Macarrão com molho

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Se existisse um momento da vida em que tudo começasse a dar certo, eu realmente já tinha pulado aquela parte. Tudo o que eu dizia, tudo o que eu fazia, nada parecia correto, nada parecia se encaixar, nada fazia um real sentido.

As vezes eu só queria dar menos importância para tudo aquilo. Queria não ficar triste, nem magoada com as coisas, mas era inevitável, até porque, eu era um ser humano e tinha sentimentos. Mas até quando as coisas iriam afetar tanto a minha visão sobre o mundo? Até quando as palavras negativas iriam transformar o meu dia em cinzas?

Até quando eu deixaria que as pessoas mandassem na minha saúde mental?

...

Entrei no carro junto com Alissom e as crianças, percorremos o trajeto ate a praia em silêncio. Em 20 minutos já haviam adormecido, era cedo.
Vitória e Bruno tinham ido no outro carro, graças a mim, mas não foi uma boa ideia fazer isso.

— Eu não estou falando com você, Vitória. — Bruno gritou, havíamos chegado há cinco minutos.

Vitória nos olhou, constrangida. Queria chorar, mas manteve sua pose, e se retirou de forma discreta, indo até o banheiro socar a parede.

— É, ajudamos bastante.  — Alissom disse, estava sendo irônico.

— Mania minha de querer achar romantismo em tudo, perdão. — falei, retirando a louça da mesa.

— Está triste com alguma coisa?

— Estou. Na verdade eu enxergo poucos motivos para se estar feliz. — falei, as lágrimas surgindo.

— Ah, eu vejo muitos. Eu vejo a Duda, o Henry, essa casa, a praia, o mar, o oxigênio...
— ele disse, estava tentando me animar.

— Estar feliz não é o mesmo que ser feliz. Eu sou feliz, apenas não estou feliz. — comecei a ajeitar a sala.

— E o que te faz tão infeliz nesse exato momento? — ele segurou minha mão, para que eu pudesse olhá-lo.

— Sinto falta de como as coisas eram. A simplicidade e... — olhei em seus olhos.

— E...?

— Você. — foi quase um sussurro.

— Existem coisas que você não pode compreender agora, Kate. — ele disse, estava com a voz calma.

— Alissom, você pode confiar em mim. Por que passou seis anos longe? Por que sempre diz que não tem escolha? Do que você tem tanto medo? — perguntei, quase que implorando para que me desse uma explicação.

— Eu não posso, Kate. Não posso explicar a você. — ele se retraiu, se afastando um pouco.

— Tudo bem. Eu só queria um motivo pra poder culpar a sua ausência, mas pelo visto, é toda sua.  — falei, em tom de desdém.

Até quando iria doer daquela maneira?

— Podemos ir logo, mamãe? Quero ver o mar! — Duda disse, puxando a barra da minha blusa.

— Sim, meu amor. Vá colocar seu biquíni. — nem foi preciso terminar a frase para ela sair correndo arrastando Henry.

— Ah, entendi.

— Entendeu o quê? — perguntei, confusa.

— Bruno vai ver Vitória de biquíni, não vai conseguir resistir a ela. — ele falou.

Franzi a testa, Alissom tinha essa grande mania de me distrair dos assuntos que ele achava periogosos, me fazendo rir ou me fazendo ficar irritada.

— Eu nunca faria isso com ela. Isso seria muito imoral, é quase um assédio. Sexualizar o corpo dela apenas pra que eles façam as pases não é uma atitufe correta. — disse, estava irritada.

— Tem razão, não seria legal fazer isso com ela. Desculpe insinuar isso, foi bobo da minha parte. — sua boca se estendeu em linha fina, ele estava com vergonha.

— Você não mudou nada. — comecei a rir, o deixando confuso.

— Como assim? Do que está rindo? — ele cruzou os braços.

— De você. Ainda age como quando éramos crianças... alguém te repreende e você fica com vergonha.

— Não sou tão corajoso como você, que sempre retribui uma repreensão com uma ironia. — ele sorriu.

— Ah, isso é um elogio para mim. — sorri de volta.

— Sei que é.

Ficamos em silêncio, nos olhando por longos segundos. Mas logo depois, saiu para começar a preparar o almoço, enquanto eu levava as crianças na praia.

— É sério, Kate. Ele não quer papo comigo, ficou o tempo todo em silêncio. — Vitória choramingou, quando estávamos sozinhas na praia.

— Vitória, você fez alguma coisa para ele? Porque no começo vocês estavam bem interessados... — falei, passando protetor no rosto das crianças.

— Eu só tentei usar as minhas técnicas de conquista.

— Que são...?

— Ignorar ele pra achar que não estou afim, fazendo ele correr atrás e... — a começou, mas a interrompi.

— Nem precisa terminar. 

— O quê? Eu fiz errado?

— Sim, é óbvio! Você está confundindo as coisas, Vitória. Você podia conquistar os adolescentes desse jeito, mas não os adultos. Se voce ignora um adulto, ele não corre atrás, ele desiste.  — falei.

— Então o que os adultos fazem?— ela perguntou, me fazendo rir. Como se eu soubesse.


— Eu acho que adultos não fazem joguinhos, apenas demonstram interesse. Se você gosta dele, apenas diga ou aja assim. — falei, observando Henry puxando a mão de Duda em uma onda grande demais para ela.

— Mas isso é muito fácil!  — ela franziu a testa.

— Mas é pra ser fácil, Vitória. — falei, me lembrando da minha situação ridícula.

— Então é só eu demonstrar interesse?

— Sim.

— Você pode ficar com o Henry hoje? Vou convidá-lo pra sair. — ela disse, pegando o celular.

— Eu não tenho opção, né.

— Que bom que você sabe. — ela sorriu— Alô, Bruno? — ela falou, estava com o telefone na orelha.

Ponderei sobre a minha situação, estava dividida. Nem sabia porque estava dividida... eu não gostava de Greg. Quer dizer, eu gostava dele, mas não do jeito que se gosta pra estar junto.

Então porque eu simplesmente não seguia meu próprio conselho? Ah, certo, não adiantava demonstrar interesse em uma pessoa que não parava em casa um segundo.

Ele ficaria tempo o suficiente para eu o conquistá-lo, ou iria embora antes disso? Sempre assim, tudo confuso e nenhuma resposta.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora