Alissom
Eu estava deitado no sofá, o clima já começava a ficar quente, a primavera já estava indo embora, o momento perfeito para ter aquela vista que eu estava tendo da sala: Kate e Duda cozinhando.
Era um momento bem raro, pois Kate não tinha paciência pra cozinhar, muito menos com Duda ali do lado, com aqueles dedos curiosos tão perto das facas.
— Por que está me olhando? — ela perguntou, desconfiada.
— Estou analisando se você ainda lembra das técnicas que eu te ensinei. — falei, ela sorriu.
— Técnicas? A única técnica que você me ensinou, foi a de esquecer onde coloquei a chave do carro.
— Que mentira!
— E onde está a chave do seu carro? — ela cruzou os braços, eu não fazia ideia.
— Tá em algum lugar, num raio de trinta metros.
Ela riu.— Papai, quem te ensinou a cozinhar? — Duda perguntou, se atirando em meu colo.
— Minha mãe. — sorri — Quando eu tinha a sua idade ela me pegou no colo e disse: "aprender a cozinhar é a melhor coisa para conquistar uma mulher". — toquei a ponta de seu nariz, vi Kate levantar a sobrancelha.
— Então foi assim que você conquistou a mamãe? — ela quis saber.
— Digamos que sua mãe seja uma pessoa difícil de lidar. — Kate olhou para mim.
— Digamos que o seu pai seja um boboca, que aliás, vai ficar sem janta. — ela gritou.
— Não acredito que minha futura esposa vai me deixar passar fome.
— A sua futura esposa vai quebrar os seus dentinhos. — ela mostrou a língua — E eu lembro muito bem o que sua mãe falou sobre isso, e foi: "aprenda a cozinhar agora, para depois não passar fome quando morar sozinho".
Kate estava certa, e ela disse exatamente isso. Ainda me lembro o jeito que ela me ensinou a fazer comida naquele dia, me lembro de seu perfume e de todas as palavras que usou, infelizmente, após sua morte, nunca mais tive coragem para fazer o prato que ela me ensinara naquele momento tão doce.
Algumas noites ainda sonho com o acidente dela, Kate sempre me desperta em meio aos meus berros alucinados. Então ela me abraça forte e deita comigo até eu adormecer, acariciando meus cabelos e segurando a minha mão.
São esses momentos que eu tenho absoluta certeza de que casar com ela, é realmente o que eu quero.
— Você já pensou que a Terra pode ter formato de pizza? — ela me despertou de meu devaneio.
— Da onde você tira essas coisas?
— Da minha cabeça. — ela enfiou duas batatas recém fritas na boca.
— Se você ficar comendo as batatas, não vai sobrar pra ninguém. — avisei, Kate sempre fazia isso.
— Estou só experimentando pra ver se não estão envenenadas. — e enfiou mais uma na boca — Essa aqui não está.
— Mamãe, o papai disse que você não escolheu seu vestido ainda. Por quê? — Duda pegou uma batatinha, as duas iriam acabar com tudo antes do jantar.
— Eu ainda não encontrei o vestido perfeito. — ela deu de ombros, eu sabia que estava chateada.
O casamento seria em um mês, o tempo tinha passado muito depressa. Kate havia visitado todas as lojas da cidade, mas algo que ela queria em seu vestido, o fazia tão difícil de se achar.
— Eu acho que isso é uma desculpa pra não casar comigo. — falei.
— Droga! Descobriu minha estratégia. — Kate bateu a mão na testa.
— Você não vai conseguir fugir de mim, nunca. Eu vou encher o seu saco pro resto da vida, me aguente.
— Só se a Duda me ajudar. O que me diz, Duda? Vai me ajudar a aguentar esse homem chato? — Kate colocou as mãos no joelho para ficar no tamanho de Duda.
— O papai não é chato.
— Viu, Kate? O papai não é chato. — repeti.
— Espere até você arranjar um namorado. — Kate resmungou.
— Haha, Duda só vai namorar com quarenta anos! — retruquei.
Kate e Duda começaram a dar risadas, era uma bela imagem. Exceto pelo fato de que a casa estava totalmente cheia de caixas, quase tudo estava pronto para a grande mudança que seria daqui a alguns dias, estávamos ansiosos demais e perdíamos tempo falando sobre as expectativas, por isso nem tudo estava empacotado ainda.
Mas eu sabia que Kate, depois de ficar comigo até eu adormecer após os pesadelos, ela perdia o sono e empacotado algumas coisas até o dia clarear, por isso seus olhos andavam tão inchados e vermelhos.
Ela estava se esforçando ao máximo para disfarçar seu cansaço, mas com o casamento próximo e toda aquela pressão da mãe, seu cérebro estava sobrecarregado.Tenho certeza de que ela deitava a cabeça no travesseiro pensando no que iria fazer no dia seguinte, e com isso perdia o sono. Os preparativos com o casamento e a com a mudança eram muito trabalhosos, e como ela era teimosa, queria fazer o trabalho mais pesado e difícil, apenas para provar para a mãe que era uma pessoa forte e capaz.
Mas quem não sabia disso? Ela amadureceu mais rápido que os irmãos, e quase nunca permitia que alguém chegasse perto para ver suas fraquezas. Eu fui um dos sortudos que conseguiu, e dou graças por isso, pois ela me deu todo o seu amor, me ensinando que aquele sentimento era o maior transformador de pessoas do mundo.
Mal podia esperar para ver Kate usando o vestido branco, entrando por aquela porta e dizendo sim. Ela seria minha, finalmente, e eu poderia reconquista-la todos os dias, e acordaria com seu rosto todos os dias, e também, não teria que dormir no quarto de hóspedes, pois ela seria minha mulher, e eu poderia tê-la, finalmente.
Seríamos um do outro para sempre. Nós e a nossa família. Meu sonho se tornando realidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O irmão da minha melhor amiga 2
Teen FictionDepois de quase 6 anos, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Uma filha e muitas descobertas. Novas paixões, novas surpresas; novos sentimentos. A baixinha marrenta que achava que a vida adulta era mais fácil; descobriu que estava errada... Não é...