Alissom
— É quase impossível encontrar um cara como você, sabe? Bonito, cheiroso, inteligente. Só falta saber se você beija bem. — Anna Júlia disse, antes de roubar um beijo que, alguns minutos antes, deveria ser de Kate.
Ela me agarrou de tal forma, que eu não pude me desvencilhar, e não queria empurra-la para não a constranger. Até que eu pensei "por que eu não poderia beijar outra garota? Kate beijou aquele tal de Greg", foi meu maior erro fazer isso por vingança.
Minutos depois do beijo, Duda começou a gritar, e eu me assustei, pensei que ela havia caído e se machucado. Mas era muito pior do que eu pensava.
Kate estava desacordada no chão do quarto, segurei a cabeça dela e senti minhas mãos encharcarem com um líquido quente. Era sangue!
Então a correria começou. Duda chamando Kate, eu tentando não chorar, e Bruno querendo me bater.
As crianças ficaram com Vitória, eu, Bruno e Anna fomos para o hospital.Chegamos ao hospital mais próximo da praia, e lá os médicos levaram ela para uma sala de trauma. Não deixaram eu entrar junto, e quase bati em um dos enfermeiros que me barrou, eu estava nervoso.
O tic-tac do relógio me tirava dos pensamentos pessimistas, mas não fazia com que eles desaparecessem.
A cada cinco minutos, Bruno me lembrava de como eu tinha culpa nisso, o que me deixava mais nervoso ainda.— Como eu vou preencher a ficha dela, se eu não sei nada sobre esses dados?! — Bruno gritava com a enfermeira.
— Senhor, se você não se acalmar eu vou ser obrigada a chamar a segurança. — a enfermeira disse.
Peguei a ficha da mão dela e preenchi os dados. Em seguida, entreguei-a na mão da enfermeira.
Duas horas haviam se passado e nenhuma notícia da Kate. Eu estava sem nenhuma ideia do que havia acontecido, e queria muito ouvir isso dela.
— Quem responde por Kate Almeida? — um homem disse, era o médico.
— Eu! — falei, me levantando rápido.
— Sou o Dr. Brandão. — ele apertou a minha mão — Ela teve uma concussão, provavelmente bateu em algo pontiagudo quando desmaiou, isso explicaria o corte, ela ficará em observação por algum tempo, para saber se a pancada ocasionou mais alguma reação.
— Eu posso vê-la?
— O horário para visitas é bem rígido, infelizmente, você vai ter que esperar. Além do mais, ela está sedada. Se me der licença, vou voltar ao meu trabalho.
O médico saiu e desapareceu pelos corredores.
Tudo bem, Kate estava bem. Meus músculos se descontrairam um pouco, pude relaxar. Fechei os olhos, apenas por um segundo, e acabei adormecendo na cadeira.— Alissom, a enfermeira disse que a Kate já pode receber visitas. — Bruno me sacudiu.
Corri até a sala 701, a enfermeira me esperava na porta.
— Antes de entrar, o médico mandou avisar que Kate só pode receber uma visita por dia.
— Por quê?
— Ela está muito confusa, não lembra de nada, sua memória simplesmente apagou. Acabou de fazer uma bateria de exames pra saber se isso é grave, então talvez ela não lembre quem você é, e aja com agressividade.
Aquilo foi um baque. Kate, sem memória? Era isso mesmo que eu havia entendido? Eu já tive amnésia, sabia como era horrível esquecer da própria vida, mas será que Kate ficaria boa?
— Tudo bem.
A enfermeira abriu a porta e eu entrei de mansinho. Kate me olhou fixamente, levantou sobrancelha e disse:
— Cadê meu pudim de chocolate? Eu tô morrendo de fome! — ela gruniu.
Sorri. Ainda era a Kate.
— Eu não sou médico, Kate. — sentei na beirada da cama.
Kate me olhou nos olhos, tinha uma faixa envolta da sua cabeça, mas ela não parecia incomodada, olhou para o meu cabelo, e olhou para o seu.
— Você não é meu irmão, né?
— Não, eu não sou.
— Então quem é você?— ela perguntou.
— Meu nome é Alissom. Eu sou o irmão da sua melhor amiga.
O que eu iria dizer? Que sou o ex namorado que ela odeia?
— E onde que tá a minha melhor amiga?
— Em casa, repousando. Ela está grávida, sabe? Não pode ficar nervosa.— falei, e ela me observou atentamente.
— Ah, entendi. E por que você tá aqui?
— Por que eu conheço você desde pequena, e toda vez que você se machucava, era eu quem tinha que fazer curativos e te cuidar. Não seria diferente nessa ocasião. E também porque a gente meio que está muito longe de casa.
— Então você me conhece bem? Pode me contar alguma coisa de que eu goste? — ela pediu, seus olhinhos brilhando.
— Você gosta de comer besteiras, assistir filmes românticos, ah, e odeia rosa. E não sabe disfarçar quando está com ciúmes. Tem quatro irmãos e um deles é casado com a minha irmã.
— Ah, então somos da mesma família! — ela cruzou as pernas, parecia empolgada.
— Digamos que sim. — mal sabe ela com quem tá falando.
— E qual é minha música favorita?
— I Have nothing, com total certeza. Você é completamente apaixonada pela Whitney Houston, tanto que quase fez uma tatuagem com a cara dela, sorte que sua mãe não deixou.
Kate se entreteu com suas próprias histórias, e vou confessar que eu estava completamente imerso naquela conversa, quase havia me esquecido de onde estávamos. Conversar com ela sempre foi fácil, sempre foi natural, e fazia tempo que a gente nao sentava pra conversar sem brigar.
Mas, infelizmente, fui enxotado do quarto por quase estourar o horário de visita. A enfermeira disse que à noite abriria mais um, e que eu podia vir visitá-la novamente, pois como ela já havia mencionado, Kate só podia receber uma visita por dia, e eu era o único que podia estar com ela naquele momento.
Fui para casa com um peso enorme nas costas, e com muitas dúvidas na cabeça.
Kate viu o beijo? O que será que aconteceu pra ela desmaiar daquela maneira? O que eu faria agora? Estávamos a 200km de casa, seus pais iriam me matar, aliás, todo mundo iria me matar.
Mas minha cabeça teimou em lembrar daquele sorriso que ela deu ao saber que seu sonho era ser médica. Puxa! Que sorriso mais lindo. Era o mais bonito que eu havia visto em toda a minha vida.
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O irmão da minha melhor amiga 2
Teen FictionDepois de quase 6 anos, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Uma filha e muitas descobertas. Novas paixões, novas surpresas; novos sentimentos. A baixinha marrenta que achava que a vida adulta era mais fácil; descobriu que estava errada... Não é...