Giz de cera

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Por tudo estar como uma tela em branco, toda vez que o horário das visitas se aproximava, eu ficava elétrica.

— Será que vem alguém hoje? — perguntei para Glória.

— Sim, vem sim. Ainda mais você que tem um monte de parentes... — ela disse, enquanto rabiscava alguma coisa no meu prontuário.

— Eu estou melhorando, Glória? — me estiquei para ver o que ela estava anotando.

— Bom, pelo que eu vejo aqui você não  está se alimentando direito, quer me dar alguma explicação? — ela olhou para mim, colocando uma das mãos encostada na cintura.

— Só não estou com fome. — dei de ombros. Não era um mentira completa, mas a verdade toda era que meu estômago estava revirado por causa do beijo que eu havia visto.

— Ah, não tá com fome? Bem, eu vou te dar duas opções: na primeira você come por opção, na segunda eu enfio uma sonda dentro do seu nariz que vai até seu estômago e doi muito. — Glória não era muito boa com o jogo da paciência, e eu gostava disso nela.

— Muito?

— É o que dizem.

— Tudo bem, eu vou me alimentar direito.

— Foi o que eu pensei. — ela respirou, vencedora, e saiu do quarto em seguida.

Alguns minutos depois uma menina estranha entrou no meu quarto. Tinha óculos escuros, o cabelo colorido e roupas bem estranhas.

— Fala aí, maninha! Como que tá a cabeça? — ela perguntou, se afundando no sofá com uma revista de moda nas mãos.

Pesquei algumas vezes, imóvel, tentando entender se eu tinha saído do mesmo lugar que aquela menina, ou na verdade, uma de nós era adotada.

— Tá tudo em ordem.

— Ah, que bom. — ela mal olhou pra mim — Sabe, a mamãe mandou eu te visitar, mas pode fingir que eu nem tô aqui.

— Quem é voce?

— Como assim quem s... Ah, você tá com a cabeça ferrada, né? — ela se levantou então, e veio até mim — Eu sou a Mel, sua irmã mais nova. Uma das, ainda tem a Laura.

— Então, Mel, pelo que eu vivi até agora nesse hospital, o intuito de se visitar um paciente é conversar com ele. — falei, ela levantou a sobrancelha, parecendo estar contrariada.

— Tá, entendi. Bom, temos muita fofoca atrasada...

Pelas próximas duas horas, a menina desatou a falar igual uma maluca, não me dando espaço nem pra respirar. Glória havia trazido uma gelatina pra o desjejum, mas Mel tomou das mãos dela, enfiando quase tudo na boca, o que deixou ela muito irritada. Pude ouvir ela resmungar um "eu não sou bem paga o suficiente" antes de sair do quarto.

Felizmente, ela voltou 30 segundos depois, expulsando a garota do quarto, com todo o meu humor do mundo.

— O horário das visitas acabou — ela cuspiu.

— Que seja! Até mais maninha — ela acenou.

— Até! — acenei e ela saiu — Te pago 50 reais se me salvar cada vez que ela vier aqui — falei pegando o dinheiro.

— Fechado — ela sorriu e enfiou o dinheiro no sutiã.

— E o Dr. Benjamin? — perguntei ao notar que ele não veio me salvar.

— Ih, a emergência tá um caos! Parece que teve um acidente em um barco e todos os residentes, internos e essas coisas e tal, foram chamados — ela falou rabiscando a minha ficha.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora