Hora certa

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Minha mãe abriu a porta do meu quarto, berrando. Aposto que os vizinhos do primeiro andar escutaram... enfim, minha mãe, não é?

A raiva em seu olhar me causou um arrepio e meus olhos se estreitaram para seu rosto inchado e vermelho. Okay, minha mãe sabia...

— Como? Por que levaram a minha neta? — ela falou, com certa mágoa na voz.

Respirei fundo, estava abraçada nos meus joelhos entre os lençóis bagunçados, olhando a janela e relembrando cada palavra do perfeito plano daquele crápula.

Expliquei a ela, com a riqueza de detalhes que meu cérebro armazenou, algo completamente traumático e incômodo. Suas expressões intercalavam, de horrorizada para: Completamente Doida Para Matar Uma Pessoa.

A dor gritando no peito quando terminei de contar, foi algo inexplicável, junto com a vontade imensa de socar alguma coisa.
Esperei o discurso dela, onde se entravam coisas como por exemplo: " Como você deixou ele entrar na sua vida assim tão fácil?", " Por que não impediu que ele a levasse?", " Como não viu que ele havia entrado?". Mas tudo o que a minha mãe fez, foi me abraçar.

Ela me abraçou forte e me colocou em seu colo, como fazia quando eu era pequena. Acariciando meus cabelos, ela começou a dizer:

— Quando você tinha quatro anos de idade, eu levei você no supermercado para fazer as compras do mês. Você nunca gostou de andar de mãos dadas, então você corria na minha frente; sempre! — ela começou — Então você entrou em um corredor enquanto eu olhava os preços do arroz, depois de olhar fui ao seu encontro no corredor onde você tinha se metido, — ela parou e me olhou — e você não estava lá. Meu coração saiu pela boca, comecei a te procurar em todos os corredores e nada de você aparecer... Naquele momento me senti a pior mãe do mundo, afinal, quem perdia a própria filha no supermercado?

— Então... Eu já perdi a Duda umas três ou quatro vezes... — falei, vendo um belo sorriso se formar em seu rosto.

— A questão é que, eu não fiquei sentada chorando e esperando você me achar... Eu me levantei e procurei você, pedi ajuda para todo mundo e te encontrei dentro de um tanque de travesseiros, toda feliz e contente como se nada tivesse acontecido — ela levantou meus ombros — Então por que você está aí sentada, chorando se a sua pequena está em algum lugar aí fora? — ela concluiu.

Ponderei a situação por mais ou menos cinco segundos antes de perguntar por onde eu deveria começar, mas com certeza minha mãe iria me dar um chute na cabeça se eu perguntasse isso ao invés de me levantar e agradecer seu sábio conselho.

Me indireitei e abracei ela com força, agradecendo a ajuda. Minha mãe podia ter todos os defeitos do mundo, mas quando se tratava dos filhos e da neta dela, ela era melhor pessoa pra ajudar.
Comecei a maquinar coisas na cabeça, algo maluco, mas que poderia dar certo.

Por pouco não tropecei no tapete da escada, pois desci cheia de esperança e ansiedade e encontrei aqueles olhos brilhantes me encarando.

— Foi você que ligou pra ela, não foi?— falei, pegando a caneca de suas mãos.

— Não tem provas contra a minha pessoa — ele disse, em um tom divertido e desafiador. Eu adorava quando fazia isso.

— Temos que procurar a polícia. — disparei, assim que dei um gole no café.

— Mas e o que o Caio falou?

— Cara, meu nome é Kate, prazer. Eu não tô nem aí para o que ele disse, eu nunca segui porcaria de regra nenhuma e não vai ser agora que vou obedecer! — meu tom de voz saiu um pouco grosseiro, mas que se dane ele teria que entender.

— Ah, isso eu concordo! Ela nunca respeitou nenhuma regra, deve ser por isso que foi expulsa do internato, não é mesmo? — minha mãe gritou, descendo as escadas.

— Tá, então qual seu plano? — Alissom segurou minha mão.

— É uma coisa bem maluca.

— Se não fosse maluca, não seria você. — ele afirmou beijando minha mão.

Nossos olhos se vidraram um no outro e tenho certeza que meu coração errou uma batida, pois começou a pulsar como nunca. Mas era fato, isso acontecia todas as vezes que Alissom me olhava daquela maneira, o que eu podia fazer? Passei tanto tempo longe dele, tantos desencontros, tantas palavras por falar... quando ele me olhava daquela maneira, meu mundo parava e eu sentia as bochechas queimarem.

— Então, — minha mãe limpou a garganta, me despertando do devaneio — por onde começamos?

Sorri, pois eu tinha um plano! Eu era a mocinha esperta de todo filme que sempre tem a ideia certa, na hora certa!

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora