntou.

Respirei fundo.

— Porque ele me beijou e eu tive que arrumar uma desculpa pra ir embora.— falei, não fazia sentido mentir.

— Ele o quê?! — Vívian gritou, freando abruptamente o carro.

— E agora o Alissom vai me odiar pra vida toda. — falei, as lágrimas de culpa já estava se empoçando.

— Ah, Kate! Por que você não me ouviu? — ela voltou a dirigir.

— Eu só to cansada, Vivian. Não quero ficar a vida toda esperando uma pessoa que não sabe o que quer!

— Amiga, desculpa, mas você também não sabe.

Era verdade, e se tornou ainda mais verdade quando abri a porta de meu apartamento naquela noite, após muita conversa com a Vivian. Um par de olhos azuis, estava me esperando na sala, todos já haviam dormido.
Alissom estava no escuro, apenas com o abajur do lado do sofá aceso. Rodolfo estava aninhado em seu colo, dormia profundamente, tanto que nem se mexeu quando fechei a porta.

— Como foi o seu encontro? — Alissom perguntou, mal me olhou nos olhos.

— Não importa. O que tá fazendo aqui? — eu não iria conversar sobre aquilo com ele.

— Não estou julgando você, Kate. Eu já esperava que isso fosse acontecer alguma hora, apenas não estava preparado. — ele ignorou minha pergunta.

Sentei ao seu lado no sofá, aquilo seria doloroso, mas era a verdade.

— Ele me beijou. — falei, esperando que ele fosse surtar.

— É óbvio que beijou, já se olhou no espelho? Que ser humano não iria querer beijar você? — ele estava visivelmente irritado, mas não comigo.

— Não respondeu a minha pergunta.— mudei de assunto.

— Eu tinha planejado ficar. — ele olhou bem fundo nos meus olhos, sabia o que estava tentando fazer.

— Tinha? Não planeja mais?

— Você não me quer aqui. Suas atitudes deixam isso bem claro. — respirou fundo.

Como ele estava enganado!

— Você pode ficar, Alissom. — falei, me levantando do sofá — Faça isso pela sua filha.

Ele segurou minha mão, e ficou de frente para mim, exatamente como Greg estava minutos antes. A grande diferença, foi o frio na barriga que eu senti enquanto ele se aproximava de mim. Não era medo, não era dúvida, muito menos culpa. Era saudade.

— Só pela nossa filha? — ele disse, sussurrando a milímetros da minha boca.

Não me atrevi a dizer "pela mãe dela também", mas ele pareceu ler isso em meus olhos.

— Você merece ser beijada por alguém que ame cada pedacinho do seu ser. — ele disse, antes de encontrar nossas bocas, selando a frase. Dizendo eu te amo nas entrelinhas.

A enorme diferença de ter sido beijada por Alissom, nada tinha a ver com técnica. Sim, ele beijava muitíssimo bem, mas Greg não ficava pra trás. O que me despertava, o que tirava meus pés do chão era: o grande amor que ainda sentia por ele.

Mas Alissom se afastou, me dando um beijo na testa e se conduzindo a seu antigo quarto. O que havia sido aquilo? Eu havia feito algo?
Tirando o fato de eu ter beijado outro cara...

Infelizmente, não importava o quanto Alissom me magoasse, eu ainda o amava de formas extraordinárias, e nunca deixaria de amar. Greg não merecia isso. Alissom não merecia isso.

Eu era um monstro.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora