Mentira

1.5K 104 3
                                    

— O papai disse qual é o meu presente?— Duda perguntou, assim que coloquei o telefone no lugar.

Ponderei a situação por alguns segundos. Eu poderia falar pra minha  filha que o pai dela era um otário, e sabe se lá porquê, ele não viria pra mais um aniversário dela. Mas decidi que seria traumático demais pra minha pequena, então optei por simplesmente mentir pra minha  filha. Bom, era muito errado, sim, mas o pai dela era um grande mentiroso, então eu não precisava me preocupar.

— Ele comprou uma coisa que você vai gostar muito. — menti.

— E o que é? — ela perguntou, sorrindo. As bochechas estavam vermelhas, era assim que ela ficava com estava ansiosa para alguma coisa.

Tudo bem, talvez tivesse sido uma péssima ideia mentir pra ela, mas eu não tinha escolha. E depois, era só eu comprar um presente pra ela e dizer que foi ele quem deu.

— Surpresa. — sorri, nervosa.

Ela cruzou os braços, pronta pra argumentar, assim como eu sempre fazia. Bom, ela podia ter sangue Bittencourt, mas sempre seria uma Almeida. Alguns segundos depois, vendo que eu não iria ceder, foi até o corredor e chamou Henry para brincar.

— Ele não vem? — Vitória perguntou, encostada na coluna da cozinha com um café nas mãos.

Suspirei, exausta.

— Não, ele não vem. — falei.

— Ela vai chorar por muito tempo.

— É, vai. Mas talvez eu faça um clone legal do Alissom. — falei, Vitória riu.

— Será que dá pra fazer um pai pro Henry?

— O Henry não precisa de um. Ele tem duas mães, o que aquele babaca vai fazer como pai? — falei.

— Não, Kate. — ela bateu com a mão na testa —  Eu quis dizer que queria um namorado pra mim. — ela sentou no sofá, coberto de brinquedos.

— Eu queria muito que os caras não fugissem logo depois de eu dizer: tenho uma filha de seis anos. — suspirei.

— Sabe quem a gente parece? A Lilly Colins, a Rose, do filme "Simplesmente Acontece". — Vitória disse.

Olhei para a cozinha, as cenas fluiram naturalmente na minha cabeça. As receitas, as brigas, os beijos... tudo pelo ralo. Bom, tirando a filha, eu não tinha nada a ver com a Rose, porque pelo menos, ela seguia a vida dela não importava a circunstância. Já eu, me via empacada num relacionamento que nem mesmo teve um fim.

— ... hoje? — ouvi a última palavra da frase de Vitória.

— O quê? — balancei a cabeça para afastar as lembranças.

— Eu perguntei se vai buscar o Henry hoje. — ela repetiu — Tá com a cabeça onde?

— Desculpa, eu me distraí. Eu não posso buscar ele hoje, a Agnes vai vir aqui com a mamãe.

— Já estava na hora... — Vitória suspirou.

— Eu torço apenas para que eu não tenha que me estressar. — falei, começando a arrumar os brinquedos espalhados.

Henry trouxe Duda para a sala, e os dois juntaram as peças de lego do tapete. Eles eram tão lindos, estavam tão crescidos!

Depois de algum tempo, Vitória acabou se acostumando com a ideia de que a minha mãe podia ser uma pessoa um pouco exagerada. E sabia que era melhor que a casa estivesse sempre muito bem organizada, caso ela chegasse de surpresa. As crianças também já haviam notado o quanto ela podia ser ranzinza, por isso, depois de brincar, quase sempre, arrumavam as coisas.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora