Assopre as velas

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Cruze os dedos, faça um pedido e assopre as velas.

Talvez, não tivesse sido uma boa ideia deixar uma criança de um ano assoprar velas. Duda babou o bolo inteiro e ainda afundou suas fofas mãos no merengue rosa.

Alisson estava do meu lado segurando as mãos dela agora, para não sujar o vestido vermelho que ela usava.
Suas bochechas estavam coradas e tinha glacê no nariz dele.
Não sabia se ria, ou lamentava por ninguém poder comer o bolo babado e destruído pelas mãos fofas.

Eu escolhi observar Duda, cada risada gostosa que ela dava por causa do bolo em suas mãos. Não me importei mais com as pessoas, o que importava era aquela pequenina se divertir. Além do mais, o bolo era dela.

Aí tivemos que trocar sua roupa, obviamente, e colocamos algo mais leve. Duda odiava o fato de usar vestidos e os levantava até cobrir seu rosto, era uma boa característica.
Ela já tinha um ano agora, e tinha 3 dentinhos e meio.

Ela ainda não formava frases completas e não andava totalmente sozinha. As únicas coisas que ela sabia falar eram:
Mãmã, Ren(ela chama o Henri assim) e piticuca (é pizza).

Alissom passava o dia todo tentando ensinar a ela como falar "papai", mas ela logo se distraia e começava dizer piticuca bem alto. Não era bem o que ele esperava, mas como ele estava passando por um processo de procurar emprego, tempo com ela era o que ele menos tinha.

Agora, com uma roupa mais leve, ela estava sentada perto do braço do sofá, pois era a parte do sofá que ajudava ela a ficar de pé. Imagine, minha pequena bebê já queria dar os seus primeiros passos sozinha.

...

Eu sentia uma dor cada vez que ela fazia algo diferente. Uma dor que toda mãe sente... não é ruim nem boa; é só uma dor que te deixa feliz e vazia ao mesmo tempo.

Porque você sabe que um dia ela vai crescer, vai cair da bicicleta, vai ter outras amigas além de você, os assuntos de vocês não vão ser os mesmos. Você não vai mais comprar as roupas dela e de repente ela te acha careta e não te conta mais nada e tem vergonha de você buscar ela na escola.

Aí ela se apaixona e tem sua primeira decepção, algum menino quebra seu coração e ela começa uma busca pela perfeição incansável... Eu sei que ela acabou de fazer seis anos, mas é uma preocupação que todas as mães tem com seus filhos... só queremos o bem deles e queremos participar de todos os momentos pra poder ajudar quando tudo der errado.

Sentir que daqui uns anos minha filha não iria me perguntar se amarelo e marrom combinam, ou se hoje era o dia de lavar o cabelo, ou trocar os brincos delicados por enormes argolas, ou ver que ela prefere o conselho das amigas — que a propósito não sabem nada sobre a vida — do que os meus conselhos, vai ser difícil.

E naquele momento estava sendo difícil pensar na minha vida antes da Duda, porque simplesmente nao existia um dia se quer que eu não tivesse Duda nela. Ouso dizer que minha vida começou quando ela chegou, chorando e babando por todos os meus móveis.

Com aquele gênio forte, com aqueles sorrisos e risadas sinistras. Com sua transparência e delicadeza, com seu cheirinho de neném e seus olhos atentos a tudo.

Talvez por isso estivesse doendo tanto, por eu ter me apegado ao ponto de não imaginar minha vida sem ela. Talvez porque eu me tornei tão dependente dela, que não conseguia respirar longe dela.

...

— Mãe! Oh manhêêê! — Duda gritou estridente da escada.

— O que foi? — desci correndo.

— Não tô achando minha busa veide — ela cruzou os braços e fez bico.

Como meu coração poderia resistir aos olhos tristes causados por uma maldita blusa verde?

— Ah meu amor, vamos procurar comigo — peguei ela pela mão e a levei até o quarto.

Tirei as roupas do lugar e vasculhei cada canto do armário, não estava em lugar nenhum.

— Viu mãe, não tá aí minha busa veide — ela disse com a voz chorosa.

Meu coração se derreteu e peguei ela no colo.

— Nós vamos achar, e se não acharmos eu compro uma blusa verde igual àquela.

É uma das características mais fortes das mães, elas querem a todo custo dar tudo o que puderem aos filhos, mesmo que algumas exagerem... tipo eu!

Mas como eu poderia deixar a minha menininha de dois anos e meio sem sua blusa verde? Com aqueles cabelos bagunçados e de macacão azul, fazendo bico e me olhando com decepção, não haveria ser humano que resistiria a isso.

...

Mesmo com alguma dificuldade, eu tentava suprir tudo o que Duda precisava (sem exageros), tentei dar a ela todo o amor que eu tinha e o que eu não tinha.
Ver ela feliz era tudo o que eu mais queria. Eu não tinha nenhum objetivo, só ver e fazer ela feliz e se não fosse pedir muito, participar dela também.

...

— O que aconteceu? — falei ao ver Duda nos braços de Vitória.

— Ela caiu da bicicleta e ralou os joelhos.

Duda não estava berrando, nem chorando, mas eu estava em pânico e furiosa.

— COMO DEIXOU ELA CAIR? — eu gritei.

— Eu estava ocupada cuidando do meu filho, sabe?

— Então quer dizer que a minha filha não é prioridade?

Tentei me acalmar e contei até dez... até vinte... até cem.

Me acalmei e peguei ela no colo e a abracei forte. Naquele momento, estava passando um filme na minha cabeça, pois dali em diante eu jurei a mim mesma que sempre protegeria ela onde quer que fosse, onde quer que ela estivesse.

...

Talvez eu tenha falhado. Talvez eu não tenha cumprido minha promessa de protegê-la. Talvez eu seja uma péssima mãe.
Talvez seja um sonho ruim? Não?

Meu peito estava em chamas. O que estaria acontecendo com ela? Será que ela comeu? Será que não vai ter uma crise de asma? Será que ela está com medo? Será que estava com frio?
Me consumia em perguntas e nenhuma tinha resposta.

Nenhuma delas.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora