Adultos

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Uma vez eu estava sentada lendo um livro aleatório, eram mais ou menos cinco horas da manhã. Eu estava de boas atirada no sofá pensando na vida e lendo.
Aí o universo quis me bagunçar e me apresentou a seguinte frase:

"Você percebe que cresceu quando você mais chora do que sorri."

Pronto, fechou. A partir dali eu decidi que eu era uma adulta. Porém mal sabia eu que ser adulta não era apenas aquilo e depois disso eu resolvi que queria morar sozinha.

Entre fatos e acontecimentos sorri muito, e também chorei muito. Então eu constatei algo... ser adulto é saber sofrer em silêncio por medo de que os outros saibam que você tem problemas. É ser uma pessoa fria, dura e falsa. Mas...Será? Será que é só isso?

— No que você está pensando? — ele perguntou me fazendo cafuné.

Estávamos deitados no sofá. Eram umas onze horas.

— Nada... —  falei olhando para ele.

— Mas eu não sei nadar.

—  Que? Meu Deus, cala boca — gargalhei

— Adoro seu sorriso, principalmente quando ele está colado no meu.

Sorrir foi a única coisa que eu pude fazer... e também beija-lo.

— Você vai dormir aqui? — perguntei.

— Olha, eu passei meia hora na casa da Agnes e... bem ela e o Gabriel são um pouco... como eu posso dizer... me causam diabetes.

— Devo me preocupar? — perguntei.

—  Não.

Ele tirou uma mecha do meu cabelo do rosto e sorriu.

— Por que você está me olhando assim?

— Assim como? —  ele falou trilhando beijos pelo meu rosto.

— Assim com esses olhos... com esse sorriso de canto — falei acariciando seu rosto.

— Eu gosto de te olhar —  ele me beijou de leve —  A propósito, quantos filhos você quer mesmo?

— Doze! — falei sorrindo.

— Mano, meu Deus! Deveriam cobrar uma multa se tu tivesse mais de cinco  filhos.

— Aí credo!

— Tá, eu aceito.

—  Aceita o que?

—  Aceito ter doze filhos com você! — ele levantou a sobrancelha.

— Não me lembro de ter te convidado.

Ele começou a rir e suspirou.

— Por que você tá rindo?

— Porque você acha que pode se livrar de mim, e isso é engraçado — ele chegou mais perto.

— Mas eu posso — ele me beijou — se eu quiser — me beijou de novo — eu consigo — e de novo.

Por fim me rendi aos seus beijos.
Beija-lo era como parar o mundo, era como viajar no tempo, era como sentir saudades do beijo antes dele acabar. Beijos não deveriam acabar.

— Eu te amo — sussurrei.

— Eu também te amo — ele disse sorrindo.

De repente ouvimos barulho, era Vitória.

— Sempre estragando os momentos — ele falou baixinho se ajeitando no sofá.

— Ai. Meu. Deus. Vocês dois no mesmo local sem se matar... Gente tô passada! — ela disse olhando para nós dois.

— Eu tentei matar ela, mas descobri que ela é um vampiro.

— Vampiro é o soco que eu vou te dar se tu continuar com essa palhaçada — falei fingindo estar brava.

— Ata, está tudo normal por aqui — ela largou a bolsa e subiu.

Eu e ele nos olhamos e ele sorriu e chegou perto.

— Se eu ficar mais do que cinco minutos longe de você de novo...

— Estou perto agora, o que vai fazer?

Ele sorriu. Ah, aquele sorriso dele.

— Temos que ter cuidado — falei entre o beijo.

— Não me peça para ter cuidado. Eu estou perto da menina mais desastrada do universo.

— Agora vai me xingar?

— Você quer calar a boca? Passei tempo demais longe de você! — ele disse.

— Onde tá o meu filho? — Vitória gritou.

— No meu bolso ele não tá! — Alissom disse.

— Kate bate nele por mim!

Dei um tapa no braço dele.

— Deu! Me deve comida!

— Você me bateu sua ridícula. Vou te matar — ele falou analisando a marca do tapa no braço.

— Shhhh.

— Tu não faz "shhhh" pra mim. Olha só, me bate e ainda quer que eu fique quieto... palhaçada! Vou até embora.

— Vai então. Vai rainha do drama, vai lá pegar diabetes na casa da tua irmã.

— Está me ameaçando? — ele disse vindo em minha direção.

Eu estava de pé e fui indo para trás até chegar a cozinha.

— Eu? Imagine, eu sou um anjo.

Ele veio até onde eu estava e eu fechei a porta da cozinha.

— E se a Vitória aparecer? — ele disse.

— Eu só estou na cozinha, procurando comida.

Estar perto dele era bom, muito bom mas não bastava naquele momento estar perto dele. Não bastava só olhar pra ele, falar com ele e saber que ele estava perto, não. Eu precisava toca-lo, beija- lo, sentir a pele dele, sentir o perfume dele invadirem meus pulmões. Era uma coisa nova, sei lá.

— Kate, onde você tá? — Vitória gritou da escada.

Saí da cozinha para encontrá-la e ela estava preocupada.

— O que foi? — perguntei.

— Kate, as crianças não estão no quarto. Não estão em lugar nenhum!

— O que? Não, eles devem estar se escondendo — falei subindo as escadas.

Por vinte segundos eu achei que eles estavam escondidos, mas quando eu abri a porta do quarto foi que eu vi a porta da sacada aberta.
Subiu sangue frio direto pela minha espinha.

Eu sempre deixo a porta da sacada do meu quarto  trancada, sempre. Nunca abro. E a chave está na casa da Agnes.

Caminhei lentamente até a janela que era tampada por cortinas e empurrei a porta.
O sangue ferveu e a raiva me consumiu.

Isso não pode estar acontecendo!

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora